III.VI. Um dia comum

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por Uchiha Sasuke...

Andava sem ser incomodado, as pessoas em geral nem mesmo dirigiam a mim um simples olhar e eu tão pouco estava prestando atenção no tráfego, até flagrá-los.

Não era como uma percepção de chakra, eu sabia que ela estava ao redor apenas por saber. Era levado a isso, como se um espectro passasse os dedos no meu queixo e o direcionasse em sua direção.

Parei a duas esquinas de distância quando vi Naruto abraçar Sakura, descansando o rosto sobre os cabelos dela em frente a fachada do Ichiraku. O sentimento naquele ato manteve-me enraizado no lugar ao observá-los. Sakura parecia ter sido pega de surpresa, pois demorou um pouco para respondê-lo, mas quando o fez, talvez fosse capaz de quebrá-lo se não tivesse mais cuidado.

Não pude conter a elevação mínima de um dos cantos da minha boca ao sentir a onda de fraternidade que emanava daquela cena. Naruto a abraçava como a uma irmã; protetor, dotado de uma cumplicidade que só ele podia compartilhar com ela. A reação de minha esposa não foi diferente, escondendo o rosto no peito dele, aproveitando a segurança peculiar daquilo tudo.

Era, de alguma maneira, bom saber que ela jamais se perderia na solidão, acontecesse o que acontecesse.

Por muito tempo eles tinham sido a família um do outro, aquela mesma que tanto neguei, mas sempre esteve lá para mim.

Quando olho para o que me tornei, estaria mentido se dissesse que me arrependo por inteiro. Talvez das coisas que fiz, em parte, pois é importante ter em mente que ainda preciso pedir muito perdão por elas. Mas tão pouco seria capaz de valorizar aqueles dois se não tivesse ido até o inferno para só então regressar. Se não tivesse conhecido a pior face de mim mesmo, de modo a me certificar que eles, ali, eram o melhor de mim.

Não justifica o sofrimento que causei, especialmente para ambos, e jamais justificará. No entanto, querendo ou não, o passado me tornou o que sou hoje e não sei se conseguirei ser grato o suficiente pela persistência de Naruto em me trazer de volta, de volta para ela.

Sem Sakura, nenhum de nós teria ido muito longe...

Separaram-se, mas o loiro permaneceu com as mãos sobre os ombros dela. Disseram algumas coisas e depois riram, adentrando no restaurante de ramen.

Minha intenção era seguir para um encontro com o Hokage e o teria feito se não soubesse que os pergaminhos podiam esperar um pouco mais, bem como a conversa que eu vinha evitando há semanas para ter com ele. Não havia comido nada a manhã inteira e a julgar pelo jaleco dobrado sobre a bolsa que Sakura carregava, ela não tinha nem mesmo passado em casa durante a troca de turnos. Embora não fosse como se eu precisasse explicar, era uma boa desculpa.

Aproximei-me em silêncio, passando pelas bandeirolas sem quase tocá-las. Sakura estava ocupada demais repreendendo Naruto por uma piada para notar que sentei no banco vazio ao seu lado esquerdo. Por outro lado, ele tinha me visto, de modo que abriu um sorriso que quase não cabia na sua boca, fazendo Sakura volta-se para mim.

– Você... – disse, surpresa, abrindo um sorriso genuíno. Era incalculável o meu alívio ao vê-la sorrindo daquele jeito depois de semanas sem nem mesmo levantar os olhos.

– Aumento mais uma porção? – perguntou o chefe, olhando para nós sobre os ombros, suas mãos trabalhavam nas chapas super aquecidas.

Limitei-me a assentir, apenas.

– Vai chover, o teme vai almoçar com a gente! – anunciou Naruto.

– Mais alto, acho que a fronteira ainda não te ouviu – sugeri, indiferente.

– Desculpe não ter voltado mais cedo, foi um noite corrida no hospital – Sakura explicou, meio alheia, organizando o cabelo no alto da cabeça – Estendeu-se até agora, o que quer dizer que preciso comer, então dormir. Dormir para o resto do dia, se puder.

Ela realmente parecia cansada e o calor da estação a incomodava, mas, de alguma forma, aquela áurea de tristeza tinha sumido, nem mesmo seu rosto estava mais tão pálido.

Não gostei da idéia de deixa-la no hospital depois da nossa conversa, mas me garantiu que se sentiria melhor ao trabalhar tendo em vista que eu também não voltaria para casa por aquela noite. Deixa-la completamente sozinha também não era uma opção, não por ora.

– Kakashi-sensei queria ver você, Sasuke – comentou Naruto, apoiando os cotovelos no balcão e o rosto nos punhos. Seus olhos brilhavam para com os nossos ramens sendo preparados.

– Sim. Fui recolher algumas informações na fronteira leste – respondi. – Ele quer a criptografia o quanto antes.

– O que está havendo afinal? – Sakura intrigou-se.

– Ainda não sabemos, o Hokage prefere manter seus palpites para si mesmo até ter certeza.

– Seja lá o que for, ele sempre tem certeza, dattebayo!

Sakura deu de ombros. Nossos ramens foram servidos e Naruto não demorou a devorar o seu. Era óbvio que já tinha outra tigela para ele. Aquele idiota nunca se contentaria com apenas uma.

Não comentei, ou demonstrei, mas estava satisfeito ao ver Sakura se alimentar de uma porção completa. Há dias ela não tocava na comida. Ela era péssima na cozinha, um fato abertamente trabalhado, mas nunca deixava as coisas estragarem como tinha acontecido recentemente.

– Certo. Por que Hinata não está conosco? – Sakura quis saber.

Estava muito quieto, ela odiava quando ninguém falava nada – o que, diga-se de passagem, era um desafio para quem morava comigo.

As coisas estavam voltando ao normal.

– Em uma missão com Kiba e Shino. Saíram ontem. – Naruto respondeu.

– Hmmm...

– O que, o que foi?

– Nada. Só sinto falta dela. Ela é a única coisa que presta em você.

– Hoi! Qual é?!

– Você não ousaria me chamar de mentirosa, não é?

– Bom... tenho muitas outras qualidades, viu mocinha?!

– Tipo quais?

– Sou mais forte do que seu marido, dattebayo!

– Grande coisa!

Revirei os olhos.

– E não tenho uma testa tão grande.

Continuei minha refeição enquanto o punho de Sakura descia sobre a cabeça de Naruto, forçando o rosto dele contra a tigela de ramen, o impacto até fez a minha saltar um pouco. Sorte dele é que não tinha mais nada dentro do recipiente que pudesse queimar sua pele e que o mesmo era de um material flexível.

– Cale sua maldita boca, baka!

– Sasuke!

– Nem olha para mim, dobe. Foi você quem pediu.

Decisões (SasuSaku)Where stories live. Discover now