Capítulo 14

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-Não vai tomar? - ele apontou para a bebida na minha mão.
Eu tinha esquecido dela ali. E pela primeira vez me perguntei o que seria aquilo. Caipirinha? Levei até o nariz para ver se sentia cheiro de álcool.
Uma risada alta surgiu do outro lado da proa.
-É limonada. Fica tranquila que não tem veneno. - ele tomou um gole do seu copo como se quisesse provar algo.
-Claro que você não seria burro de colocar veneno no seu copo.
Eu levei o copo até a boca com um olhar de desafio. Como se em algum lugar existisse uma Anne que não tem medo das coisas.
-Roxanne, né? - ele falou pensativo.
- Anne…
- Eu sei - ele riu. - Fiquei curiosa para saber da onde vem esse nome…
- Ah! - eu relaxei um pouco. Esse é o tipo de curiosidade muito comum entre as pessoas. - Coisa do meu pai. Ele é americano.
- Uau! - apesar dessa reação, ele não parecia tão surpreso - E você prefere viver em terras tupiniquins?
- Minha mãe é brasileira - dou de ombros de forma casual, até que lembro que ela não é mais - Quer dizer, era.
O barulho do motor do barco pareceu ficar mais alto enquanto o silêncio dominou a nossa conversa.
-Sinto muito - ouvi o Morgado dizer. Parecia sincero. Então, apenas sorri.
Não queria tornar essa situação estranha. Criar um embaraço onde não precisa existir. Já faz um tempinho isso, só que nenhum tempo parece suficiente para preencher esse vazio que ficou na minha vida.
- Eu tenho um bom relacionamento com o meu pai. Ele muito legal. Só não tem bom gosto para nomes - brinquei com o gelo no copo vazio.
- Eu gosto de Roxanne. Roxy. - Ele testa o apelido na boca - Roxy! Por que seu apelido não é Roxy?
- Você parece o meu pai.
- Então ele deve ser um cara muito charmoso.
Meu rosto corou imediatamente. Torci para que o sol já tenha deixado ele vermelho o suficiente para ele não perceber o meu embaraço.
- Ele me chama de Roxy - falei meio sem graça - E você, Henrique? - agora foi a minha vez de sentir o seu nome em meu lábios - Muito trabalho?
- Não vamos falar de trabalho hoje, né?
- Mas foi única coisa que você fez desde que a gente chegou aqui - meu comentário saiu mais ácido do que o planejado.
- Touche! - Ele encheu o meu copo com mais limonada. - Eu admito, sou um workaholic. Mas eu amo o que faço, por isso as vezes nem percebo que estou trabalhando vinte quatro horas por dia. Nem sempre é fácil, para falar a verdade. Mas o desafio que vem com toda a responsabilidade que tenho.... - uma corrente elétrica pareceu passar pelo seu corpo, como se ele estivesse em estado de êxtase. - Ah, Roxy! Eu amo isso!
Ele carregava um brilho intenso no olhar. Sem dúvidas ele ama o que faz. Eu queria ter isso também, queria ter essa gana pelo que eu faço. As vezes me sinto tão limitada trabalhando para o Pepa, apenas atendendo telefone e repassando e-mails, ou sendo espiã.
-Então, você deve estar animado para segunda para dividir essa paixão com o pessoal.
Por um momento, eu achei que ele não me ouviu. Aquele semblante sério arriscou tomar conta dele novamente. Aquilo me fez pensar no mar, nos segredos e como ele o Morgado pareciam tanto.
-Claro. Como eu disse, teremos muitas mudanças nas próximas semanas. - Ele falou de um jeito muito sério, com se essas mudanças não fossem tão positivas, mas necessárias. A imagem de desespero do Pepa veio a minha mente.
O motor do barco parou. Meu coração começou a acelerar. Seria possível que vamos ficar presos aqui? Maldita hora que eu disse para o Morgado deixar o celular no carro. Levantei assustada pensando em todos os filmes de naufrágio que vi na vida.
Morgado notou o desespero no meu olhar e na mesma hora voltou a ser o... Henrique. Riu claramente da minha cara.
-Bem, acho que agora sim é uma boa hora para um mergulho.
Ele levou a mão ao botão da bermuda e começou a se despir. Instintivamente, eu virei de costas como uma garotinha assustada. A risada espontânea dele tomou conta do silêncio a nossa volta.
- Você vai mergulhar assim?
Ainda de costas para ele, eu olhei para a minha saída e puxei a parte detrás. A voz da Ju surgiu na minha cabeça: “apenas uma vez nessa sua vidinha: RE-LA-XA!”. Respirei fundo e comecei a levantar o mini vestido. No meio do caminho, eu lembrei do biquíni que valorizava - ou revelava - um tanto de mais a minha bunda e virei para o outro lado, escondendo-a do Morgado.
Quando terminei de tirar aquele pano, que no final das contas não escondia muita coisa. Encarei o Morgado que me olhava com aquele sorriso que ele deu na cozinha da minha casa. E aquela manhã parecia ter acontecido em outro dia. O sábado, então, em outra vida!
Lancei um sorriso meio acanhado e ele esticou uma das mãos para mim. Assim que toquei meus dedos em sua palma, foi como se eu sentisse um choque. Uma corrente percorreu por todo o meu corpo. Seria aquele o olhar que a Ju estava falando?
-Vamos?
Eu não sei. O Morgado ainda era uma grande interrogação na minha cabeça.

O passeio foi maravilhoso. Eu me senti em um filme. Tudo era perfeito de mais. Não demorou muito para ficar fácil chamá-lo de Henrique. Nadamos um pouco e, claro, que no meio do caminho eu já não estava mais me aguentando. O Henrique não exitou em me ajudar. E apesar de não ter me julgado, imagino que ele possa usar isso em algum momento para zombar da minha cara.  
No caminho de volta para o pier. Vimos alguns golfinhos. Lamentei enormemente não ter um celular para tirar uma foto. Mas eis que o Henrique do nada apontou a câmera de um celular para mim. Com certeza, aquele não era um celular secreto dele. A não ser que um dos segredos dele seja uma predileção por capinhas da Hello Kitty. Não sabia a quanto tempo ele estava ali apontando aquele negócio para mim enquanto eu olhava os golfinhos pular.
Mas foi nesse momento que a senhora Margarida saiu da cabine falando que ia tirar um foto nossa. Eu e Henrique exitamos falando que não precisava. Mas ela insistiu. Saiu empurrando ele para cima de mim.
O corpo do Henrique estava molhado depois de uma chuveirada. Sim, esse negócio tem chuveiro! Na realidade, uma ducha do lado de fora e um banheiro completo com banheira na cabine. Quando vi aquilo, só consegui pensar no que a Ju falaria sobre isso. Alguns pingos caíram na minha perna que estava quente do sol. Eu encolhi um pouco com o contato da água fria. De propósito, Henrique chacoalhou o cabelo molhado me fazendo soltar alguns gritinhos em meio às risadas.
Ele sentou do meu lado. Em um gesto automático, eu ajeitei o meu cabelo para o lado e ele me puxou para mais perto pela cintura.
-Digam Xxxx.
Eu apenas sorri. Pela primeira vez em muito tempo, eu me senti completamente relaxada. Tirando a parte daquela mão quente depositada na minha cintura.

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Oi pessoal! Eu estou viajando e usando o celular para postar esse capítulo. Me perdoem se alguma coisa ficou sem sentido. É muito tenso arrumar as coisas por aqui.

Aproveito para desejar um Feliz Natal para vocês e avisar que Papai Noel vai trazer mais um capítulo para vocês antes do ano acabar 💜

Beijos, meu amores!

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