Capítulo 6

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Eu não estou bêbada. Só estou alegre. 

Os dois litros me deixaram um pouco afetada, mas ainda consigo andar bem em linha reta. Estranho será encontrar o Red assim. Ele nunca bebeu na vida, tipo, nunca! Então, sempre que estou com ele, eu não bebo, porque, né. Li uma reportagem um vez que dizia que a ciência comprovou que você se sente menos bêbado com outros bêbados por perto. Então, beber do lado do Red é como se eu me sentisse o Zé Pinguço.

Decido pegar um Ubber ao invés de enfrentar o metro. Sei que vou pegar um trânsito horrível, mas prefiro o conforto de um banco de couro e a certeza de chegar em casa, do que acabar na Pavuna, porque peguei o metro da linha errada. Eu já disse que não estou bêbada?

Chegando em casa, antes do carro parar, vejo o Red parado na frente do meu prédio com uma sacola que reconheço como comida. A cerveja não caiu muito bem no meu estômago vazio e ela está implorando por um pedaço de qualquer coisa. Nas mãos, ele segura com força o 3DS, um videogame portátil, nem preciso dizer o que ele está jogando. Seus olhos quase não piscam e seu rosto transborda concentração. Não sei como ele não tem medo de usar um troço desse na rua, na tijuca, no Rio de Janeiro!

Agradeço o motorista e saio do carro.

- Olá, olá, olá! - falo de um jeito meio RuPaul. Isso a drag queen daquele reality show. - Comiiidaaa! - vou em direção a sacola querendo arrancar do braço dele.

- Calma, Anne. Meu Ferrothorn vai destruir esse Crobat idiota! Você está cheirando cerveja?

- Você está jogando o seu jogo? - falo com a mesma indignação que ele usou para falar da minha cerveja. 

- Não - ele fecha o videogame - vamos subir!

- Por favor, a última coisa que posso fazer nesse momento é brigar com o provedor da minha comida.

- Pensei que você queria a minha companhia?

Eu falei aquilo em voz alto! Dou uma risada indicando brincadeira e abro o portão. O apartamento que divido com a Loraine não tem porteiro vinte quatro horas. Ele trabalha só no turno da manhã. O que confesso que deixou o meu pai preocupado. Mas em compensação o condomínio é super barato. Meu pai até ofereceu grana para eu conseguir algo melhor depois que me formei, mas eu estou acostumada com a Loraine. E acho que se eu sair daqui, talvez ela não encontre alguém que entenda as manias dela. Mas... O barato as vezes sai caro. 

Eu e Red damos de cara com uma plaquinha no elevador indicando que ele está fora de funcionamento. Como raios os velhinhos desse prédio vão entrar e sair dos seus apartamento? Como eu, vou subir 6 andares? Red aponta para as escadas ao reparar que minha cara estava começando a ficar vermelha de raiva.

Ainda estamos no terceiro andar e só ouço a musiquinha do Pokémon atrás de mim. Minha bolsa já está no chão sendo arrastada como um peso morto enquanto obrigo a minha perna a subir mais um degrau.

- Anne... Você precisa começar a fazer alguma atividade física. 

Paro na escada, quer dizer, acho que já estava parada. Viro lentamente a minha cabeça para trás. Red está jogando e demora alguns segundos até perceber que eu estou encarando ele.

- Que foi? Já pensou em jogar Pokémon Go. Você precisa andar para chocar os ovos.

- Por acaso - respiro - eu - respiro - tenho cara - respiro profundamente - de galinha?

E como o Red reage a isso? Começa a rir. Sinto todo álcool que ingeri evaporando pelo suor do meu corpo gerado pela subida das escadas e pela raiva. 

Eu Escolho VocêWhere stories live. Discover now