Capítulo 34

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Ayla:

Raiva! Esse é o único sentimento que pode descrever o que estou sentindo agora. Eu não acredito que me encontro aqui deitada em um leito ligada a aparelhos. O médico acabou de sair da sala e disse que eu estava bem e eu apenas abrir um sorriso e respondir:

- É óbvio que estaria bem, eu sou Ayla Magalhães querido.

Por mais que me sinta bem, estou muito incomodada com esse negócio cobrindo meus olhos. O médico havia dito que passei por uma cirurgia, e uma série de exames e isso não me agradou, mas pelo menos estou viva.

Meus pais ficam aqui constantemente e até a Duda, e eu ouço mumuros baixinhos deles e cada passo, e quando eles falam a voz não é mais a mesma, agora possui uma certa coisa que pude sentir: Tristeza. O Henrique havia vindo aqui e na hora que vir que era ele já fiquei irritada, provavelmente ele iria rir de mim, já que eu perdi o concurso e ainda estou aqui enquanto a baleia da Sofia está recebendo todo os status.

- Vamos tirar a bandagem dos seus olhos.- Ouvir a voz do médico seguidos de passos, e acredito que entraram mais pessoas atrás dele.

- Que bom. Só não entendo porque a cirurgia foi na cabeça e esse negócio está cobrindo meus olhos. - Digo e o silêncio permanece, é sempre assim quando falo algo, e isso me faz sentir que tem algo errado.

- Com licença. - O médico diz com sua voz um pouco cansada e sinto ele se aproximar de mim. Parece que tudo ao meu redor havia se ampliado, as vozes, o cheiro, era como se cada sensação fosse enorme.

Ele retirava com bastante cuidado e eu não via a hora de me ver livre desse hospital e ir bater na cara da Sofia, aquela vaca não merecia ganhar, ela que devia ter caído do cavalo, e se morresse seria melhor.

- Prontinho...

- Como assim Prontinho? O senhor não vai tirar o resto?- Perguntei irritada, eu ainda não conseguia ver nada, tudo estava escuro. Levei as mãos aos olhos decidida a eu mesma tirar e meu coração acelerou quando eu não sentir nada, não havia nada cobrindo meus olhos.

- Doutor minha filha...ela...- Ouvir mamãe tentar falar batante relutante, sua voz carregava dor.

E eu não conseguia processar o que estava acontecendo.

- Vamos manter a calma. - O médico pedi e sinto aquela mesma sensação de aproximamento. - Estou aqui em sua frente Ayla e vou examinar seus olhos.

Sentir seus dedos frios tocarem minhas pálpebras e abri-las e em seguir, um click pode ser ouvido e algo meio que me incomodou na região dos olhos. O doutor repetiu o mesmo procedimento com meu outro olho e quando ele se afastou pude ouvir um suspiro seu.

- Ayla vou ser bastante sincero com você. Como já explicamos a queda do cavalo ocasionou uma hemorragia, e isso afetou a área dos olhos...

- Doutor seja direto. - Grito já sentindo minha garganta seca.

As lágrimas se aproximavam e o que menos gosto é de chorar na frente dos outros, mas eu estou com medo, com muito medo do que ele possa dizer.

- Ayla se acalme por favor. - Meu pai pedi, sua voz também possui dor.

- Você perdeu a visão Ayla.

Eu rir, quando o médico falou isso eu comecei a rir. Isso não pode estar acontecendo comigo, não comigo. Ele deve está mentindo, todos estão mentindo. Eu já sentia as lágrimas molharem meu rosto e trilhar um caminho por minha pele, meu coração estava se espremendo e eu não posso acreditar, eu não posso acreditar que não verei mais o mundo e a partir de hoje viverei no escuro.

- Filha, meu amor.! - Minha mãe se entrega ao choro e eu grito, grito o mais alto que posso.

