III.I. Nunca baixar a guarda

12.7K 953 286
                                    

por Haruno Sakura...

Respirei fundo mais uma vez, as mãos erguidas em posição de defesa, as kunais tremiam na altura dos meus olhos. Meu corpo estava coberto de arranhões e terra, as costas ardiam com o recente ataque de shurikens que não fui capaz de desviar. Sen já tinha se livrado de todas as cinco que penetraram sobre meus ombros.

Não sabia o que estava acontecendo comigo, mas desde que aquela luta tinha começado, meu corpo não estava se comportando da forma esperada. Sen tentava me cobrir, mas ela não era tão habilidosa para lidar com o nível dos dois ninjas a nossa frente, ainda mais comigo passando mal daquela maneira.

Ah inferno!

Nunca me senti tão fora do controle de mim mesma... Precisava de tempo pra analisar o que estava acontecendo, mas já era difícil demais se manter de pé sem baixar a guarda.

– Aguente firme, Sakura-san – Sen repetia. Estávamos numa clareira,  esperando o novo ataque, os dois inimigos tinha sumido por entre as árvores.

Kakashi-sensei havia direcionado uma equipe grande para combater aquela mesma célula terrorista que afrontava Suna enquanto buscávamos por Kido há alguns meses. Os integrantes haviam contribuído nas ações daquele idiota ao envenenar os ninjas da areia a fim de me fazerem sair da vila, mas é desnecessário dizer que a intenção de me capturar havia ido por água abaixo ridiculamente. Só era curioso o porquê daquele grupo de nukenis ter topado em ajudar Kido em troca de favores tendo em vista que suas habilidades, por si só, eram razoavelmente ameaçadoras.

Tentamos cercar um grupo de oito pessoas ao encontrá-lo na fronteira do País do Fogo com o do Vento, mas eles tinham conseguido se separar, levando-nos a fazer o mesmo. Naruto e Sai se afastaram para o norte, Ino e Hinata seguiram ao oeste, Sasuke fora sozinho ao sul, enquanto eu e Sen seguimos a trilha de volta a Konoha, atrás dos dois estúpidos que agora nos atacavam.

A dupla adversária investia sobre nós a distância, assim como Sen, mas eu não estava ajudando a cobrir suas costas quando minha cabeça passou a vacilar, de modo que ela teve que me proteger em vez de revidar.

Nada entrava em foco, as kunais a minha frente tinham espectros incomuns, turvas. Não era um genjutsu, disso eu tinha certeza, contudo, só deixava as coisas piores. Eu precisava de tempo para um alto exame e um pouco mais para pensar em uma solução, mas esse luxo não era nem de longe o nosso caso.

– Sen? – chamei, em um sussurro.

– Aqui – ela respondeu.

– Infiltre um clone pela terra, o mais lento deles está atrás da primeira árvore em alinhamento perfeito com o seu ombro direito – avisei, arfando. Respirar doía, os cortes nas minhas costas ardiam a cada entrada e saída de ar, e sabe-se lá porquê eu não conseguia me curar com excelência. -
– Sufoque-o e o mantenha até que você possa chegar até ele de verdade.

– Mas você ficará sozinha...

– Sim, o outro aproveitará para se aproximar, meus punhos estarão esperando, prometo – sorri por cima do ombro, tranquilizando-a. A verdade é que não confiava no meu próprio reflexo, mas ela não precisava saber disso, contanto que pudéssemos nos livrar de um deles... – Quando estiver pronta.

Sen assentiu, seria e determinada. Seu clone já imobilizava o adversário na extremidade que indiquei.

Bastou que a original deixasse minhas costas em direção ao seu alvo para que um chute me atingisse em cheio no abdômen. Ele nem tinha sido tão rápido assim, mas meu corpo simplesmente não respondeu ao comando de repulsão.

Meus pés descolaram do chão, meu corpo se curvou e voou em direção às árvores opostas. O impacto das minhas costas contra um daqueles troncos expulsou violentamente todo o ar dos meus pulmões, por um segundo eu perdi a consciência, até que um novo contato involuntário me trouxe de volta; os joelhos aguentaram-me contra o chão no quicar do ataque.

Senti o sangue subir na minha garganta, derramando-se pela boca até as minhas mãos espalmadas na grama. Subi o olhar só para ver meu oponente se aproximar, o desejo assassino faiscava no seu. Ele estava tão seguro de si, que não percebeu a estrutura de água que se formou às suas costas. O calcanhar de Sen atingiu sua nunca com violência, acompanhando-o até depois da linha do chão.

Aquela lição nunca sairia de moda: em hipótese alguma, baixe sua guarda.

E pensar que eu julgara Sen insuficiente para aquela batalha, mas era evidente o quão errada estava, para nossa sorte. Ela ia aprendendo bem conosco.

Quis sorrir para sua vitória, mas uma dor alucinante me atravessou, tirando-me do ar pelos segundo seguintes. Curvei sobre mim mesma, abracando-me em uma tentativa inútil de diminuir o absurdo que eu sentia na base do meu abdômen. Nunca havia sentido algo parecido, nem mesmo o chute que acabara de receber havia doído tanto assim.

– Sakura! – Ouvi o grito de Ino. Senti mãos sobre meus ombros e a movimentação de dois chakras que não eram meus através de mim; era como se um me deixasse ao passo que o outro me invadia. Não sei em que ordem tudo aquilo aconteceu, não sei se havia mais alguém além da recente chegada. Minha cabeça explodia em resposta a dor que eu sentia, privando-me das noções mais básicas.

– Ino, de-me um momento – ouvi a voz de Hinata entre uma multidão de gritos, eu não conseguia nem mesmo abrir os olhos – Byakugan!

– Ela está sangrando! – era Sen, horrorizada demais para quem já tinha visto a profundidade dos meus ferimentos.

– Ino... – suspirou Hinata, aflita.

– Eu sei... eu sei... precisamos tirá-la daqui.

O que diabos estava acontecendo comigo afinal de contas?!

Queria desesperadamente poder projetar uma pergunta, mas meu maxilar estava tão tenso que pensei que quebraria. Meus olhos mantinham-se fechados pela dor que me rasgava de dentro para fora. Tentei procurar nos registros do meu conhecimento algum caso parecido, talvez tivesse veneno nas lâminas que me acertaram... Mas tudo estava tão deturpado dentro da minha mente.

Rezei para que meu cérebro desliga-se, rezei para que ele deixasse de tentar controlar a situação, rezei para me livrar da dor.

– INO?! – ouvi Sen mais uma vez, como quem exigisse a resposta de uma pergunta já realizada, uma que eu havia perdido.

– Ela está tendo uma aborto! -
– Foi a única resposta.

Então o silêncio, e apenas isso.

Decisões (SasuSaku)Where stories live. Discover now