Capítulo 61

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Luan


Depois do almoço, ajudei a dona Fernanda a lavar a louça. Era o mínimo que eu podia fazer,eles me acolheram sem me encher de perguntas. A Pérola foi pro quarto dela,e eu havia pedido ao Miguel para comprar uns dois potes de sorvete. Assim que sequei os pratos e a entreguei, ele chegou com as sacolas.

— Tem um de chocolate, e o outro napolitano. — Colocou os potes sobre a mesa,e tirou da sacola um pote com calda de morango. O Miguel pegou do armário uma taça de vidro e a colher para tirar o sorvete.

— Dona Fernanda posso pegar duas taças? — Ela assentiu. — Eu vou levar sorvete pra Pérola. — Ela sorriu,e ela mesma as pegou pra mim. Coloquei sorvete de chocolate pra ela,e o napolitano pra mim. Os enchi com calda,e na gaveta onde havíamos guardado os talheres peguei duas colheres de sobremesa e segui até as escadas. Subi os degraus com cuidado,e a vi deitada na cama,olhando pro teto. — Te trouxe sorvete. — Ela se sentou e eu a entreguei. Puxei a cadeira da penteadeira dela,e me sentei na sua frente.

— Me dá um pouco do seu? — Eu assenti.A Pérola se esticou,e com a colher dela,pegou um pouco do meu sorvete napolitano. — Esse também é bom.— Eu assenti. — Quer um pouco do meu? — Eu assenti e peguei um pouco. — Eu estava aqui no quarto,tentando guardar cada detalhe. — Ela observava o lugar.
— Vou sentir falta do meu violão e das letras das minhas músicas.

— E por que não as leva com você?
— Ela sorriu,e nossos olhares se encontraram.

— Porque eu não vou ter tempo pra esse sonho bobo. — Murmurou ao tomar outra colherada do sorvete de chocolate.

— Não existe sonho bobo. — A persuadi. — Se você quer muito uma coisa,não pode desistir dela,só porque as coisas não aconteceram ainda.

— Quem sabe,quando eu voltar pra cá com o meu diploma em mãos, eu não volte a sonhar novamente? — Olhou para o violão.

— O leve com você. — Ela negou.
— Não precisa toca-lo. Deixe ele num canto, e quando sentir saudade da menina que você foi,o olhe.

— Eu vou sentir sua falta. — Eu concordei. — Ainda somos amigos,não é?

— Sim,somos. — A amizade era o começo de tudo. Era por ela que poderíamos ,quem sabe,ser o que sonhavamos em ser.



Pérola




Passamos a tarde dentro do quarto. A porta ficou aberta,enquanto ele me ajudava a decidir o que seria bom levar,e o que definitivamente deveria sair da minha vida. Basicamente,fizemos uma faxina no meu quarto. Ele me ajudou a reunir as fotos do meu mural, me ajudou a jogar alguns rascunhos foras.

— "Amor solitário". — Disse ele,ao achar um poema que escrevi pra ele. — É pra mim? — Eu assenti sem jeito. Aquele não era um momento que eu escolheria para que ele soubesse do conteúdo daquelas linhas. — Lê pra mim? — Me entregou o papel desdobrado. Eu o peguei de suas mãos e nos sentamos no tapete do meu quarto.

— Ok.— Respirei fundo e tomei coragem. — O Menino de fios escuros, pele clara,voz doce e personalidade forte essa era a definição de quem era ele pros outros. Sorriso sorrateiro, escondido por trás da tristeza, o brilho se ascende assim que o infinito se sente. Seu amor é solitário, ele sente mais não aprende,que é nos braços dele que o meu mundo se expande. Meus pés se desprendem ao chão, e ao infinito se eleva. Invade o sentimento mais profundo,e se encontra na intensidade do amor que se irradia e pela eletricidade que se expande assim que eu ouço seu nome. Luan. Dois corações solitários, unidos pelo sentimento mais profundo. Se desfazer do que há no coração não é uma opção e nem uma escolha é um destino ,um elo,um magnetismo. Onde você for,levará consigo o meu bem mais precioso. O meu amor solitário. — Elevei meus olhos e o olhei. Ele sorria tímido, bochechas coradas,olhos marejados. Seus olhos buscavam algo no chão, talvez algum foco para se manter longe dos meus. Eu não tinha lido aquelas palavras para ninguém antes. Eu até me havia esquecido dessas palavras. — Não vai me dizer nada? — Ela ficou em silêncio, até que secou as lágrimas que escorriam por seu rosto,e me olhou. Seus olhos brilhavam.

