Sentimentos Aflorados

36

Miguel

— Você vai ser pai? — Cauã me pergunta o que eu tinha acabado de dizer a ele, ou melhor a todos eles, já que eu estava conversando com os meus amigos e acabei dando a notícia de que seria pai. Todos eles ficaram de queixo caído, completamente embasbacados, mas depois que eles se recuperam, no lugar do choque, aparece um largo sorriso nos rostos de cada um.

— Sim, eu vou ser — confirmo novamente. Sorrio para eles, esperando que todos percebam a alegria que mal cabia dentro de mim.

— Nossa, que maneiro — Ben diz ao meu lado, me fazendo tirar a atenção do Cauã, para encara-lo.

— Muito maneiro — respondo.

Agora finalmente eu consigo entender melhor quando os meus amigos me contaram que seriam pais, a energia que cada um transmitia e a maior dificuldade de ambos. Quando o Otávio me contou que seria pai, há sete anos atrás, ele era bem jovem, estava em torno dos seus vinte e um anos. Mas mesmo sendo jovens, ele e a Cecília batalharam, nunca ficaram inseguros quanto a educação e os cuidados com o Nicolas. O medo nunca chegou a ficar lado a lado com eles. O que foi simplesmente maravilhoso. Eles ficaram muito felizes com a notícia de que seriam pais, e isso era o que mais importava.

O Cauã, mesmo sendo mais velho quando foi para ter suas filhas, já tendo uma estabilidade completa: casa, trabalho, e a mulher dos sonhos, teve bastante medo quando soube que seria pai. Não pela a palavra "pai" em si, pois ele sempre quis ser, mas sim por saber que seriam duas garotas ao mesmo tempo. Mas mesmo com a sua insegurança, ele não se deixou fracassar, ele se tornou um ótimo pai e eu o admiro por isso. Por esse homem que se formou dentro dele.

Já o Benjamin, só em pensar na ideia de ser pai, era bom e ruim ao mesmo tempo. Ele não sabia se seria um bom pai. Ele se perguntava sobre isso todo santo dia. Isso o atormentava mentalmente. O medo o dominava. Mas ainda bem que ele não se deixou ser domado por muito tempo. Ele travou uma batalha consigo mesmo, o que no final deu bastante certo. Ele, hoje, não se imagina sem a Giulia, ao seu lado.

E sobre mim, eu tenho medo. Tenho medo de não superar as expectativas do meu próprio filho. Tenho medo de errar, de ensiná-lo sobre uma coisa que nem eu mesmo pratico. Eu já o amo desde que a Flávia me deu a notícia, há alguns dias atrás. O meu medo só é esse. De falhar miseravelmente na frente dele. Isso me aterroriza.

— Agora só falta você, Raul — Otávio bate no ombro do Raul e eu saio do meu pensamento com um único propósito: nenhum medo vai me domar!

— Eu e a Olívia, estamos... indo com calma — Raul se explica, tentando ser convincente, o que não colou nenhum pouco. Mas mesmo assim todos nós balançamos a cabeça, de forma irônica, para concordar que era esse o motivo. Mas todos nós sabemos que a Olívia vive pelo seu trabalho e não quer ter filhos tão cedo, mesmo que esse seja o seu maior sonho.

— Mas e a Flávia, você já sabe com quantos meses ela está? — Com essa pergunta o Cauã atraiu tanto a minha atenção, como a de todos os meus amigos.

— Não sabemos ao certo. Vamos saber hoje. — Respondo olhando para cada um deles, dos quais sorriem para mim. — Marcamos uma consulta para daqui a pouco.

— Cara, eu estou tão feliz — Ben diz com um grande sorriso no rosto. — Eu vou ser tio. Tiooo! — Ele grita para que todo mundo possa ouvir, até se possível fosse os vizinhos.

Eu e todos os outros rapazes caímos na gargalhada, foi inevitável não rir, a cena estava sendo cômica. Até que sinto o meu celular se mexendo no bolso da minha bermuda. Pego nele e vejo que é uma mensagem da Flávia.