IV.I. A jornada Uchiha

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por Haruno Sakura...

Hinata cobriu a boca com uma das mãos, os traços de seu Byakugan sumiram, dando lugar a linhas de pura surpresa. Seus olhos perolados me fitavam maravilhados. Era para ser nossa última checagem de rotina, para ter certeza de que seus olhos estavam bem depois de tudo. No entanto, acabou se tornando inevitável que ela soubesse, afinal, eu precisava de alguém para me cobrir no plano que estava prestes a executar.

– Sakura-chan... – ela suspirou, tentando formular uma frase plausível, mas era claro que a notícia a deixara em choque. Eu mesma fiquei sentada por uma hora completa no meu quarto, tentando assimilar tudo com cuidado – Você...

– Sim, Hinata – concordei, deixando meu corpo cair sobre a cadeira a sua frente. Estávamos na varanda de sua casa. Certifiquei-me previamente de que Naruto não estaria lá para ouvir alguma coisa. – É a frequência de chakra de uma gestação. Kami-sama sabe o quão difícil foi me adaptar aos colapsos de energia.

– Quanto tempo?

– Considerando que Sasuke partiu há um mês, acredito que eu esteja de cinco semanas.

– Oh, Sakura-chan! Isso é tão bom de se ouvir – ela terminou por sorrir, tão abertamente que senti as lágrimas muito próximas de mim.

Hinata estava lá quando perdi o meu primeiro bebê, quando não fui capaz de protegê-lo... A minha melancolia também a preocupara.

E agora, seu sorriso contente contagiou meus lábios de modo que ficamos pelo momento seguinte aproveitando a graça daquela nova chance.

– Sinto ele há duas semanas – informei, depois de um tempo. Minha mão direita espalmada sobre o ventre ainda plano. – São sinais fracos, mas que provoca grande mudança ao longo do corpo. É uma loucura.

– É um Uchiha, o potencial de chakra já queima dentro de você. Diria que está uma verdadeira bagunça na altura da sua cintura, Sakura-chan... Mas, como vai contar a ele?

Voltei meus olhos para Hinata. Engoli em seco quando ela entendeu minha angustia, de maneira que se reorganizou no próprio assento. A então Hyuuga-Uzumaki poderia ser tímida, mas era muito perspicaz na sua reserva.

– Não, não, não... Não pode fazer isso, Sakura-chan. Ir atrás dele nessa nova condição é loucura. Estará pondo tudo em risco!

– Considerando o tempo desde que partiu, ele não deve ter ido tão longe, principalmente se tiver pedido ajuda a Taka como eu acho que o fez. Quanto mais cedo eu sair, mais cedo o encontrarei.

– Mas ainda há um raio enorme de possibilidades!

– Kakashi-sensei deu-me os planos de partida, assim como relatórios do Capitão Yamato com a atual localização de Orochimaru, tendo em vista que os membros da Taka estão com ele... Sei aonde procurar.

– O Rokudaime não pode deixa-la partir em uma missão assim. É contra as regras.

– Ele não sabe...

– Sakura-chan!

Hinata estava preocupada novamente, era de sua natureza gentil e altruísta, não havia nada que eu pudesse fazer. Ela tinha visto o que acontecera da última vez, o quanto todo aquele transtorno esteve tão perto de me destruir... Contudo, ainda assim não me convenceria a desistir agora. Eu sabia o que estava fazendo, não seria como antes, quando tudo o que aconteceu passou por mim como um relâmpago cruel. Dessa vez, eu não perderia absolutamente nada, evitaria a tempestade e conseguiria encontrar Sasuke.

Respirei fundo, tentando reorganizar minhas palavras afim de fazê-la me ajudar.

