Capítulo 4

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Anne, a rainha dos points cariocas. Pepa deve estar sacanagem. Na hora do almoço, conto para Ju tudo o que aconteceu na sala de vidro e só faltou ela cair da cadeira de tanto rir. Todo mundo sabe que tenho um relacionamento sério com o Netflix. Não é como se eu nunca saísse de casa, só não vejo muito propósito e evito quando posso. Acho que os anos de convivência com a Loraine estão me afetando.

Estou sentada na minha sala, quer dizer, no meu cubículo de dois metros por dois. Tentando trabalhar. Apesar da B&T não existir, por incrível que pareça, a agência possui uma centena de clientes reais.

Abro e fecho as janelas no computador como se fosse o meu primeiro dia na agência. A fragrância do Morgado parece dançar pelo andar onde se localiza do meu cubículo sendo um dos pontos de distração. Ao longe, ouço algumas risadas.

A altura das paredes dos cubículos me impedem de ter uma visão apropriada do andar enquanto estou sentada. Então, começo a ficar impaciente. Os risinhos e cochichos não param. Não consigo me concentrar! Será que ninguém mais tem trabalho para fazer aqui?

Me levanto o suficiente para os meus olhos ficarem acima das divisórias. A alguns cubículos a frente vejo Morgado conversando com alguém. Eu seguro o meu corpo a alguns centímetros do assento da cadeira de rodinhas, apoiando as minhas mãos no braço da cadeira e esticando os braços o máximo que posso.

Levo um susto quando recebo uma mensagem no computador. Meu reflexo acaba sendo rápido de mais e solto as duas mãos do braço da cadeira, que acaba recebendo um empurrão. Em meio segundo, cá estou eu com a bunda no chão. Sem contar o barulho que a cadeira fez quando bateu na parede do cubículo. Pelo menos, os risinho e cochichos pararam.

Tão rápido quanto eu cai, o Morgado apareceu na minha não-porta. 

- Está tudo bem por aqui? 

- Na medida do possível - começo a me levantar. - A cadeira escorregou só isso.

- Deixa eu te ajudar.

- Não precisa...

Mesmo tentando me desvencilhar dos braços dele. Ele já estava lá me ajudando a sentar na cadeira.

- Obrigada.

Só fico me perguntando quantos micos ainda vou ter que pagar até acabar esse dia.

Antes de sair do meu cubículo, ele vira para mim.

- Tudo certo para o Happy Hour?

- Claro. Será num bar meio restaurante aqui perto da agência. O pessoal, tipo, vive lá.

Ficamos alguns segundo nos encarando. Eu não tinha reparado como o queixo dele era anguloso. Okay que esse comentário pode ser um pouco estranho, mas o queixo dele harmoniza muito bem com o resto do rosto. São poucos os homens que você pode dizer: que queixo anguloso!

- Você não é muito de sair, né?

Me pergunto da onde veio isso. Morgado ainda está ali parado, encostado na parede do cubículo. Sério, esse cubículo nunca foi tão pequeno. Uma coceira de nervoso começa a me atacar. Então, falo a única coisa que vem a minha mente.

- O que?

- Você  - ele aponta para mim - não parece o tipo de pessoa que realmente conhece os points do Rio de Janeiro. Sem ofensas.

Acho que ele completou essa última parte devido a minha cara. Eu estava pasma. Será que ele ouviu minha conversa com a Ju na hora do almoço? Talvez eu precise pegar um pouco mais de Sol. Todo mundo diz que não tenho cor de quem mora no Rio de Janeiro. Para falar a verdade, não sabia até então existia uma cor certa para você morar em uma cidade.

Eu Escolho VocêWhere stories live. Discover now