Capítulo 25

389 55 52
                                    


Acordei com o interfone tocando. Ainda estava de dia e não havia mais sinal de Lorraine. Ela podia ter saído ou estar trancada no quarto. Fui cambaleando até o aparelho. Tentando voltar para a terra. Cada passo que eu dava, flashes daquela manhã pulavam na minha cabeça.

Cíntia saindo do reservado como aquelas vilãs do cinema. As milhares de mensagens no meu celular. O alarme de incêndio. Provavelmente era o motoboy entregando a minha bolsa. Não que eu estivesse sentindo falta dela. Porque o meu plano mesmo era nunca mais sair de casa.

- Alô? - falei ainda um pouco grogue.

- Posso subir?

Eu acordei pra valer em um segundo. Não esperava ter essa conversa tão cedo. Não hoje, com certeza. Ele deveria ter entendido depois de eu ignorar o celular o dia inteiro.

- Eu estou com a sua bolsa.

Encostei a testa na parede querendo me fundir com a tinta e sumir daqui. Mas acabei apertando o botão para liberar a portão.

Eu ainda estava vestindo a roupa do trabalho e com certeza tinha sorvete de chocolate espalhado por toda a minha cara. Mas quem liga? O que é um pouquinho de sujeira da cara comparado aos nomes que as pessoas estavam me chamando no whatsapp.

Não esperei ele tocar a campainha. Quando ouvi a porta do elevador abrindo, eu abri a do meu apartamento.

- Uau. Isso tudo é para mim? - ele zombou do meu estado.

Ainda bem que alguém estava de bom humor no meio dessa história toda. Claro, ele era homem, com certeza deve ter recebido os parabéns por ter me pegado. Enquanto eu fico taxada de piranha interesseira.

Eu apenas fitei ele mostrando que não estava para brincadeiras.

- Eu trouxe isso - ele levantou a minha bolsa - e isso - um engradado de Heineken. Posso entrar?

Confesso que o plano era pegar minha bolsa e mandá-lo pastar. Em poucos dias provavelmente eu estarei desempregada, seja por justa causa ou por vontade própria de sair daquele lugar. Então, o que eu tinha a perder mandando ele embora? Talvez ele tenha calculado isso. Me envergonho, mas admito que a cerveja me convenceu.

Abri mais a porta e dei passagem para ele entrar.

Ele entregou a bolsa em minha mão e colocou o engradado que ainda parecia gelado em cima do balcão da pia. Eu me sentei a mesa olhando ele rasgar o papelão e abrir as garrafas usando a camisa, que provavelmente era caríssima, para tirar as tampas. Me entregou uma garrafa enquanto sentava a mesa e dava um gole na cerveja que pegou pra ele.

Ficamos envoltos em um silêncio estranho. Sem saber o que dizer ou o que fazer continuamos ali sentados sem estabelecer contato visual direto bebericando nossas cervejas. Até que ele pareceu não aguentar.

- Roxy. Sinto muito - ele buscou o meu olhar sem sucesso e, então, continuou - Eu não sei como isso aconteceu. Na realidade, eu sei mais ou menos. Mas eu queria que você não se preocupasse, eu vou resolver as coisas.

Eu continuava em silêncio, porque simplesmente não sabia o que dizer. Não foi exatamente culpa dele. Nossa, talvez. Mas ele não tem responsabilidade em ter que resolver isso.

- Nossa, eu fiquei impressionado com a falta de maturidade desse pessoal. Não é atoa que nem metade nem deveria estar ali. Depois dessa semana, eu tenho certeza que só uma meia dúzia de pessoas que sustenta aquele lugar ainda em pé.

Eu já estava na metade da minha garrafa.

- É verdade? - eu estava bem longe de estar bêbada, mas aquilo saiu sem planejamento algum.

Eu Escolho VocêWhere stories live. Discover now