III.IV. Respostas difíceis

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por Uchiha Sasuke...

Fui paciente, dei-lhe tempo, mas todo mundo tem um limite.

Sakura tinha mudado depois da última missão, ela nem mesmo se interessou pelo desfecho dos nossos esforços, faltando as reuniões decisivas para com o futuro da célula terrorista que quase morreu para destruir. Achei que estivesse abalada pela maneira que foi abordada e não quisesse receber nenhum julgamento, mas logo desconsiderei isso. Sakura não era tão rasa: se tinha errado, assumiria a fim de se corrigir, sem nenhuma margem para qualquer drama.

Eu sabia que ela escondia alguma coisa, sua indiferença era quase palpável. Fora expulsa do hospital em diversas vezes por abusar dos horários de serviço, era como se os usasse para me evitar. Havia uma parede sólida entre nós em todos os ambientes. Mal dormíamos sobre o mesmo teto por causa dos seus extensos plantões noturnos.

Quando decidi chamar-lhe a atenção para com essa inversão de papéis, ela me sorria de repente, como quem nem mesmo tivesse me notado até então, e garantia que estava tudo bem.

Era bastante óbvio que nada estava bem...

E havia os seus olhos. Desde que recebera alta, eu mal os tinha visto. Sakura não cruzava mais seu olhar com o meu e aquilo me incomodava como o inferno.

Não queria força-la a compartilhar algo comigo, ela jamais o fizera numa situação contrária. Sakura apenas esperava que eu estivesse pronto e então conversávamos, mas a sua via naquele laço parecia sumir a cada dia.  Queria que ela fosse capaz de simplesmente me contar, mas nem mesmo conseguia tocar no assunto para estimula-la, tendo em vista que sempre fugia, alegando estar atrasada...

Fosse o que fosse, eu só queria que ela se sentisse segura o bastante para dividir sua carga comigo.

Minha cabeça girava em confusão, de modo que até mesmo minhas obrigações para com a vila estavam sendo comprometidas. Algumas criptografias e até mesmo missões curtas haviam apresentado margens de erro. Naruto percebera toda a mudança e me cobria na maior parte do tempo, sem questionar.

A que ponto cheguei, afinal? Precisava que aquele idiota me cobrisse...

Estava cansado demais, exausto. Tentei considerar todos os erros que Sakura poderia ter cometido em campo de modo a atingi-la tanto, mas nenhum parecia importante o bastante para abala-la ou até mesmo possível de acontecer tendo em vista suas habilidades.

Esperei por um mês e três semanas, até que toda aquela situação ficou insustentável. Se Sakura não queria conversar comigo, não iria força-la, mas tão pouco me deixaria permanecer no escuro.

Ino gritou quando me viu, pulando de susto, os papéis que segurava só não se derramaram em um desastre no chão porque ela os abraçara com força, como se fossem um escudo.

– Kami-sama! – suspirou sem fôlego, fechando os olhos com força, tentando se acalmar.

Estávamos em um dos corredores do hospital, a luz alaranjada do pôr do sol banhava toda sua extensão através das persianas altas. Escolhi aquele horário porque sabia que Sakura só chegaria dali à duas horas.

– Testuda... – Ino terminou por bufar, voltando a me encarar. – Sei o que quer, mas não é uma conversa para se ter aqui. Meu consultório não fica longe.

A segui em silêncio, um pouco apreensivo com o pesar que Ino assumiu. Depois de alguns corredores, a kunoichi nos deu acesso a um consultório modesto, mas cheio de desenhos espalhados nas paredes. Eram os traços de Sai, armonizados de uma maneira suave a fim de tranquilizar a quem quer que entrasse diante de qualquer que fosse o problema. Talvez, em uma situação menos delicada, o efeito fosse capaz de se sobrepor em mim.

– Sente-se – ela sugeriu para com uma poltrona, enquanto circulava seu gabinete, acomodando-se na própria cadeira.

– Ficarei de pé – limitei-me a dizer.

Ino me ignorou pelos segundos seguintes, organizando os papéis que trazia consigo sobre o tampo de madeira, estava ganhando tempo. Murmurava coisas para si mesma, difíceis de ouvir.

– Como vou dizer isso a você? – disse, apoiando os cotovelos em cima da sua bagunça e segurando a cabeça entre as mãos – E ainda perdi um paciente hoje, estou esgotada...

– Não estaria aqui se não fosse necessário.

– Eu sei que não.

– Apenas fale.

Ino alcançou meus olhos, havia muita tristeza no que vi depois.

– Sakura teve um aborto, Sasuke. Eu sinto muito.

De todas as situações que considerei anteriormente, nenhuma delas chegava perto do que eu ouvi naquele instante.

O espaço ao meu redor borrou-se, saindo de foco. Achei que não tinha entendido o que ela havia dito em primeiro momento, até que a frase repetiu-se na minha cabeça com uma velocidade quase letal, cravando-se como uma shuriken.

– Ela acha que pode lidar com isso sozinha, mas eu tenho visto o quão quebrada está – Ino continuou. – Sakura não quis te contar porque... Bom, ela não queria que você sentisse isso que está sentido agora.

Talvez Ino tivesse dito mais algumas coisas, mas não acho que eu poderia ficar ali por muito tempo. Deixei seu consultório tão silencioso quanto entrei, procurando por uma ala específica, dois andares acima.

Eu sabia que Sakura ainda não estava lá, mas eu a esperaria. Talvez fosse inteligente ir para casa, conversar com ela lá, mas não podia até que soubesse exatamente como eu mesmo estava me sentindo.

Esperar e respirar seria mais adequado.

Odiava-me tanto por não ter insistido mais, por dar-lhe tempo enquanto ela lidava sozinha com o buraco que evitava surgir no meu peito. Sim, de alguma maneira ele estava lá, quase que em carne viva. Não sabia explicar o porquê da perda de algo que nem mesmo cheguei a conhecer me rasgava tanto, ou o porquê da omissão de Sakura me machucava naquele nível.

Havia deixado que ela se sentisse culpada por todos aqueles dias. Sim, tão pouco sabia dizer o que era aquilo que fazia com que os seus olhos, já sem brilho, evitassem-me tanto, mas estava tudo tão claro agora que ardia pensar: Sakura sentia culpa. Uma culpa que não era dela.

Eu, mais do que qualquer um, sabia o quanto a culpa era capaz de destruir alguém. Minha esposa estava se desintegrando por causa dela, bem na minha frente...

Não sei quando consegui chegar na sua sala particular, só me dei conta que estava lá quando meus olhos varreram um amontoado de pergaminhos sobre a mesa, a única coisa fora do lugar naquela organização neutra.

Ela estava lendo o próprio prontuário, por dias... Não tinha nada de errado com Uchiha Sakura, não fosse pela exposição a violência que resultou daquela maneira.

Meu punho acertou a superfície de madeira talhada, deformando um pequeno raio ao redor, antes mesmo que pudesse me dar conta do que fazia. Aquilo não chegava nem perto de uma maneira adequada para descarregar minha raiva.

Ah Sakura, por que não deixa que sua dor seja a minha..?

Decisões (SasuSaku)Where stories live. Discover now