Eu gritava e me debatia na cama, eu preciso morrer. Eu não quero viver, tudo era um completo escuro, isso é apavorante. Eu arregalava meus olhos na tentativa falha de deixa-los mais abertos e assim poder enxergar, mas era invam. Ouvia vozes ao meu lados mas eu me recusava a escutar, eu só precisava morrer.

Puxei todos os aparelhos que estavam ligados em mim e não parava de gritar e me debater, eu não posso acreditar, não! Não! Não! Eu, Ayla Magalhães não posso estar cega. Sentir mãos fortes me segurarem mas eu não me importava e continuo meu surto, sinto o gosto doce das minhas lágrimas e era isso, eu só chorava e precisava morrer. Faço uma careta quando sinto uma picada em meu braço direito e segundos depois fico imóvel e meus olhos se fecham e não encontrei nenhuma diferença deles abertos e fechados.

Eu não posso estar cega.

Henrique:

Essa espera me deixa tenso, já se passou meia hora e nada. Duda e Maria também estão nervosas. Ayla definivamente tem que estar bem, eu só quero o melhor pra ela. Se caso ela ficar cega, não sei como vai ser, do jeito que ela é mesquinha é bem capaz de tentar se matar.

- Henrique meu filho, você vai cavar um buraco no chão de tanto rodar. - Maria disse e parei de rodar em círculos.

Encarei a Duda que chorava sentada no sofá, por tudo que a irmã dela fez, ela ainda se importa tanto e se preocupa. Afinal todos nós se preocupamos.

Meu coração acelerou quando o telefone começou a tocar, elas ficaram em alerta e fui rapidamente até o telefone atender.

- Seu Marcelo?

- Henrique a Ayla estar cega. - Sentir meu coração se expremer, isso não pode ser verdade. - O médico foi obrigado a da um calmante pra ela, estava muito agitada.

- Eu estou indo pra ir.- Ele iria protestar. - Seu Marcelo me desculpe, mas eu vou ver a Ayla de qualquer jeito.

- Tudo bem Henrique, é bom que você venha. Vamos ter uma conversa.

- Ja estou indo. - Disse e desliguei o telefone.

- Henrique? - Encarei a Duda que se aproxima receosa.

- A Ayla.....ela perdeu a visão.

- Não!- Ela levou as mãos ao rosto e a Maria a abraçou, me aproximei e ficamos abraçados nos três.

- Minha filha. - Me afastei e observei Maria conversar com a Duda. - Não fique assim. Para tudo tem um proposito nessa vida. Você sabe como sua irmã é, me desculpe mas a Ayla é arrogante. Você lembra quando ela foi denunciada por fazer preconceito com um deficiente visual? Sim, agora é ela nessa situação. Deus sabe o que faz, se aconteceu isso é para sua irmã melhorar de postura...de atitude....

Deixei as duas sozinhas, eu não estava muito bem. Mas como Maria disse, para tudo nessa vida tem um propósito e se isso aconteceu com a Ayla, com certeza estava trilhado no seu caminho.

Entrei no carro e com muita dificuldade conseguir dirigir. Quase batir em outro carro, mas eu tentava me manter concentrado, eu precisava ser forte.

Quando cheguei no hospital vir o seu Marcelo bebendo um copo de água, seu olhar se virou para mim e pude ver seus olhos inchados, ele me abraçou fortemente.

- Meu garoto.

- Cade a dona Flávia?

- Ela passou mal, está em um quarto em observação. - Suspirou e passou a mão no cabelo. Sentou em uma cadeira da recepção e eu sentei ao seu lado.

- Henrique, seu pai está vivo.

Franzi o cenho encarando o seu Marcelo, eu não estava acreditando. Eu tenho um pai? Mas ele.....me disse que ele havia morrido...eu crescir achando que eu vivia de favores em uma casa, eu crescir achando que eu era um orfã. E agora ele me diz que meu pai está vivo?

- E ele estar vindo pra cá.- Completou e abaixou a cabeça.

E eu tentava assimilar tudo o que acabei de ouvir.

Armadilhas Da VidaWhere stories live. Discover now