— Eu preciso fazer um coisa antes.
— Levantou-se com pressa. — Não vá embora sem antes me ouvir.
— Pediu-me,enquanto se apressava para chegar na porta.

— Tá, eu te espero. — E ele saiu correndo,desesperado. O que eu havia feito de errado dessa vez?

— Filha porque o Luan saiu daquele jeito? Aconteceu alguma coisa?
— Indagou-me meu pai. Eu dei um levantar de ombros. Eu sabia tanto quanto ele.  — O Leon ligou,disse que não vai poder vim se despedir. O pai dele passou mais foi levado pro pronto socorro.



Luan


Eu saí da casa da Pérola com pressa. Entrei no meu carro e me apressei para liga-lo. Eu precisava resolver uma coisa urgente. No caminho meu telefone tocou. Era meu tio Artur, eu tive que atender.

— Garoto,onde você se meteu dessa vez? — Esbravejou nervoso.

— A Helena te contou que está namorando o garoto que beijou a Pérola?

— Contou. — O tom de voz dele, foi se acalmando. — Isso não te dar o direito de fugir. Vai fugir quantas vezes mais? Não se cresce se esquivando dos problemas, Luan.

— Eu sei. — Concordei. — Tio,eu avisei a Helena onde eu estava.

— É.— Murmurou. — Mais se esqueceu de que eu também sou responsável por você.

—Me desculpe. — Pedi, e era sincero o pedido. — Te prometo que a partir de hoje,eu vou tentar enfrentar meus problemas de frente.

—Cadê o meu menino?— Eu ri.
— Abduziram ele. — Fez graça.

— Tio, obrigado por tudo. Saiba que eu te amo. — O tio calou-se. Na certa já chorava.

—Também te amo garoto. — Finalizei a ligação e estacionei na frente da casa da Dulce. Desci do carro,e corri até a entrada. Eu revirei várias vezes o que eu tinha que falar. Bati na porta e nada. Bati de novo e nada. Até que uma vizinha apareceu. Olhou-me e reconheceu.

— A menina passou mal. A tia dela a levou pro ponto socorro. — Me disse ,e logo voltou a entrar em casa. Eu voltei pro carro, e liguei pro celular dela. A tia dela atendeu.

—A Dulce está bem? — Liguei o carro.

—A pressão dela caiu. Ela não comeu quase nada. Estava preocupada com você.

— Eu tô indo pra aí. Qual posto vocês estão?

— O mais próximo daqui. — Me disse e eu desliguei o celular e o joguei num canto qualquer. Saí com o carro em direção ao endereço que ela me falou. Rapidamente cheguei. Procurei pelo nome dela,na recepção. Ela estava na emergência. Encontrei a tia dela,do lado de fora. Estava impaciente e ficou mais aliviada quando me viu.

— Ela tá bem mesmo? Posso vê-La?
— Me abraçou rapidamente e uma enfermeira se aproximou de nós dois.

— Ela tá bem. Só preciso que esperem um pouco,até o resultado do exame sair. — Nos disse rapidamente, assim que me viu chegar.

— E esse exame é pra que? — Eu estava aflito.

— É de rotina. — Assentimos e ela se foi. Nos sentamos em uma fileira de cadeiras de ferro brancas,com o estofado azul. Mais eu não conseguia ficar sentado,esperando o resultado sair sem antes vê-la.

— Eu posso ficar com ela,lá dentro?
— Pedi a mesma enfermeira que tinha vindo falar conosco. Ela tinha os cabelos presos num coque. Roupas brancas ,alinhadas. Tinha um nome gravado no bolso do jaleco dela.
— Enfermeira Rosa,por favor. — Ela assentiu e me indicou a porta. A abri ,e a encontrei deitada numa maca. Dormia. Tinha um acesso na mão. Pecorria soro  por ele. Ela estava tão pálida. Me sentei ao seu lado e segurei a sua mão.

 Um Pedacinho de nós Dois ✔Donde viven las historias. Descúbrelo ahora