Capítulo 19

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Tudo aquilo tinha sido muito surreal. Red na porta do meu quarto. Morgado na praia. O campeonato de Pokémon. Os drinques no Bananas. A neurose do Pepa. O pik-pika na reunião. Quanto mais eu pensava naqueles dias, mais distante tudo aquilo parecia. Principalmente a minha vida antes de todos esses problemas. O problema Júlio, meu ex, era fichinha perto disso tudo.

Então, o plano era fingir que nada disso aconteceu. É hora de abrir aquela gavetinha na cabeça, enfiar todos os problemas dentro e esquecer. Pelo menos por hora.

Antes de entrar pelas portas de vidros, reparei no meu reflexo por um instante e voltei o olhar para ver melhor. Aquela combinação estranha de all star, saia lápis e a camiseta do Red (ó céus! o que eu estava fazendo usando aquilo?) que usei para dormir explicava muita coisa sobre eu estar com a cabeça na lua e não saber nem como cheguei no metrô.

Entrei na agência com a horrível consciência de que a qualquer momento eu poderia encontrar o Morgado ou Pepa. E não sei qual deles seria pior. Mas talvez eu tivesse uma pequena chance de passar ilesa e chegar até a o cubículo e me esconder atrás de uma pilha de trabalhos. Ou talvez, eu invente algum problema digestivo e alegue que vou precisar trabalhar dentro de um dos reservados do banheiro.

- Anne!

Eu juro que achei que dessa vez eu conseguiria. Eu já tinha virado a esquerda e estava visualizando o meu cubículo. Foi como se uma miragem no deserto começasse a se desfazer diante dos meus olhos.

Quando entrei pelas portas da agência pensei em como seria encontrar qualquer um dos dois pela frente. Mas não tinha nem chegado perto de pensar em como seria seria horrível encontra a Ju.

Ela me agarrou pelo braço me arrastando até o banheiro feminino. Sem rodeios, ela começou o interrogatório.

- Menina! Me conta tudo! Ele é bom de cama? Porque apesar dele ser boa pinta, isso não significa que eles sabem usar o...

- JU! - Eu gritei antes que ela continuasse. De certa forma eu estava com raiva dela. Boa parte daquelas coisas que não lembro agora, porque estão trancadas dentro de uma gaveta no momento, tiveram ajuda dela - Em primeiro lugar, você conspirou com tudo. Ou seja, você deve saber muito bem o que aconteceu - e foi que eu percebi um pequeno brilho nos olhos dela - E NÃO! - gritei novamente - Não aconteceu nada do que você está pensando.

Ju se apoiou na bancada das pias e cruzou os braços pensativas.

- Sabia que ele era frouxo...

- Não, ele não é frouxo - nem sei porque estou defendendo ele? E mais uma vez minhas revelações fizeram ela ficar mais animada do que deveria - Ele é um babaca, viciado em trabalho e gosta de seduzir damas indefesas apenas por diversão - sem saber muito bem o que fazer enchi a mão de sabão e comecei a esfregá-las.

- Então, rolou alguma coisa - mesmo sem olhar para Ju, eu sentia só pelo tom da sua voz o sorrisinho safado na boca dela.

Eu apenas abri a água para tirar o sabão da minha mão e ela achou que aquilo era um sinal.

- Puta que pariu, Anne!! Vocês se pegaram! - ela gritava no banheiro.

Eu ia abrir a boca para tentar negar, mas o meu rosto ficou tão vermelho que seria ridículo tentar.

- Shiiu!! Cacete, Ju. Alguém pode ouvir. Como você acha que isso ficaria para mim?

Ela concordou fazendo um sinal de silêncio com os dedos me dando papel para eu secar as mãos.

Agora bem mais perto de mim ela sussurrou.

- E aí, como foi?

A Ju não estava apenas tentando abrir aquela gavetinha que eu queria manter fechada. Ela estava esmurrando, arrombando, querendo saber tudo de qualquer jeito. E, sabe de uma coisa, para quem mais eu iria contar tudo aquilo? Eu precisava contar para alguém. Talvez fosse melhor por aquilo para fora do que deixar trancado.

Eu Escolho VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora