III.X. Na próxima vez

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por Uchiha Sasuke...

– Podemos lidar com as ameaças daqui – Naruto comentou. – Não acho que precise ir embora de novo.

– Nós dois sabemos que não consigo fazer as coisas como você – respondi, fitando toda a extensão da vila a nossa frente. – Peregrinei para tentar ver o mundo como você o faz e de alguma maneira ser merecedor da minha redenção. Agora que tenho as duas coisas, preciso zelar por elas. Do meu jeito.

– Você é um aluno meio torto, mas até que aprendeu bem – brincou, sorrindo contra a luz ainda turva da aurora.

Era fato que ele não concordava comigo. Afinal, seria rasgar o contínuo espaço tempo se um dia chegássemos a concordar em alguma coisa, mas ainda assim ele entendia.

Uzumaki Naruto: sempre um passo a frente de qualquer outro shinobi.

– Então acho que vou também, dattebayo – sugeriu, pondo os braços atrás da cabeça. Vi a animação dessa idéia brilhar nos seus olhos.

– Ainda precisa se tornar um Hokage, não vai conseguir fazer isso longe de casa.

– Oba-chan discordaria de você...

– Cuide das coisas aqui enquanto eu o faço lá fora. Serei uma extensão de você, Naruto.

Estávamos sobre a cabeça do Yondaime, no monumento dos Hokages, com toda a vila logo abaixo de nossos pés.

– Quem sabe eu não volte e seu rosto esteja por aqui também.

– Não ouse demorar tanto assim!

– Então quer dizer que ainda não está pronto? – provoquei.

– Baka! – Naruto gritou, apontando o dedo para mim. – É claro que não! Dattebayou! Estive pronto desde que nasci!

– Sei... – murmurei, dando de ombros.

– Quer saber? Não vou discutir isso com você. Sei o que está tentando fazer.

Não respondi. Ficamos em silêncio por mais um par de minutos. Era algo confortável, mas pesava sobre nós. Partir estava se tornando cada vez mais difícil, afinal.

– E Hinata?

– Ela está em casa. Vai tudo bem, ainda que precise descansar por mais uma semana. Alguns especialistas do clã Hyuuga estão a acompanhando agora.

Em parte, aquele resultado tinha ajudado Sakura a lidar melhor com o breve rompimento. Sua ansiedade não mais lhe tirava o sono, embora ainda me procurasse dentro de seus sonhos. Não fui capaz de dormir nas duas últimas noites, velando-a atentamente. Esperava que cada traço sereno, protegido da realidade pelo grosso manto de seu sono, ficasse gravado na minha mente.

– Como Sakura-chan reagiu? – Naruto quis saber, depois de um tempo.

– Ela ficará bem.

– Isso quer dizer que terei que comer ramen com ela todos os dias...

– Não é como se você fosse reclamar também.

– Teme! Não é isso... Só odeio pensar que Sakura-chan pode se sentir sozinha. Da última vez, era difícil tira-la do hospital, sempre tinha um caso muito sério para resolver. Tsunade-oba-chan teve que expulsá-la em várias ocasiões.

A situação toda era desconfortável, mas Sakura e eu teríamos que nos adaptar novamente e lidar com ela. O tempo seria nosso maior inimigo no fim das contas, mas em algum momento até ele voltaria a se render. Não era como um adeus, e sim um até breve.

– Só não deixe que ela faça isso de novo – pedi.

– Estou sempre cobrindo você, não acha? De qualquer forma, Sakura-chan continua tento a vida dela, assim como todos nós... Só não vamos tratar isso como um fim, certo? Faça o que tem que fazer e não enrole muito quando acabar, apenas volte. Não acho que terei tempo pra ir lhe buscar dessa vez.

Tcs... Era irritante a forma como ele conseguia controlar as coisas daquela maneira, como se o mundo fosse feito para ser moldado aos seus caprichos e desejos. Naruto sorria e tudo de repente parecia muito fácil. Contudo, funcionava como uma Kekkei Genkai, mais raro até do que meu próprio Sharingan: só ele possuía tamanha habilidade.

– Precisamos ir – avisei ao desviar os olhos para as copas douradas no horizonte, o sol despontava por entre as árvores, avançando para mais um dia. – O Rokudaime deve estar nos esperando.

– Não tenha tanta pressa. Não é como se ele fosse a pessoa mais pontual que conhecemos.

Seguimos por entre as coberturas. Saltando de telhado em telhado até o portão principal de Konoha. A vila, certamente, tinha crescido bastante nos últimos anos. Despedi-me dela por mais uma vez naquele percurso. Vi o sorriso gentil de Itachi em algumas esquinas e as coisas se aqueceram em mim.

Doía partir porque parte de mim iria ficar, mas era a coisa a certa a se fazer. Enquanto aquela aldeia estivesse intacta e de pé, os sacrifícios seriam honrados.

Aterrizamos e, por incrível que parece, Kakashi-sensei estava de pé a nossa espera, as mãos nos bolsos e a postura relaxada.

Ao seu lado, Sakura fitava a longa estrada ladeada de árvores que se estendia a nossa frente. Ela nem mesmo pareceu notar que chegamos e se o fez, não demonstrou. Estava ficando boa nisso, mas particularmente, não sei se achava algo bom ou ruim.

– É desnecessário lhe dizer as mesmas coisas que disse da última vez – começou o Hokage. – Sabe o que investigar e a quais lugares ir. Se tiver que tomar alguma decisão extrema, me consulte. Responderei o mais rápido possível.

– Se precisar, me chame – Naruto avisou. – Não seja orgulhoso.

– Sim – respondi aos dois, mas não os encarava diretamente. Não quando ela parecia tão distante.

Minha voz a despertou. Sakura voltou-se para mim devagar e de novo, estava tudo lá, nos olhos dela. As expressões eram indiferentes, mas o verde não podia esconder tudo. Odiava que todo aquele brilho que vi ali por semanas tivesse sumido um pouco, perdendo a força.

– Irei lhe responder se quiser – avisei. Ambos sabíamos que eu falava das cartas.

– Certo – Sakura assentiu, com um leve sorriso de lado. As mãos estavam unidas na altura do quadril.

Meus dois dedos tocaram o centro de sua testa e permaneceram ali.

– Só não demore muito – ela pediu, sem graça. – Não quero ter que ir atrás de você, parece cansativo e eu tenho um hospital pra cuidar.

Sorri-lhe de volta, ainda que de modo muito sutil:

– Vejo você dá próxima vez – disse por fim – Tente ser menos irritante até lá.

Decisões (SasuSaku)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora