capítulo 3

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— Não é preciso que me lembre desse detalhe.

— Você não está curioso para vê-la? — Tomáz perguntou, impaciente.

— Nem um pouco. Aposto que é igualzinha àquele pomposo do Sanviñon. Uma criatura vaidosa e afetada, metida em roupas enfeitadas demais e cujos hábitos de gastar em demasia me causarão algum prejuízo até que eu a treine de outra maneira. Tampouco pretendo encorajar falta de pontualidade à minha futura esposa. A começar de agora. Se você está tão interessado, por que não vai recebe-la?

— Porque não sou o noivo.

— E porque não está animado a ir até o pátio, con¬siderando o mau tempo. — Christopher retrucou lacônico.

— Ainda assim, não é direito que você seja rude.

— Vou passar a ver aquela mulher com muita freqüência daqui em diante — Uckerman falou num tom que colocava um ponto final na discussão. — E esta refeição me custou muito caro para ser estragada com atrasos absurdos.
Lorde Alfonso Sanviñon, cavaleiro do reino, senhor de várias propriedades e cujos ancestrais haviam cortado os mares na companhia do próprio William, o Conquistador, estava de pé no pátio escuro do castelo Uckerman, ensopado até os ossos. A chuva trans¬formara sua capa de veludo num trapo e os cabelos, antes perfumados e perfeitamente arranjados, caíam sobre os ombros estreitos como uma massa disforme. O nariz aquilino gotejava e os olhos pequenos estavam fixos no administrador. Ao seu redor, o cheiro insuportável de cavalos molhados e murmúrios descontentes da comitiva.
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— Ele não virá nos receber? — Sanviñon indagou pela quarta vez, incapaz de acreditar no que ouvira. — Tem certeza absoluta do que está dizendo?
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— Sim, meu lorde. Por favor, entenda, já está muito tarde e sir Christopher não gosta que o façam esperar. Se tivessem mandado um mensageiro na frente...
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— É o que teríamos feito, se soubéssemos que sir Christopher costuma manter as pontes num estado tal, que basta uma chuva de verão para arrastá-las rio abaixo - uma voz os interrompeu. Pascual tentou enxergar as feições da mulher montada sobre um animal já velho, porém o capuz escondia-lhe o rosto completamente.
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— Dulce! — Sanviñon a repreendeu entre os dentes.
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— Mas é verdade, Alfonso, e você sabe disso.
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— Meu lorde me mandou mostrar-lhes seus aposentos — Pascual interveio, esforçando-se para não parecer muito óbvio na sua curiosidade de ver sob o capuz. — Lá lhes serão servidos vinho e frutas.
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Naquele momento um dos servos saiu do salão. Pela porta entreaberta, a luz vinda do interior derramou-se sobre as poças d'água enquanto o som de risadas e o ruído dos talheres inundavam a escuridão do pátio.
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Dulce Sanviñon virou-se devagar na direção do administrador.
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— Pelo visto, o jantar ainda não chegou ao fim.
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— Não, minha lady — o coitado murmurou, sem saber o que dizer.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora