Capítulo 17

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Pérola



Assim que entramos em casa fui recepcionada  por um abraço forte e desesperado da minha tia Gisele.Em seguida, pelo meu pai Nícolas ,mais uma vez, já  que ele havia ido com a minha mãe me buscar. Minha mãe  havia nos dito que meu pai havia ido resolver algumas papeladas do enterro. Respirei fundo,assim que me desprendi de todos os braços  acolhedores e repletos de carinho e subi as escadas até  o meu quarto. Deitei-me ma cama e sorri lembrando do Luan e de como eu me sentia bem, apenas por está  ao seu lado.

— Pérola! — Chamou-me,meu pai Nícolas ,dando em seguida duas batidas de leve na porta. — Logo ele a abriu,e se encostou na batente da porta. Olhou-me ,e sorriu levemente. — Você  está  bem? — Eu assenti e me sentei na cama. Ele aproximou-se de mim e sentou-se ao meu lado. — Se precisar de qualquer  coisa, me diga. Me ligue, ligue pra Gi. — Ele respirou fundo e passou a mão  sobre seu rosto.— Eu sei que estamos em um momento complicado e inesperado. Ninguém  prévia  nada disso. — Eu assenti e senti uma lágrima  rolar em meu rosto. — Filha,nunca se esqueça  que eu te amo ,tá? — Eu assenti e o abracei forte.

— Eu também  te amo! — Sussurrei.  Senti seus lábios  tocarem minha testa.

— Eu já  vou indo. — Me disse,após  me apertar em seu peito.

— Cuida da tia por mim.— Pedi e ele assentiu. — Pode deixar. — Nos soltamos e ele levantou e se foi. Respirei fundo e olhei o painel de fotos que havia no meu quarto.  Fotos da minha Família,fotos dos meus pais,do Miguel,do meu avô e da Vó  Marina. Senti  um aperto ,ao me lembrar dele. Por saber  que ele ,nesse momento está  sofrendo muito mais que eu.  Coloquei-me de pé  e segui até   o corredor. Passei pela porta do quarto do Miguel eu o vi, sentado em sua cama. Ele me viu,e veio atrás  de mim.

— Não  tá  pensando em sumir de novo,não é?  — Questionou-me ,intrigado com a minha pressa.

— Vou atrás  do vô? — Ele olhou para baixo,vi o quanto ele sofria. Dividimos o mesmo sangue,nas veias,os mesmo pais,o mesmo amor ,mais não  dividimos  as mesmas emoções. Eu sou explosiva,esbravejo minhas emoções,choro se for o caso, grito se precisar desabafar,mais o Miguel não. O miguel e calado,observador,fechado na dele, enquanto eu sentia a dor,ele a sufocou dentro de si. Ele aguentou firme,e não  desmoronou. Ele se mostrou forte o tempo todo. Tenho que admitir, ele é um grande homem no corpo de um adolescente irritante.

— O Vô foi para casa!  — Afirmou-me e logo encostou-se na parede do corredor. — Ele foi tomar um banho.— Me disse baixo. — Ainda teremos um velório para ir. — Miguel. — O chamri e ele olhou-me. — Eu vou ficar bem.  — O afirmei. — Nos vamos ficar bem.  — O afirmei e me aproximei dele para abraça-lo, mais ele recuou e voltou para o seu quarto. Continuei indo em direção  a saída  da casa, cheguei no quintal  e peguei minha bicicleta vermelha e segui até  a casa do vô. 

Rapidamente cheguei,deixei a bicicleta na entrada e abri a porta sem muita dificuldade. A fechei e subi as escadas,  comecei a vasculhar os quartos,minha mãe havia me falado que passou sua vida toda nessa casa.Foi aqui que eu também passei boa parte da minha infância.Assim que cheguei a porta do quarto do meu avô ,consigui  vê-lo pela porta entre aberta. Ele estava sentado na poltrona bem á frente de sua cama.Ele permanecia pensativo  e  algumas lágrimas  percorriam  seu rosto.

—  Vô! — O chamei ,ele virou-se  ,e me olhou de  forma serena e forçou um sorriso.

— Vejo que já ,á ,encontraram.
— Me disse aliviado por me ver.

— Posso entrar? —  Ele assentiu,e eu logo entrei. Puxei uma das cadeiras que havia ali, para perto de mim.Me  sentei ,ao seu lado.

—Eu olho para essa casa.
— Murmurou quebrando nosso pequeno silêncio.— Essa cama vazia ,mais uma vez. — Confessou-me. — Lembro-me de tantas coisas. 
—Olho para o meu avô e percebo o quanto tocar naquele assunto o deixa emocionado,e ao mesmo tempo  triste. — Lembro-me do meu casamento com a Deise.
— Meu avô abre um leve sorriso ao falar da minha vó, já falecida mesmo antes deu nascer. — Ela estava linda ,e a Fernanda estava muito semelhante a ela na noite em que se casou com o Erick.  —Afirmou-me ,e eu sorri.
— Nosso casamento foi mais simples do que o meu com a Marina ,porém ela estava deslumbrante tanto quanto ela. Enquanto eu vestia o único terno que possuía naquela época das vacas magras. — Ele deixou um sorriso  escapar. —Era um terno simples ,mais a minha Deise não se importou.
  — Ele me olhou. —Ela apenas sorriu de forma graciosa e apaixonada assim que adentrou aquela pequena capela no interior da cidade. — Ele ri,mais uma vez. —Minha doce Deise.
—Suspira. — Suas  lágrimas começam a  pecorrer o seu rosto,enquanto meus olhos ficam marejados. — Vivemos anos tão bons ao lado um do outro .Passamos também dias muitos difíceis e tempestuosos,mais acima de tudo ,o nosso amor sempre foi mais forte!  — Afirmou - me ,e eu assenti.
— Sabe Pérola,éramos jovens quando resolvemos nos unir.Nos conhecemos em nossa adolescência e depois de alguns anos voltamos a nos encontrar. O nosso amor ressurgiu, e a cada dia foi ficando cada vez mais forte.
— Meu avô fez uma pausa e olhou para baixo para evitar que seu choro alastrasse. — Quando eu  a perdi,senti meu chão desmoronar,mais eu não podia deixar a tristeza tomar conta do meu ser.Eu precisava reagir pela Fernanda que era uma criança na época. Eu vivi esses anos todos só para ela ,me deixei de lado ,esqueci que sou homem e possuo necessidades como qualquer mortal.— Até  aquele instante eu não  tinha dado conta de que aquela perda e a dor que se juntou dentro do seu peito era maior do que eu imaginava.

