Agora Sim Eu Vejo Que Estou Sozinha.

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Fiquei olhando para a Cecília por um bom tempo, eu não conseguia dizer nada.

— Vamos Henrique, estamos esperando você cantar! Ah, e fiquei sabendo que você tem uma voz ótima. — ele sorri lá de baixo.

Henrique: não tenho a voz ótima. — reviro os olhos. — eu fiz aula de canto, só isso.

— deixa de enrolação e canta logo! — ele me encara.

Eu balanço a cabeça positivamente.

Ainda não tinha escolhido uma música, mais resolvi cantar a que me veio na cabeça naquele momento.

Não querendo me gabar, mais realmente tenho uma voz boa.

Cecília ainda estava no palco comigo, ela não tirava os olhos de mim. Os mesmos brilhavam.
Respirei fundo, e me deixei levar.

“Amiga não ta dando pra esconder, eu não tô bem.
Acho que a gente descuidou e foi além.

Aquele abraço virou beijo e me cegou,
Não controlei os meus instintos e rolou.

Amiga não tô dando fora no seu coração,
Mais nós estamos misturando amizade e paixão.

Bem amiga, então vamos parar por aqui,
Vou te poupar da despedida e sair.

Vou levantar, fugir tentando não chorar,
Você também engole o choro e tenta disfarçar.

Vou convencer o meu coração que nunca sentiu nada,
Você é a pessoa certa mais na hora errada!

Não vou negar que vou sentir saudade sua,
Quem sabe um dia a gente continua. A gente continua.

Posso pirar, me declarar pelos bares na rua,
E esculpir o seu rosto na lua. O seu rosto na lua.

Amiga linda, quem sabe um dia vira amada minha,
Quem sabe um dia vira amada minha.”

Abro meus olhos e vejo a Cecília com os olhos cheios de lágrimas, eu praticamente dei um fora nela em público.

Juliana me olhava com uma cara de “eu vou te matar”, e todo o resto me olhava de boca aberta.

Cecília: te odeio. — ela sussurra enquanto algumas lágrimas caem.

Ela sai correndo do palco e eu me sinto o maior babaca da face da terra.

— Bom, por hoje é só pessoal. Amanhã a gente continua. — o professor diz e sai.

Juliana e Laura saíram, com certeza foram atrás da Ceci.

Gustavo: por que fez isso cara?

Henrique: não foi na intenção, mano. — falo sem graça.

Izabel: gente que babado, adorei o fora!

Henrique: não foi um fora Izabel. — respiro fundo.

Alexia: foi sim, a escola inteira percebeu — ela ri.

Emilly: ela merecia aquele fora, fica confundindo as coisas. Foi um fora bem merecido.

Henrique: Não Foi Um Fora, Caralho! — grito e saio de lá.

P.O.V CECÍLIA

Cecília: ele é um idiota, um idiota! — falo e algumas lágrimas rolam.

Vini: eu concordo. — fala e eu me assusto.

Cecília: o que ta fazendo aqui? Não vai parabenizar o Henrique, pelo belo fora que ele me deu? — grito.

Vini: ei relaxa, ele foi um completo idiota. Sou seu amigo, quero Te ajudar.

Cecília: não tenho amigos! — grito e saio correndo.

Ele vem atrás de mim mais logo desiste.

Vou até o final do jardim e me sento atrás de uma árvore, e começo a pensar.

Cecília: por que ele fez isso comigo? Não podia ser só entre eu e ele? Por que na frente de todo mundo? Eu sou uma idiota mesmo! — algumas lágrimas rolam.

Algumas não, milhares. Eu não consigo entender o porque dele ter feito isso. Poderia ter falado comigo a sós, e não na frente de todos.

Agora sim eu vejo que estou sozinha.

Dias estranhos. Quem nunca se sentiu assim? Pessoas te rebaixando na frente das outras pra se sentir bem.

As amizades também não são as melhores, um dia amigos, outro inimigos, em casa quase sempre errada, estudos e mais estudos.

Meus sentimentos? Não sei nem o que é um sentimento recíproco. Se as pessoas dizem “Faça o bem que o bem você terá”, E porque eu só quebro a cara?

Talvez esse negócio de amar não seja pra mim. Será que é tão difícil assim, alguém gostar de mim?!
A cada dia as pessoas me mostram como eu sou um "tanto faz" na vida delas.

Será que se eu não existisse seria melhor?! Se eu parar de me importar, será melhor?
Me pergunto todos os dias: "Eu faço alguma diferença?" Acho que não.

As pessoas me mostram que eu sou assim um Incômodo na vida delas, e como!

Te amo? Nunca ouvi isso de verdade, mas eu sei que ainda vou fazer falta, ainda faço diferença.

Mas enquanto isso não acontece, eu prefiro ficar sozinha.
Respiro fundo, coloco a mão sobre meu bolso e sinto a caixinha lá dentro.

Pego a mesma e abro, e lá está, a lâmina. Nunca me cortei, já vi vários e vários amigos se cortando. E aquele pequeno objeto parece aliviar a dor deles.

Eu queria ter a coragem de usa-lá e ver se alivia a minha dor também. Eu preciso pelo menos experimentar e ver no que dá, e se eu me cortar errado não vai fazer diferença, ninguém vai se importar mesmo.

E isso não é drama, é apenas um desabafo, guardei todas essas palavras comigo por um bom tempo, eu precisava por tudo pra fora.

Olho a minha frente e lá ainda está a lâmina.

Cecília: como eu pude me apaixonar por ele? Eu sabia que era errado, eu sabia que iria me machucar. Mais eu preferi me arriscar, e olha no que deu. Sou uma burra!

Encosto a cabeça na árvore, mais a dor que sinto no peito parece não aliviar. Ele doía mais ainda, parece que cada minuto que passava me fazia sentir mais dor, e relembrar de tudo.

Finalmente criei coragem, peguei a lâmina da caixinha, a olhei bem de perto, deu um nó na minha garganta. A coragem de me cortar parecia ter vindo mais forte.

Cecília: eu preciso disso. — falo com os olhos fechados.

Pego a lâmina e quando vou me cortar, alguém me interrompe. Droga!

Vini: Cecília, o que ta fazendo? — ele grita e se abaixa em minha frente.

Opostos ∞ - Colégio Interno.Onde histórias criam vida. Descubra agora