Capítulo 26

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Em determinado momento as cervejas acabaram e eu fui atrás de uma garrafa de vinho que eu sabia que tinha na geladeira. Aparentemente, Lorraine estava dando uma social na sala com alguns amigos que obviamente eu não sabia da existência. Eu tentei ser discreta, mas já estava um pouco bêbada e acho que acabei chamando mais atenção do que estava planejando.

Voltei para o quarto e o Morgado estava no chão ainda lendo mensagem por mensagem. No total, somando as do grupo, eu devo ter recebido quase 1000 mensagens das pessoas do escritório. Foi insano. Algumas pessoas realmente surtaram com a história sem nem saber ela direito. Só por causa de fofocas e daquele áudio idiota. Já tinha gente até falando que eu estava grávida.

Pedi para o Morgado me poupar da piores e ir apagando tudo também. Por mais que ele risse e buscasse embasamentos profissionais para desqualificar cada uma das pessoas que me xingaram ou reafirmar sua fé na humanidade quando alguém mandava uma mensagem de solidariedade a minha pessoa pela situação toda... Eu sentia que ele estava arrasado com tudo aquilo. Parecia que ele está querendo absorver toda a culpa para ele de algo que foi consentimento mútuo e nós dois sabíamos das consequências. Falamos sobre elas.

- Sabe o que é o mais louco disso tudo? Foram só uns beijos - a ironia e o riso frouxo do álcool, já estavam se embolando, nem sabia mais qual era qual.

- Muito louco isso. O pior de tudo é que mal eles sabem que mesmo que a gente não tivesse ficado e essa merda toda não tivesse estourado, você ainda seria a pessoa mais qualificada e com o melhor potencial.

- E sabe o que é o mais louco ainda? - eu perguntei.

Estavamos literalmente jogados no chão olhando um para o outro. Morgado já tinha cansado de ficar lendo as mensagens e achou que já tinha coletado as informações que precisava - ou se autoflagelado o suficiente lendo os ataques a mim. Na realidade, acho que Morgado é o tipo de pessoa que pouco se importaria se as pessoas tivessem o atacando. Mas não era o caso. Ele era homem e superior a todos lá dentro. E em cada mensagem não lida em voz alta, por eu imaginar que fosse pesada demais, era possível ver a raiva crescer em seus olhos pela covardia da pessoa em apenas me atacar e não a ele também. Mas chegou em um determinado momento que deu e ele largou o meu celular.

- O que? O que poderia ser mais louco que um beijo dar nessa merda toda?

- Eu nem sei se eu quero essa promoção de verdade. Eu nem sei se quero continuar trabalhando em uma agência. Nem sei se fiz a faculdade certa.

- Roxy. Não se sinta ameaçada por esse bando de covardes. Você é muito boa no que faz.

- Não é por isso. Eu só sinto que fui caindo nisso. Fui fazendo escolhas fáceis e que não necessariamente eram o que eu queria. Ou eram, na época, mas agora não são mais.

- Roxy. Você está com a cabeça cheia dessas merdas que falaram hoje para você. Esfria a cabeça e depois a gente vê isso.

Eu acho que ele disse aquilo mais para ele do que para mim.

- Você já assistiu aquele filme da mulher que é acusada de matar o marido e vai presa? Porra, esqueci o nome. Depois ela sai da cadeia e descobre que o desgraçado está vivo e aí ela resolve matar ele de verdade, porque ela não pode mais ser presa por cometer o mesmo crime de novo?

- Que que tem? - eu perguntei.

- Acho que se a gente fizer tudo que estão condenando você, agora não faria mais diferença. Eles não podem te condenar por algo que já te condenaram antes.

- Que?

- Desculpa. Eu to bêbado - ele levou a mão ao rosto se escondendo. - Desculpa. Que merda eu estou falando.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 17, 2017 ⏰

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