– Escute, Hinata. É tudo que lhe peço – comecei, voltando a baixar os olhos para o meu colo. – Não quero ter que me imaginar explicando para Sasuke o porquê de uma criança está usando o emblema dos Uchiha quando ele voltar para casa, tão pouco quero lhe dizer isso por cartas... Não é assim que imaginei todo esse momento, não é assim, por um pedaço de papel, que quero que aconteça. Além do mais, alguém inteligente o bastante pode interceptar as correspondências e por em risco tudo aquilo que estou tentando zelar.

– Mas sair assim também vai lhes expor ao perigo, Sakura-chan! – Hinata tentou. Inclinando-se para alcançar uma das minhas mãos.

– Sei que sim, mas evitarei qualquer confusão no caminho. Como eu disse: quanto mais cedo eu sair, mais cedo vou achá-lo e mais cedo isso tudo vai se resolver. Tem sido difícil, mas ainda tenho o controle do meu chakra, apesar das alterações recorrentes provocadas pela gestação. Posso prevê-las e controla-las.

– Então eu vou com você, poderei lhe cobrir se as coisas ficarem perigosas...

– Certamente, me sentiria mais segura. Mas preciso de você aqui para explicar a Naruto e ao Kakashi os motivos do meu sumiço. Pode contar tudo a eles quando derem por minha falta, mas os faça ficarem na vila. Se forem atrás de mim, vão querer me fazer voltar e eu não posso. Preciso contar a Sasuke pessoalmente.

Hinata apertou minha mão um pouco mais, enquanto tentava decidir a qual lado favorecer na sua batalha interna. Eu podia ver a confusão através de seus olhos e pedia com os meus para que ela escolhesse me ajudar, sem questionar. Sabia que ela era capaz de moldar Naruto facilmente ao seu favor se assim o quisesse. Em dadas circunstâncias, talvez fosse a primeira e única pessoa que poderia chegar a tirar algo da cabeça dele.

– Você é a kunoichi mais forte que conheço, Sakura-chan, espero que com isso saiba o que está fazendo – ela começou a dizer. – Não sei se concordo com o que está fazendo, mas irei ajuda-la.

– Hinata, eu...

– Peço que me agradeça dentro de mais um mês. Até lá, se não houver notícias suas de que o encontrou, eu mesma irei segui-la e a trarei de volta... Sei que não pode fazer isso sem ele, Sakura-chan, acho que eu tão pouco conseguiria se estivesse no seu lugar, mas como sua amiga, devo protege-la também, inclusive de si mesma.

Antes que pudesse me dar conta, meus braços já estavam em volta dos ombros de Hinata, e minha cabeça apoiada neles. Não havia como pôr em palavras a minha gratidão para com tamanha lealdade da parte dela. Estaria sendo muito insensível se não deixa-se que a culpa de fazê-la mentir para o próprio marido e kage me aborda-se.

– Naruto vai querer buscá-la, com certeza, então acho que não vou contar a ele sobre sua gravidez até que esteja de volta. Também acredito que seria bom que ele ouvisse isso da própria melhor amiga, mesmo que a próxima vez que a ver, seja-la quando for isso, a informação já possa estar bastante evidente de alguma maneira.

Apertei-a um pouco mais nos braços, tomando cuidado em lhe transmitir admiração e não desconforto com a minha força. Hinata me abraçava de volta com carinho e cumplicidade.

Pensei em contar para Ino e pedir-lhe ajuda também, mas ela não me deixaria ir e tão pouco seria capaz de conter Naruto. Sabia que ambas estavam certas nas decisões, a preocupação era mais que compreensível e eu certamente deveria escutá-las. Contudo, não tinha chance alguma de passar pelo processo mais importante da minha vida sem Sasuke ao meu lado, afinal, não era como se eu tivesse feito tudo sozinha. Ele tinha o direito de ver a reafirmação de sua família, de saber sobre ela sem ser surpreendido futuramente.

Sasuke precisava saber que, definitivamente, seu sangue não pertencia mais só a ele.

– Hinata-san... Arigatou.

Decisões (SasuSaku)Where stories live. Discover now