Sentimentos Aflorados

3

Miguel

— Que tal Nova Iorque? — Ester pergunta ao meu lado, a espera de uma resposta da minha parte.

Ela olhava para todos os lugares que gostaria de ir, enquanto eu olho para o nada.

— Por que tão longe? — Pergunto para fingir interesse.

Só que eu não estava interessado. Em nenhum lugar que ela escolhesse por sinal, eu só queria sair daqui e encontrar os meus amigos.

— Dois motivos: tranquilidade e descanso — ela diz ainda com os olhos no papel, com um sorriso nos lábios.

— Vamos ter isso que você estar procurando em qualquer lugar, não precisa ser tão longe assim — digo bem rápido.

Aliás, nem precisamos viajar.

— Pois você sugere que lugar? — Ela deixa o papel de lado e olha para mim, arqueando uma sobrancelha.

— Que tal... Rio de Janeiro — digo o primeiro lugar que aparece a minha mente.

— Rio de Janeiro, Miguel? Nós vamos passar a nossa lua de mel no Rio de Janeiro, foi isso mesmo que eu acabei de ouvir? — Ester já começava a elevar o seu tom de voz.

Me esqueci que a Ester tinha o sonho de conhecer países estrangeiros.

— Pois então eu não sei porque você sempre pede a minha opinião, se você nunca a usa. Escolhe qualquer lugar aí e pronto — cruzo os braços e suspiro, olhando para o lado contrário que não seja a Ester e os seus papeis de viagens.

— Só porque você disse que eu só peço a sua opinião e nunca a uso, agora eu vou usar. Vamos para o Rio de Janeiro! Vou lá falar com o atendente — vejo Ester indo para perto deles.

Já era para mim estar perto de se casar, mas como eu tenho a melhor irmã do mundo, ela queria porque queria se casar no mês que conheceu o Ben, em julho. Então eu cedi, porque na igreja não havia mais vagas para esse mês, e eu acabei dando a minha vaga para ela. E como eu vou ajudar com os preparativos do casamento dela, não tem como eu fazer o dela e o meu já para o próximo mês, então eu remarquei a data para daqui dois meses, me dando esse tempo para reconquistar a Flávia.

— Pronto já está tudo certo para a viagem, agora só falta a gente se casar — Ester chega bem perto de mim e me dar um selinho.

"Se casar"... essa palavra me soa tão estranho agora.

— Certo, vamos para casa — começo a andar e então ela segura o meu braço, fazendo-me virar para ela.

— Por que não vamos para um outro lugar? — Ester me lança uma cara maliciosa, que na mesma hora eu entendi o que ela queria fazer.

Mas eu não quero fazer isso agora, eu tenho outro lugar para ir.

— Você sabe que eu tenho que voltar para casa, minha irmã está me esperando — eu já tinha dito isso a ela. Agora ela vai querer saber bem o que eu vou fazer.

— Pra quê? — Ela pergunta, confusa.

Não falei?

— Nós vamos sair — digo para ela.

Não quero entrar em detalhes para onde eu vou ou o que irei fazer.

— Eu posso ir também? — Ela faz aquela cara que só ela sabe fazer quando quer alguma coisa.

Mas isso não vai funcionar dessa vez. Ela atrapalharia tudo.

— Não, é só para os amigos — continuávamos conversando enquanto saíamos do estabelecimento.

— Porque você nunca me leva para esses seus encontros com os seus amigos — ela segura novamente meu braço.

— Para quer que você quer ir? Você nem gosta deles — digo a verdade.

Ela nunca gostou de nenhum dos meus amigos, nem mesmo o Cauã e o Otávio que são os que ela conhece a mais tempo.

— Para sair com você, Miguel. Faz tanto tempo que não saímos juntos, eu tenho que arrumar qualquer jeito de sair com você, nem que seja para ficar perto dos seus amigos — Ester diz, seu semblante estava triste.

Fico com pena dela, ela me ama, enquanto eu já não sinto mais o mesmo. Ok, ela venceu, vou fazer o meu papel de namorado.

— Podemos sair depois juntos, se é isso que você quer, mas um outro dia e uma outra hora, hoje não dar — abro a porta do carro para ela.

— Pois vamos logo para sua casa, senão você vai se atrasar para o seu encontro — ela diz assim que me sento ao seu lado, e eu percebo um certo tom de ironia.

Reviro os olhos e sigo para minha casa, tinha que buscar a Jade.