IV.VII. Hora bingo

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por Haruno Sakura...

Encontrei Karin no que parecia ser um laboratório, na ala mais distante daquele lugar. Não me atrevi a checar as outras portas do corredor, de modo que apenas segui para a única aberta e iluminada.

A ruiva tinha seus fios vermelhos presos em um coque alto, agachada a frente de alguns armários abertos. Nunca tinha ido até tão longe naqueles labirintos que Orochimaru chamava de esconderijo, mas em toda as salas em que estive até então, a poeira reinava.

Contudo, aquele laboratório parecia novo em folha, o cheiro era semelhante aos ambientes esterilizados que eu estava tão acostumada no hospital de Konoha.

Segundo os meus cálculos, talvez tivesse mais duas semanas de gestação pela frente, mas a única coisa que me aliviava era a falta gradativa de incomodo com os odores.

Apesar de tudo, eu já sentia saudades da minha barriga. Daquela experiência no geral. Poder sentir e proteger a minha criança tão de perto, através de uma união indescritível.

Toda aquela viagem, os lugares que conheci, as vilas shinobis que adentramos por informação, as clareiras em que acampamos, as diferentes pessoas que encontramos em busca de mantimentos nos mercados... tudo tinha sido fantástico. Certamente, do meio para o fim, eu vinha cansando mais rápido, diminuindo mais o nosso ritmo, exigindo mais paciência de todos, contudo, e ainda assim cuidava em aproveitar o quanto conseguisse.

Por outro lado, sabia que não estava sendo assim tão tranquilo para Sasuke. Ele passava a maior parte do tempo atento, mesmo quando estávamos abrigados. Os olhos alheios, seu rosto indiferente nunca se alterava, mas eu podia ver as duas linhas sutis do pequeno V, quase imperceptível entre suas sobrancelhas. Quando estávamos sozinhos, seu corpo relaxava um pouco, mas a tensão continuava lá, pairando sobre seus instintos.

Queria poder ter certeza de que ele ainda conversava enquanto eu dormia, mas não consegui mais me manter acordada como naquela noite em que me confidenciou, ainda que indiretamente, um fragmento da sua infância.

Gostava de quando sua mão quente tocava meu ventre e de certo o bebê também, este sempre respondia, mas depois de um tempo parava, como se estivesse esperando apenas pelo o beijo de boa noite.

A indiferença se desfazia do rosto de Sasuke ali, nos chutes em resposta. Ele até sorria levemente, como se desafiasse o filho a chutar mais forte. Era uma conexão que me permitia apenas observar, o que já me deixava maravilhada. Por mais que fosse através de mim, eu não fazia de fato parte daquela conversa.

– Você não deveria ficar tanto tempo de pé – observou Karin, tirando-me dos meus pensamentos.

– Certo, certo – respondi ainda meio embargada, caminhando até uma mesa de pedra extensa e rebaixada, acolchoada com mantas de couro felpudo. A altura era ótima, de maneira que me sentei sem dificuldades. – Aonde arrumaram?

– As caças de Juugo. Ele achou que fosse deixar você mais confortável na hora do parto.

– Tem limpado esse lugar para isso também?

– Sim. Achei algumas coisas que podem nos ser úteis também, caso não seja um processo tão tranquilo...

Engoli em seco. Era inútil me convencer de que não havia nada a temer, a verdade era que eu estava apavorada.

Já tinha acompanhando o processo tantas vezes com outras kunoichis e nem isso me deixava tranquila. A preocupação de que algo desce terrivelmente errado gerava um bolo ácido na minha garganta.

– Não adianta ficar assim tão preocupada – Karin tentou. Ela provavelmente estava vendo além do meu chakra. – Estou prevendo todas as complicações, estaremos preparadas se elas vierem. Você é forte, Sakura. Vai se sair bem.

Decisões (SasuSaku)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora