t r i n t a e c i n c o

60.6K 5.5K 794
                                    

Meses depois...

carter

Peguei meu diploma e o olhei, com um intensivo estudantil e alguns professores em casa consegui me formar no terceiro ano em alguns meses. Acho que isso é o mais perto de superação que pude chegar.

Naquela manhã quando Kate me abraçou e disse "você não está sozinha", e em seguida com sua mãe, e até a minha, presentes, ela me contou sobre a morte de Jared durante a fuga que ele tramava com os outros presos.
Se tivessem enfiado uma faca no peito eu teria sentido menos dor. Eu quis morrer. Ao receber a notícia tiveram que me levar para o hospital, pois eu tive uma crise nervosa e precisaram me cedar, eu definitivamente surtei.
Com isso meu caso de depressão se desenfreiou.

Mas algo em meio ao torpor do momento, me surpreendeu, eu em toda minha vida, não esperava.O bar, e tudo que Jared tinha, foi deixado para mim num testamento me colocando como herdeira universal de tudo. Eu nunca imaginei que ele tivesse tanto dinheiro e nem que ele tivesse pensado em mim em tão pouco tempo, e não entendia como ele tinha feito aquilo, ele parecia saber que estava indo naquele galpão, quando fui sequestrada pelo meu meio irmão... Para morrer. Provavelmente foi ai que ele decidiu fazer de mim a dona de tudo o que ele tinha... Mas eu não queria isso, eu queria ele.

A dor foi tanta que chegou a ser física.

Mas tanta coisa aconteceu nesse tempo. Eu me emancipei, voltei a conversar com a minha mãe, sai da casa da tia Gina e resolvi viver, pode até parecer masoquista, no flat do bar. Eu fiquei muito mal, cheguei a beber todo o estoque dele, passei noites em claro chorando, e definhei... Com um dinheiro que eu não queria, Kate me obrigou a terminar meus estudos, mesmo que fosse em casa, então eu o fiz, pois só restavam poucos meses para que eu me formasse. E tivesse minha liberdade, mas minha vida, mesmo eu ainda sendo tão jovem, se tornou cinza. Amarga.

Pior é nem ter meu luto, o corpo de Jared não foi encontrado, afinal só tinha cinzas no local, ele foi o primeiro preso a ir no túnel segundo um dos sobreviventes, nesse local encontraram cinzas de um corpo e uma lanterna (a que ele usava, queimada e estilhaçada).

Eu odiava imaginar a dor que ele sentiu ao morrer queimado, o sufoco, era uma tortura sem fim.

Olhei a minha volta, esse flat estava uma bagunça, resolvi dar um jeito nele, mesmo não tendo ânimo para nada. Eu durmo no quarto de hóspedes, não gosto nem de entrar no quarto dele. Esta do mesmo jeito que ele deixou, e assim vai ficar, claro, que vou ter que limpa-lo.
Eu ainda não toquei no dinheiro e nas propriedades que ele me deixou, eu não consigo. Não posso me desfazer, algo dentro de mim não me deixa. Nem mesmo as roupas eu consegui doar.

Decadente, eu sei.

Entrei em seu quarto e respirei fundo, seu cheiro já não estava mais ali, o que para mim parecia pior do que quando ele estava. Era como se ele...

Arrumei tudo ali entre lágrimas, recordações e um vazio cortante no peito. Aquele lugar era dele, era...ele!

Ajeitei umas coisas no quarda-roupas, mas como sou desastrada acabei derrubando a barra de sustentação fazendo várias camisas caírem, mas ao se chocar contra a lateral do lugar fez um barulho estanho. Diferente. Bati no lugar. Estranho.
Bati do outro lado.

Barulho normal.

Bati no centro. Normal.

Naquele lugar... Era oco.

E vi ali alguns lugares para encaixe de chave de fenda. O que poderia ter ali?

_____________________

Alguém realmente está morto.

o dono do bar.Место, где живут истории. Откройте их для себя