Capítulo 18

414 61 18
                                    

O campeonato de São Paulo era na semana que vem. Eu tinha um plano todo estruturado para ganhar. Tenho uma teoria e se eu estiver realmente certo, eu montei o time de Pokémon perfeito. Mas ainda assim, eu preciso estudar os meus adversários para ver se seria necessário algum ajuste. Nem sempre a Clefable funciona como eu espero.

Eu sei que esse é o meu ano, em muitas formas. Finalmente ouvi os conselhos da minha mãe e estou praticando mais atividades físicas. E não imaginei que pudesse ser tão viciante. Posso apostar que liberar um pouco da tensão antes das partidas correndo algumas vezes em volta do quarteirão tem aumentado muito a minha concentração.

Talvez, agora seja uma boa hora de correr. Apesar de chinelo ser um equipamento esportivo nada adequado, eu precisava liberar essa dor que estava dentro de mim.

Tudo que eu não precisava era que Anne se envolvesse com uma babaca de novo. Justamente agora. Não que eu conheça o cara de verdade. Mas são muitos anos ao lado dessa garota para saber o quanto ela tem um dedo podre para escolher caras. E eu sou um cara. E caras sabem quando caras são babacas.

É incrível o que a raiva pode fazer com você. Eu aqui correndo pelas ruas da tijuca de pijama e chinelo como se estivesse numa corrida de 100 metros dando todo meu gás.

O que eu não esperava - apesar que, se você parar para pensar, seria algo bem previsível - era que o meu chinelo esquerdo estourasse. Usei os movimentos dos meus braços para tentar me equilibrar, enquanto tropeçava por alguns metros até conseguir parar. Como um pato desengonçado pousando na água.

Toda a raiva que eu achava que estava dissipando junto com o suor que o meu corpo liberava durante a corrida pareceu se apossar totalmente de mim. Toda essa história idiota. Todo esse Morgado idiota, que tinha aparecer justamente agora! E esse chinelo filho da puta, ainda por cima!

Peguei o chinelo que ainda tinha de alguma forma ficado preso entre os meus dedos e joguei ele com toda força. Ele foi parar do outro lado da rua e foi quando percebi onde eu estava.

Aqueles portões azuis bem escuro e grandes, que poderiam estar protegendo um castelo, era o meu antigo colégio. Lugar onde estudei por toda a minha vida. Onde fui amaldiçoado a gostar da garota mais cega do mundo (e incrível).

Fazem uns quinze anos que vi essa menina pela primeira vez aqui nesse mesmo lugar. Mas a lembrança é tão vívida na minha mente que parece que foi ontem. Obviamente, eu estava sentado bem ali organizando o meu deck de cartas de pokémon, pronto para começar mais uma ano letivo jogando cartas com os meus amigos nerds em becos estratégicos da escola.

Eu estava muito empolgado porque o novo set 2 tinha acabado de ser lançado e junto dele a nova Wigglytuff que muitos desconsideravam, mas poderia ser facilmente a carta mais poderosa da coleção, se utilizada da maneira correta. Eu estava pronto para ganhar de todos eles. Ser o melhor mestre pokémon.

Foi entre uma evolução de Ivysaur para Venusaur que Roxanne apareceu. E não estou falando da líder de ginásio do jogo. Aliás, eu ainda nem sabia que esse era nome dela.

- Oi - ela simplesmente brotou na minha frente.

Era muito cedo para qualquer aluno chegar cedo, além de mim. Eu sempre chegava cedo, muito cedo, por motivos que: minha mãe achava que Pokémon era coisa de satã. Eu precisava arrumar minhas cartas fora de casa para não correr o risco delas serem queimadas. Ainda bem que as coisas mudaram, um pouco.

Meu ponto é que os portões ainda nem tinham sido abertos e que diabos aquela menina estava fazendo ali. Que diabos DOIS, ela estava falando comigo. Na quinta série, e durante todo o meu período escolar, para ser bem honesto, nenhuma garota falava comigo.

Eu Escolho VocêWhere stories live. Discover now