Sentimentos Aflorados

29

Flávia

— Flávia vem, já está na hora de você subir ao altar — Eloá para ao meu lado, e diz com um sorriso no seu rosto.

— É mesmo — digo para ela e para mim mesma, o que faz eu logo ficar nervosa.

Chegou a hora. Chegou a hora. Chegou a hora!

— Filha? — Minha mãe me chama. Me viro para vê-la caminhando na minha direção.

— Mamãe — a abraço bem apertado.

— Minha querida, você está tão linda — ela se afasta um pouco de mim, para poder me olhar melhor. Pega carinhosamente no meu rosto e alisa a minha bochecha.

— E o papai? — Pergunto assim que ela tira a sua mão do meu rosto.

— Ele já está a sua espera — mamãe sorrir, alegremente. — Eu só vim aqui te ver, antes de você ir se juntar ao Miguel.

Ah, mamãe... — lágrimas começam a se formar nos meus olhos, mas elas não chegam a cair.

— Vamos amiga — Heloísa diz encostada na porta. — Está na hora.

— Vamos! — Dou uma última olhada no espelho. Me examino. Eu estou linda. Maravilhosa. E vou me encontrar com o meu homem dos sonhos. Respiro fundo e saio do cômodo em que eu estava com as minhas amigas e minha mãe.

Vejo o meu pai bem perto da entrada e me dirijo até ele.

— Meu amor — meu pai me abraça brevemente.

— Papai — digo com os olhos marejados novamente, mas dessa vez eu não consegui segurar as lágrimas.

— Você vai ser muito feliz, meu amor — papai limpa as minhas lágrimas que eu deixei livremente cair. — Não chore, princesa — eu paro de chorar e ele me dar um sorriso de orelha a orelha. — Agora eu preciso te levar ao altar. — Eu concordo com a cabeça e nós seguimos em direção a minha felicidade.

A música começa a tocar e o meu coração começa a acelerar.

Eu já havia sonhado muitas vezes com esse dia, como ele seria, e como eu estava muito feliz em realiza-lo. Mas hoje aqui, agora, olhando na direção do Miguel, eu percebi que isso nunca sequer esteve nos meus sonhos.

Essa felicidade.

Meu pai me conduz até o altar e a medida em que nos andávamos eu não desgrudava sequer meus olhos do Miguel, do qual olhava para mim com um sorriso magnífico nos lábios e um brilho no olhar, o brilho que só ele tem quando está comigo.

Ele está perfeito nesse terno. Perfeito para mim.

Quando eu já estava perto o suficiente dele, ele vem na minha direção. Meu pai solta meu braço, gentilmente e me entrega ao Miguel, que logo pega na minha mão e fica em seguida ao meu lado.

Nos sorrimos um para o outro. Até que ele abre a boca para falar alguma coisa.

— Eu preciso te dizer uma coisa, antes de começar — Miguel anuncia. O Cauã chega ao seu lado e entrega um microfone para ele, sorrindo. E eu fico confusa, o que eles estão tramando?

Nós havíamos escolhido o Cauã para ser nosso padrinho e a Heloísa para ser nossa madrinha de casamento, há algumas semanas atrás. Eles ficaram muitos felizes com a notícia e chegaram até a dizer que não imaginavam. Mas como assim eles não imaginavam?

A Heloísa sempre foi minha amiga, desde que nós somos pequenas, e com isso nós criamos uma irmandade, até chegávamos a dizer que nada e nem ninguém iria nos separar, que não importasse o que acontecesse nós sempre estaríamos juntas, pois nós somos irmãs, mesmo que não sejamos filhas dos mesmos pais.

Já o Cauã, ele foi a primeira pessoa que eu conheci aqui em Recife, depois da Jade e do Miguel. Ele é o meu melhor amigo, eu sei que eu posso contar com ele para o que der e vier, pois ele sempre esteve ao meu lado, ouvindo os meus problemas e nunca sequer desistiu de mim. Da nossa amizade. Mesmo quando eu fui morar em Natal. E que meses depois quando eu já estava namorando com o Miguel novamente, ele veio me contar que, em todos aqueles cinco anos, ele sempre contou ao Miguel como eu estava, se estava feliz, triste ou com alguém. Eu achei que ao saber disso ficaria chateada, pois eu confiava bastante nele, mas eu só o agradeci, pois ele não falava dando a certeza, ele deixava para o Miguel pegar a referência no ar.

O Miguel finge uma tosse para conseguir a minha atenção e a de todos ali presentes, ele deve ter percebido que eu estava absorvida em pensamentos. Saio rapidamente do meu devaneio, colocando a minha atenção totalmente nele.

— O tempo todo eu procurei no lugar errado, você sempre esteve tão próximo a mim, mas tudo que acontece tem seu propósito, e aquele dia em que seu olhar cruzou com o meu, eu tive certeza de que algo bom aconteceria, eu só não sabia o que... — ele respira um pouco, pois havia lágrimas nos seus olhos, não derramadas, e depois de alguns segundos ele volta a falar novamente — eu só não sabia que me apaixonaria por você. Eu te amo, meu sol — Miguel olha diretamente para mim, no fundo dos meus olhos e eu me perco no seu olhar.

Eu me derreti com as suas palavras dirigidas a mim. Eu também precisava dizer alguma coisa para ele. Eu também precisava lhe dizer o quanto o amava.

— Me pego pensando nessa nossa história que estamos construindo juntos, e a cada dia que passa aumenta a certeza de que você é aquele alguém que sempre procurei, nos seus olhos me encontrei — sorrio e coloco a minha mão em cima do seu peito, perto do seu coração. — Naquele dia eu sabia que você seria meu, te quis de um jeito que nunca quis ninguém, desejei que seu sorriso fosse meu e que seu coração batesse mais forte quando me visse, porque era assim que eu me sentia — relembro do momento em que nos vimos pela a primeira vez. — Eu também te amo, minha lua.

Ele abaixa a cabeça e quando a levanta novamente, lágrimas caíam de seus olhos e ele tentava as enxugar, o que foi em vão. E eu acabei não tendo mais forças e o acompanhei. Nós dois estávamos ali, chorando.

Chorando por tudo que havíamos passado até agora e chorando pelo o futuro lindo que teríamos juntos pela a frente.