Capítulo 3

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Bem, acho que o Morgado deveria agradecer os pequenos momentos de distração que ofereci para a palestra super chata dele. Não tinha uma alma viva que sobreviveu a essa apresentação - julgo que depois da primeira hora, a alma da Milena já tinha saído do corpo  - que não preferia estar contando as folhas do papel higiênico do que estar naquela sala.

Assim que, finalmente, a reunião acabou e todos saíram desesperadamente antes que o Morgado lembrasse de mais alguma coisa, eu aproveitei para ver a mensagem do Red.

Red: Star Wars ou Harry Potter?

Red: Lembrando que tenho campeonato sábado

Okay. A primeira mensagem era muito importante, com certeza numa hora inoportuna, mas ainda assim importante. Toda sexta a gente costuma assistir alguma coisa juntos. Já tentamos convidar a Loraine para ver com a gente, mas ela não sai muito do quarto.

Já a segunda mensagem, o que dizer? Ele vai nesses campeonatos pelo menos duas a três vezes no mês? Nunca ganhou nenhum. Qual a necessidade de me falar isso?

Eu: Que ótimo *smile face*

Sinceramente, não sei o que dizer.

Eu: Acho que estou no mood de HP3. Traga um japonês.

Red: Serve algum membro da Yakuza?

Eu: Idiota. De comer.

Red: dependendo do tipo de comer que você está falando...

- Anne?

Já estava pronta para xingar o Red, mas Pepa me pega no flagra mexendo no celular. Lanço um sorriso amarelo e deslizo ele para bolsa como se assim pudesse apagar da memória do Pepa o que eu estava fazendo.

Ele apenas faz um sinal com a cabeça para que eu o seguisse. Passamos pela mesa da Ju, que na realidade era um balcão na entrada da agência, e trocamos olhares de desespero. Eu estou encrencada, só posso estar encrencada.

Caminhamos até a sala da diretoria. Ela fica no terceiro e último andar da agência com portas e paredes de vidro que dão uma visão panorâmica da sala.

Pepa tinha um gosto muito peculiar para decoração, bastante minimalista, para ser mais exata. Os poucos objetos que compunham o ambiente eram obras de artes esquisitas, uma de cada continente do mundo.

- Sente-se, Anne.

Ele não pede para as pessoas se sentarem, a não ser que seja algo muito sério. Ele tem uma espécie de lema onde "você poderia estar fazendo algo melhor sentado na sua sala do que na minha". Acho que era algo mais curto. Só sei que eu estou definitivamente ferrada.

Me posiciono na frente da poltrona e sento em câmera lenta, uma tentativa de postergar a bronca.

- Pepa... - tento começar uma desculpa mesmo sem saber ao certo pelo que me desculpar. Talvez pelo Pika-pika na sala de reuniões? Ou o fato de eu chegar atrasada para uma reunião que não existia?

Ele apoia os cotovelos na mesa e tira os óculos. Meu coração dispara. Todo mundo sabe que os óculos do Pepa não são de verdade, quer dizer, eles não tem grau, mas ele nunca os tira. Existe uma lenda envolta desses óculos que ainda não descobri.

- Que raios esse cara está fazendo aqui?

Olho instintivamente para trás achando que ele estava se referindo a alguém atrás da parede de vidro. Ninguém. Volto para o Pepa e ele continua encarando o nada enquanto fala.

- Devotei anos da minha existência para essa agência. E eles acham que podem colocar um... bebê que ainda cheira a leite no meu lugar?!

Fico meio sem chão. Eu não estou ferrada, nem um pouquinho. Não tem nada a ver com meu atraso, nada a ver com o Pika-pika. Pepa está fulo da vida com o MORGADO.

Eu Escolho VocêWhere stories live. Discover now