— Vô... — O chamei e ele me olhou. Logo entendi que era preciso deixá-lo desabafar.

— Eu preciso desabafar. — Logo confirmou minhas suspeitas. Me calei.
— A chegada da Marina na minha vida ,me fez renascer. — Ele sorriu.
— Ela acordou o meu "eu"adormecido. Ela me fez sorrir para a vida ,além do pai da Fê ,ela fez o homem ressurgir em meio as cinzas da tristeza ,deixada pela perda da minha doce Deise. —Me disse.
— Sinceramente,cheguei a duvidar que podíamos dar certo. — Ele sorriu,aquele sorriso amargo.
— No primeiro momento, houve aquela confusão entre nossas filhas.Sabe Pérola...—  Olhou-me.
—A  Gisele e a Fernanda não são fáceis. —  Eu rir e assenti. Não  havia nenhuma Saldanha , Garcia e os Sarkozys que não tinha a sensatez de dizer ao contrário.  — Aquelas meninas possuem gênios fortes e pais tão protetores,como nós erámos. Abriramos  mão por algum tempo do amor que tinhamos um pelo o outro. Graças a Deus tudo se resolveu no final,conseguimos voltar amar com liberdade um ao outro e deixamos aquelas duas arteiras ,se entenderem sozinhas. Oficializamos a nossa união.—Enxuguei minhas lágrimas com o dorso da minha mão. — Por muitos anos eu  me senti o homem mais feliz e realizado de todo o mundo,me senti um adolescente que havia  descoberto novamente o amor pela segunda vez.
— Confessou-me,mais uma vez ,e logo voltou  a focar na cama a sua frente.
— Longe de mim esquecer a vida, e o grande amor que tive pela mãe da Fê,mais ela se foi... Eu não podia me deixar ir junto dela,eu tinha que me forçar a viver. — Eu assenti. — Eu sou privilegiado por ,em uma única vida ,ter encontrado dois grandes amores. — Sorriu. — Duas mulheres completamente diferentes,porém únicas. Que dedicaram suas vidas para torna-las felizes ao meu lado, e eu dediquei todo o meu amor e carinho as duas. — Novamente mais lágrimas percorriam o seu rosto.
— Mais tudo que é bom,um dia tem prazo de validade para acabar,e eu estou aqui novamente ,sozinho e sem as pessoas que mais amei ,as minhas companheiras de todas as horas.
— Sua face voltou a ficar amargurada. — Será que ainda conseguirei viver ?
— Indagou-me e eu não  sabia o que dizer. — Antes eu tinha uma missão,que era criar a sua mãe.—  Fez uma pausa. — Hoje eu não tenho mais nada... — Logo o  interrompi.

— Vô ,o senhor tem sim. — Segurei a sua mão com força. — O senhor precisa lutar ,precisa viver.Viva por nós...Viva por mim...—  Me coloquei de pé e foquei em seus olhos. — Eu não conseguiria ,sabe,sobreviver feliz e bem sem o homem mais protetor que já conheci na vida.O homem que luta por sua família,que briga comigo ás vezes ,que me protege dos meninos abusados da escola. —Ele sorriu.
— Vô,eu te amo tanto. — O abracei forte.

— Eu também te amo,minha netinha tão amada. — Me apertou em seus braços ainda mais forte. — Eu te amo muito... — Susurrou. — Você é um grande pedacinho meu.

— E o senhor é o pedaço mais especial que ganhei da vida. — O afirmei,e juntos nos emocionamos ainda mais. Não  existe  ninguém  no mundo que saiba definir de uma forma conjunta o que é  o amor. Pra mim amor é  um misto de sentimentos.  Aquele amor simples e puro. Delicado e bem delineado. O que faz nosso sorriso se acender , nosso olhar ficar  brilhante,o que faz nosso coração  palpitar. Um nervoso misturado com suor nas mãos. Uma alegria disfarçada  de medo. Medo de perder essa sensação e principalmente  de sofrer por não  senti-la mais, tão  cedo por alguém.  Existe milhões  de pessoas nas nossas vidas, boa parte delas espalhadas por onde vivemos. Mais apenas uma, que faz o mundo girar num sentido diferente. A Marina se foi...Meu avô perdeu essa sensação  de novo e eu? Será que vou conseguir passar a minha vida inteira ao lado de quem me faz feliz? Será  que o amor ,só  é  amor, quando vem disfarçado  de dor?

 Um Pedacinho de nós Dois ✔Where stories live. Discover now