III.III. A manhã seguinte

10.7K 942 139
                                    

por Haruno Sakura...

Primeiro veio a dor de cabeça, não tão alucinante quanto a última, mas ainda assim irritante. Demorei um pouco para abrir os olhos, lá fora estava extremamente claro, machucando-me a cada tentativa, de modo que pôr as coisas em foco tornou-se uma tarefa difícil em primeiro momento, mas no fim, consegui reconhecer Ino do restante dos borrões. A loira estava acomodada na poltrona de acompanhantes.

– Oi – sussurrei, desconfortável ao sentir uma ardência nas costas.

– Bom dia, testuda – respondeu, parecia um pouco aliviada. Pôs-se de pé só para sentar novamente na beirada do meu leito – Como se sente?

– Dolorida – tentei um sorriso, mas até aquele músculo estava adormecido – Dê-me menos analgésicos da próxima vez...

– Não me faça pensar em uma próxima vez, mocinha - ela disse, em repreensão.

O olhar feroz dela quase me fez rir, mas então lembrei o porquê de estar ali. De cada momento antes de apagar e, em especial, a última frase dita por Ino.

Não adiantava perguntar se estava tudo bem porque eu sabia que não.

– Quantas semanas? – foi só o que pude questionar.

– Sakura...

– Conte-me, Ino.

– Três – ela enfim respondeu.

O ar entrou muito rápido nos meus pulmões, evitei olha-la ao fitar a janela. Meus olhos umideceram, embaçando a visão do azul do céu lá fora... Antes fosse pela dor física que eu ainda sentia em respirar. Pelo menos ela passaria ao fim da recuperação.

– Não foi sua culpa, Testuda – Ino continuou – Ainda era muito cedo para uma suspeita, não tinha como saber.

– Ignorei os sinais pela missão... Fiquei tão concentrada em completá-la que ignorei to o resto.

– Se quer saber, surpreendeu-me o quão persistente seu corpo foi... Venho estudando seus prontuários desde ontem, quando chegamos. Acredito que se não fosse o impacto no seu abdômen, nada teria acontecido.

Eu apenas ouvia, não tinha energia e nem vontade para falar naquele momento. Uma nuvem solitária preencheu o quadro da janela, não sei que formato tinha, era apenas um pesado amontoado de água que insistia em desafiar a gravidade.

– O feto já tinha um grande potencial de chakra, resistiu bem. Pode não ter notado, mas seu corpo já o protegia também. Achei que gestações dessa natureza, de um clã forte para com um nem tanto, tivessem certo nível de risco nos primeiros dias, mas você parece perfeitamente capaz..

– E mesmo assim não foi o suficiente - a interrompi.

Não queria saber do quanto meu corpo lutara bravamente, ou do que poderia ter sido diferente se aquela batalha tivesse acabado mais cedo. A única coisa que resolveria teria sido priorizar minhas pequenas alterações de chakra quando as mesmas começaram há duas semanas. Eu era conhecida por ter superado até mesmo Tsunade-sama, especialmente em controle do próprio poder, mas, para que tudo aquilo servia agora?

O buraco no meu coração jamais fecharia. Conheci meu bebê no dia em que o perdi, indefeso e esperando por mim para protegê-lo, e eu deliberadamente decidi ignorá-lo pela porcaria de uma missão.

– Não se culpe, testuda – pediu a Yamanaka, sua mão apertando a minha.

Finalmente virei-me para ela. Ino não merecia minhas reações, afinal, se não fosse por ela, eu provavelmente estaria morta também. Contudo, ela ainda entendia minha dor e eu esperava que nunca precisasse.

Decisões (SasuSaku)Where stories live. Discover now