Capítulo 1

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Pérola

Alguns meses antes

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— Pai, é verdade o que a mãe fala de você?  — Perguntei entre as minhas lambidas no sorvete de casquinhas sabor chocolate. Por pouco não sujo minha camiseta rosa com o logo da minha banda de rock favorita.

— Depende... — Me olhou e sorriu.

— Quais coisas ela fala? E  que coisas , você quer saber? — Arqueou a sobrancelha para mim , enquanto andávamos até um dos bancos da praça.

—  As que ela diz, sobre o senhor "quase me matar" por duas vezes, entre outras maldades.
— Falei baixo e de forma triste.

— Pérola? — O encarei. — Eu fiz coisas nas quais me arrependo muito. — Respirou fundo.  — Eu era novo, imaturo e cabeçudo. — Eu ri dessa parte.  — Filha, você virou a melhor coisa que tenho nessa vida. — Eu sorri,toda boba. — Você é um pedacinho de sua mãe, um pedacinho meu, um pedacinho do nosso amor inconsequente. — Ele sorriu.
— Meu melhor presente, e hoje eu percebo isso... — Me abraçou, e eu esquivei meu braço para não sujá-lo com o meu sorvete, e o meu outro braço o apertou afetuosamente.

— Eu sei que o senhor não faria mal algum a mim... — Ele respirou mais aliviado. — Não mais...  — Sorri, ao nos separarmos. Ele me retribuiu o sorriso e percebi que seus olhos estavam marejados. Suas palavras eram sinceras.

— Eu te amo , Pérola! — Continuou sorrindo, enquanto esfregava seus olhos.

— Eu também amo o senhor, pai!
— Sorri, e continuei a lamber o meu sorvete de casquinha.

Continuamos andando até o banco da praça. Assim que chegamos ,nos sentamos no banco mais próximo de onde estava o meu irmão. Ele havia trago o bolinha para passear. O bolinha era um vira lata muito bagunceiro, e muito querido por nós. Ele foi presente do pai Nícolas . Acredita que o pai dele ,o bolinha primeiro, engravidou a cachorra do vizinho?!Então, assim que a dona descobriu fez aquela confusão. E o pai pegou um dos cachorros e convenceu a mãe a para deixar ficarmos com ele.

— Nico, viu o bolinha? — Eu assenti. — Ele está cada vez mais esperto! —  Sentou-se ao nosso lado no banco. Com o nosso cachorro na coleira azul celeste.

— Miguel, vi sim.Ele além de esperto está cada vez mais lindo e parecido com o pai dele. — Rimos e o meu pai acariciou o pêlo do bolinha.

— Pérola, divide esse sorvete aí?
— Fez aquele olhinho pequeno de pidão , eu ri alto. Na verdade acabamos todos gargalhando muito.

— Miguel, compra lá um pra você e aproveita e me trás um picolé de morango. — Meu pai piscou o olho para o Miguel.

— Só se for agora! —  Levantou-se todo animado. O Miguel pegou o dinheiro com o meu pai, e deixou o bolinha conosco.

— Pérola, sua mãe fala muito de mim?
— Perguntou enquanto olhava o Miguel se afastar.

— Fala! — Sorri ao falar. Um sorriso tímido admito, mais cheio de ironia.

— O que ela fala? —  Perguntou-me cheio de esperanças.

— Que o senhor não é confiável, que não me quis no passado. Que  abandonou ela , enfim...Todas estas coisas que o senhor já sabe de cor e salteado. — Meu pai bufou e revirou os olhos no banco da praça!

— A Fernanda , sendo Fernanda. Como sempre! — Rimos.


Nícolas


Eu sei que há , alguns anos atrás, eu pisei feio na bola. Fui um moleque irresponsável,mais eu mudei.A vida me obrigou a isso! Perder a Fernanda , e custar ganhar o seu perdão me feriu de mais.A Pérola é a única coisa que possuo daquele passado , que nunca mais irei reviver.

Desessete anos se passaram, e hoje estou de volta naquela família que não sei ficar um dia longe. Família Saldanha Sarkozy Garcia e agora a minha família Sarkozy Morais.

Demorei a perceber que o que eu sentia pela Fernanda não era amor. Era posse! Era um sentimento paranóico e doído. Eu cheguei a amá-la de verdade. O tempo que fiquei longe do Brasil ,e passei na Itália, me mostraram isso. Mais aquelas rejeições dela, e a aparição do Erick , me fizeram ficar desiquilibrado e acabei fazendo todas aquelas coisas nas quais me envergonho e me arrependo de mais.

Hoje me sinto um pouco realizado, minha filha me ama e está cada vez mais parecida com a Fernanda. Seus cabelos na infância até que pareciam com os meus ruivos, mais agora ela mantém um cabelo longo igual ao da mãe. Ela havia até pensado em pinta-los de pretos, mais depois de horas a convencendo, ela resolveu que não era necessário. Acreditem que ela me disse: Pai, rockeiros usam cabelos pretos e não laranjas. Isso quando ela estava entrando na puberdade. Hoje conto essas coisas para ela, e ela rir. Como se fosse algo de outro mundo. Como eu amo essa pequena arteira, ela sempre será a minha pequena mesmo que já seja grande para o mundo.

A Pérola em gênio, é uma mistura minha e da Fê. O único medo que tenho em relação a Pérola é ela deixar a história da Fê, a nossa história se repetir. Eu não quero ser avô agora. E eu não saberia lidar tão bem como o Sidney lidou. Mais quase me esqueço que por pouco e a minha cara que ele quebra de ódio. Ufa, consegui fugir da irá daquele Saldanha raivoso.Será que saberei lidar com aqueles moleques inconsequentes que irão se aproveitar da minha pequena? Ela será sempre a minha pequena, o meu pedacinho mais amado.

— Pai, o que foi?  — Me olhou com espanto , enquanto brincava com o bolinha. — Tá me olhando com uma cara.Bufou e revirou os olhos.

— Nada filha! — Sorri, com os olhos marejados.  — Eu só não estou preparado para te perder para qualquer um. — Confessei,um pouco envergonhado.

—  Ah ,pai. — Gargalhou. — Até o senhor com esse papo! —  Revirou os olhos,mais uma vez e eu ri.

— Pérola, a mãe ligou . Pediu para irmos. O almoço já está pronto!
— Falou o Miguel enquanto aproximava de nós.

— Então vamos!  — Falei já me colocando de pé.

— Nico, a tia vai? —  Falou todo empolgado em relação a minha esposa maluca.

—  Vai sim. — Ele sorriu. — Ela ficou de nos encontrar na sua casa. — O Miguel assentiu todo sorridente, e nos seguimos para a casa da Fernanda.

 Um Pedacinho de nós Dois ✔Where stories live. Discover now