Capítulo 12

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Nós estávamos no heliporto da Lagoa. O vento que vinha daquela coisa enorme era tão forte que eu pensei que ia sair voando. É óbvio que eu não tenho medo de altura. Os tremores que sentia tinham mais a ver com o fato da mão do Morgado se apoiar na minha lombar do que qualquer outra coisa. Sua mão estava posicionada numa altura estratégica. Não muito ousada, mas nem perto aquilo de ser uma altura paternal.

Depois tudo aconteceu muito rápido. Já estávamos dentro do helicóptero. Ele me passou um head-phone enorme onde podia ouvir melhor o que ele dizia.

A pergunta estava ali na ponta da minha língua:

Para onde estamos indo?

Mas eu não conseguia falar. O máximo de ação que eu conseguia ter ela esboçar um sorriso meio perdido.

- Tudo bem, Anne? - ouvi a voz do Morgado meio robotizada pelo head-phone.

Apenas acenei em afirmativa enquanto olhava lá para baixo. Conforme subíamos, era possível ver melhor os contornos da Cidade Maravilhosa surgirem. O prédios rodeados por montanhas. O Cristo lá no topo parecendo abraçar a cidade. De repente, aquela imensidão azul aparece. O mar. Ali de cima as ondas pareciam se movimentar em câmera lenta. Apesar do barulho infernal das hélices, eu senti uma paz dentro de mim.

Deixei o ar entrar e sair de mim acompanhando o movimento das ondas.

Fiquei com curiosidade para ver o que o Morgado estava fazendo. Quando olhei para trás ele me encarava. Me perguntei por quanto tempo ele estava ali, de certa forma, me admirando enquanto eu admirava tudo lá embaixo.

- O celular acabou a bateria? - perguntei brincando. A única forma que sei lidar com momentos embaraçosos.

- Ele não funciona aqui em cima - ele deu de ombros e fez uma cara de lamento.

- Posso saber para onde estamos indo?

- Calma, Anne - ele riu.

É loucura dizer que a risada robotizada dele ficou super sexy?

Decidi me concentrar na paisagem lá embaixo tentando decifrar as pistas e descobrir para onde estávamos indo. Com certeza era para fora da cidade.

- Já estamos chegando. Preparando para pouso.

Procurei de onde vinha aquela voz que eu não reconhecia. Demorei um pouco para me tocar que era do piloto. Acabei esquecendo da presença dele.

Lá embaixo o mar tinha uma cor azul bem mais forte que as praias do Rio. Nas extremidades perto da areia, ele começava a ganhar um tonalidade verde linda. E posso jurar que lá de cima vi alguns peixes nadando, talvez um golfinho.

- Senhores passageiros - o piloto falou -, bem-vindos a Búzios.

Búzios? Búzios! Eu nunca estive em Búzios.

Morgado me lançou um sorriso charmoso, como se tivesse vencido algo. Eu sei que por dentro a criança chata e birrenta dele estava pulando aos gritos "eu venci, eu venci!". Mas minha criança cabeça dura não vai deixar ele achar que ganhou essa.

- Búzios... Grande coisa - deixei escapar, enquanto tirávamos os fones para descer do helicóptero.

Morgado olhou para trás, mas pela cara que fez acho que não ouviu nada. Mas que se dane se ele tivesse ouvido também. Eu realmente não tinha nada melhor para fazer, só por isso estava aqui.

Antes de entrar no carro que Deus sabe para onde iria me levar, eu olhei uma última vez para o helicóptero e comecei a pensar o quanto aquela viagem deveria ter custado.

Eu Escolho VocêWhere stories live. Discover now