I.IV. Da melhor maneira

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por Uchiha Sasuke...

– Você mal retornou – Kakashi comentou, encarando-me intrigado.

– Sou mais útil lá fora – respondi, impaciente.

– Há quem diga o contrário... – deu de ombros, jogando-se sobre o apoio de sua cadeira. 

Eu não podia ver o que ocupava o único porta-retrato que descansava em sua mesa em meio a bagunça de tantos papeis e pergaminhos, mas tinha quase certeza de qual foto se tratava pela forma que ele a fitava.

– Kakashi, não me faça explicar – pedi.

– Bom, estou tentado a lhe torturar, mas já tenho um palpite sobre tudo isso que não me deixa ceder aos meus caprichos... ainda.

Revirei os olhos, ele sabia que me tinha em suas mãos.

– Sei que você tem muito o que resolver, especialmente consigo mesmo. Afinal, é por isso que está peregrinando tanto... Mas estou feliz que finalmente está pondo as coisas em escala e dando prioridade ao mais importante.

Era irritante, mas ele sempre sabia de tudo. 

Kakashi e eu também tínhamos o silêncio em comum, era mais confortável assim. Não precisei dizer muito para que ele entendesse toda a situação e, por mais que eu odiasse sua perspicácia, admitia que era muito útil.

– O hospital não vai ficar muito contente com isso... Tsunade vai querer minha cabeça numa bandeja – ele continuou, alcançando um arquivo sobre sua mesa, folheando as laudas pacientemente. Seus planos para me irritar estavam funcionando.

– Você é um Hokage, saberá lidar com isso.

– Não estenda a sua arrogância para as minhas obrigações. Não é assim que se agradece pelo o que estou fazendo por você.

Revirei os olhos. Droga, eu tinha que me esforçar para lembrar da minha posição em relação a ele, não era inteligente agir feito um adolescente idiota e ignorar a hierarquia.

– Aqui. Achei algo que possa servir – Kakashi parou em uma página. – Bom, desde que a guerra acabou, não temos lidado com ocorrências tão sérias, mas o rei feudal reclama de atividades estranhas próximas a suas terras pessoais. Suspeito de nukenis insatisfeitos com a nossa paz, de modo que estou certo em acreditar que vocês dois serão mais do que o suficiente para os pôr no lugar deles. Fica há alguns dias de viagem...

– É perfeito – enfatizei, tentado me livrar da sensação ácida que crescia na minha garganta a medida que Kakashi falava. 

Achei que quando conseguisse uma missão, o que quer que me incomodasse fosse desaparecer. No entanto, o bolo no meu estomago pareceu ganhar ainda mais forma. Dei-me conta de que a parte fácil era aquela. A difícil ainda estava por vir.

– Diga-me, Sasuke... Por que precisa levá-la em missão? – O Hokage quis saber, inclinando-se sobre a mesa a fim de registrar sua ordem nos pergaminhos oficiais. Fazia isso com tanto desinteresse que eu me questionava como ele tinha aceitado o cargo, em vez de indicar outra pessoa. 

E, na realidade, ele também estava cedendo a sua tentação de me provocar.

– Eu não sei... – suspirei, exausto. – Mas sinto que se não fizer isso longe de olhares curiosos e línguas negativas, então nunca serei capaz.

– Achei que não se importasse com a opinião alheia. Assim como não acho, que depois de tudo, ela também dê a mínima.

Quando se trata dela, tudo importa, pensei. 

Não estava afim de sujá-la com a minha presença, de prejudicá-la na frente de todos por minha causa. O ódio das pessoas cairia sobre ela mais cedo ou mais tarde, de modo que eu não estava afim de arriscar, não sem antes nos resolvermos, amarrando todas as pontas soltas, esclarecendo cada detalhe. Se ainda assim, ela me perdoasse e me aceitasse como o suficiente, então havíamos de concordar que o resto era insignificante, mas até lá, eu não a sujeitaria até saber que não seria tudo em vão.

– Bom – Kakashi tornou a falar, claramente ciente de que eu não era mais capaz de responde-lo. Teria que se contentar com seus palpites. – Vocês podem sair ao fim da tarde, até lá terei comunicado Sakura e orientando o hospital para a sua ausência, embora seja um exagero, visto que a perspectiva de uma super lotação é quase ridícula.

– Arigatou, Kakashi-sensei.

Em resposta a minha reverência, ele apenas acenou com a cabeça. Sai de seu escritório sem mais delongas, ocupando-me na maneira que eu agiria a partir daquela tarde. Deixar Sakura sozinha em seu apartamento fora uma ideia idiota, mas não seria fácil fazer a coisa certa se continuássemos tendo aquela conversa lá.

– Tem certeza que sabe o que está fazendo? – Uzumaki Naruto me parou.

Eu não o tinha visto ali até então, apoiado de braços cruzados atrás de uma das colunas do corredor principal. Não me virei, permaneci estático e ele também não se moveu. A via estava completamente vazia, exceto por nós dois. Não sabia o quanto ele tinha ouvido, mas no fim não importava, não era como se escondêssemos as coisas um do outro.

– Espero que sim – respondi.

– Certifique-se de que ela retorne sem nenhum arranhão.

– Ela não precisa de proteção. É perfeitamente capaz de se cuidar sozinha.

–  Nós dois sabemos que não é isso que estou pedindo, dattebayo! – Naruto se adiantou, impaciente.

– Sim – admiti.

– Você já fez muita merda e eu fui capaz de perdoar todas elas, mas já chega, Sasuke – fez uma pausa, cerrando o maxilar – Juro por Konoha que se falhar nessa missão, partirei você em dois sem hesitar.

Não acho que me oporia à sua promessa se as coisas corressem da maneira mais trágica, também não pensei em considerar que o que ele acabara de me dizer fosse uma ameaça sem qualquer fundo de verdade ou compromisso. Ficaria desapontado se Naruto não agisse exatamente daquela maneira. Sakura lutava as próprias batalhas com excelência, não precisava de mim ou dele ou de qualquer outra pessoa para interceder por ela, mas me deixava aliviado saber que se um dia ela quebrasse e não quisesse contar comigo, aquele idiota estaria lá para segurá-la.

– Sakura-chan... – comentou Naruto. – Não a decepcione, ela não merece.

– Não sou burro. Não vou começar algo que não posso terminar.

– Estou contando com isso...

Perguntei-me quando Naruto tinha começado a assumir posturas tão sérias e responsáveis assim... Era evidente que ele não só tinha virado um ninja excepcional, como o mesmo também poderia ser dito sobre sua conduta como ser humano. Talvez fosse incerto sobre quem dos dois venceria uma batalha física se levássemos a briga a sério, mas era claro que eu já havia perdido no quesito de caráter. Ele tinha me superado, superado a todos com uma vantagem absurda e admirável.

– Naruto?

– Hm?

–Arigatou.

Decisões (SasuSaku)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora