Capítulo 4

4.1K 310 34
                                    

Ayla narrando

Duda pensa que eu não percebo ela caindo de amores pelo caipira, pelo amor de Deus, ela é uma Magalhães, deveria se portar como tal. O pior de tudo é levar um esculacho daquele, do Henrique. Mas ainda sei que ele gosta de mim, afinal todos gostam.

Retorno ao estábulo encontrando Lucas e Bia aos risos, os dois já se conheciam bem antes de eu entrar pra turma e assumir a liderança. Sempre foram muito amigos, pra ser sincera eu confio muito neles, mas não gosto muito da intimidades entre os dois. Os risos cessam quando chego, passei pelos inúmeros cavalos indo direto para minha paixão; A princesa. Eu sempre amei essa égua desde criança, calvagar sempre foi minha paixão. E meu sonho sempre foi participar de uma competição de hipismo, mas meu pai nunca deixou, alegando ser perigoso. Não pude recorrer a mamãe, pois ela concorda com meu pai nesse aspecto.

Passo o resto do meu dia treinando, próximo mês irá ter um grande torneio de hipismo em Goiânia, e já me escrevi. Só me resta saber como irei participar sem que ninguém saiba.

Lucas e Bia já foram, ele daria uma carona pra ela. Não gostei nem um pingo disso, mas não tive alternativa. Continuei treinando, já estava pingando de suor e descido encerrar por hoje, até por que já está escurecendo. Minha princesa já deve está cansada, entrego ela pro Mário para os devidos cuidados.

Tiro minhas luvas de couro e vejo Henrique saindo da minha casa, seu semblante está pensativo. Passa ao meu lado sem ao menos uma palavra, do de ombros, não irei me importar.

- Filha, seu pai está lhe chamando no escritório. - Mamãe diz aparecendo na sala, parando em minha frente.

- O que foi dessa vez mãe?

- Eu não sei querida. -Me puxa para um abraço. - Vá. Estarei aqui se caso precisar da minha ajuda.

Assinto, e saio deixando ela preocupada sentada no sofá apertando ambas as mãos. Acho que minha mãe é uma das poucas pessoas que me importo nessa vida. E pelo seu estado agora posso garantir que a conversa não será boa.

Respiro fundo me preparando psicologicamente, e giro a maçaneta lentamente adentrando no escritório. Meu pai está na sua grande cadeira de couro preta atrás de sua enorme mesa, ele me olha seriamente já me aguardando.

Sento com bastante cautela e sorrio, ele não corresponde continuando com seu olhar frio.

- Me diga o que você fez hoje. - Ele me olhava com seu olhar gélido, eu odeio quando me olha dessa forma.

Sinceramente eu não entendo o que eu fiz, ele me olha como se eu tivesse feito uma atrocidade.

- Eu não sei..

- Você sabe, como tratou Henrique hoje?

- Pai ele não queria celar o cavalo pro Lucas, ele é pago pra isso. - Explico.

- Ele é da família. - disse defendendo o bastardo - Se não quis fazer, é por que trataram ele mal.

Meu pai fechou os olhos se lamentando, então balançou sua cabeça, tentando negar pra si mesmo o que estava acontecendo.

- Ele quer ir embora. - Disse falando calmamente e mantendo seu olhar no meu. - Irá conversar com ele, e faze-lo ficar.

Meus olhos começam a ficar marejados com minha garganta se apertando enquanto eu tentava processar o que ele disse. Eu não irei implorar para aquele caipira ficar, se quero que ele vá embora. Tento me acalmar e ter certeza que jamais faria isso, está fora de cogitação.

Mas no fundo eu sabia que acabaria fazendo.

- Caso contrário, sua égua será vendida.

- Você não faria isso... - Fico incrédula, mas no fundo sabia que ele era capaz.

- Paga pra ver. - Ele me encarava esperando eu me pronunciar, e eu sabia o que ele queria ouvir.

Meu orgulho está despedaçado em mil pedaços, eu não posso me rebaixar dessa maneira. Mas não posso perder minha égua, ela é muito importante pra mim. Sustentamos o olhar por muito tempo antes que eu conseguisse dizer alguma coisa.

- Eu não vou me humilhar. -Digo entre dentes.

Ele permaneceu em silêncio, absorvendo as minhas palavras, tentando compreender o que eu havia acabado de dizer. Podia notar em seu olhar duro uma certa mágoa.

- Aonde eu errei na sua criação? - Se curva na minha direção. - Eu te deserdo, e faço você trabalhar na roça.

Eu não consigo falar absolutamente nada, não conseguia acredita nas suas palavras. Soltei o ar que estava preso em minha garganta, sentindo todo o meu corpo tremer.

Engoli em seco e finalmente conseguir encontrar minha voz.

- Tudo bem, eu irei falar com ele. - Levantei da cadeira completamente atordoada e sai do escritório.

Armadilhas Da VidaWhere stories live. Discover now