capítulo 52

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— Talvez ela não quisesse cometer adultério.

— Você não ouviu nada do que eu disse? Ela não passava da esposa de um comerciante — Belinda falou desdenhosa. — Quando, finalmente, Tomáz soube de toda a história, ficou arrasado. Um dia, ao encontrar-se com o comerciante, acabou matando-o, após uma violenta discussão.

Segundo testemunhas, a atitude de sir Tomáz foi mais do que justificada, porém a tal mulher encarou a situação de maneira bem diferente. Acusou Tomáz de haver cometido assassinato, pois seu marido, apesar de tê-lo provocado, não poderia, jamais, vencer um cavaleiro altamente treinado. Ela também se disse culpada do que acontecera, já que, embora não tivessem chegado às vias de fato, cometera adultério em pensamento e desejara haver abandonado o marido várias vezes. Agora, ele estava morto por sua causa.

Tomáz implorou a ela que aceitasse seu pedido de casamento. Implorou de joelhos. Pense nisso! Um nobre de joelhos diante de uma camponesa viúva e grávida. Ainda assim a mulher recusou, por causa do bebê. Tinha medo de que Tomáz viesse a odiar a criança ou então se ressentir da sua presença.

Bem que Tomáz tentou convencê-la do contrário, mas de nada adiantou. A mulher desapareceu. Ninguém sabe para onde ela foi e ninguém voltou a vê-la. Depois disso, sir Tomáz viajou pelo mundo e participou de vários torneios, porém sem o mesmo entusiasmo de antes. Parecia já hão se importar com a própria sobrevivência, perambulando de um lugar para o outro. Foi então que sir Christopher apareceu em sua vida e ofereceu-lhe amizade, além de moradia.

 

— Tomáz tentou encontrá-la? — Dulce indagou suavemente.

— Sim, mas parecia que o chão tinha se aberto e a engolido.

— Como é que você sabe de tantos detalhes?

— Oh, é de conhecimento geral. Um menestrel compôs uma balada que correu o reino. Claro que foram usados nomes diferentes, embora todos soubessem que a canção falava de sir Tomáz Lancourt. Não lhe parece ridículo? Um cavaleiro deixar-se envolver a tal ponto pela esposa de um comerciante?

— Acho que é uma história muito triste e bonita — Dulce respondeu, fitando o cavaleiro de cabelos grisalhos que ia à frente.

— Pois eu acho que o amor não lhe causou bem algum — Belinda comentou com um muxoxo.

Dulce pensou nas maneiras gentis de Tomáz, na preocupação com o bem-estar de Christopher, no respeito com que tratava todas as mulheres do castelo, fossem nobres ou não.

— Será? — ela murmurou antes de pôr o cavalo a trote, deixando para trás uma Belinda confusa e aturdida.

O amanhecer de um dia de agosto encontrou Dulce sentada num banco de pedra, contemplando o jardim. Estava quieto ali e, à exceção dos ruídos ocasionais provocados pelas galinhas e gansos, nada se ouvia. Pelo menos assim, longe de tudo e de todos, conseguia meditar.

 

Durante os últimos dias, tivera muitas oportunidades de observar o marido esbanjando charme na presença de uma mulher e também pudera pensar na história de Tomáz. Assim como o velho amigo, Christopher estava agindo de maneira extremamente polida e agradável, demonstrando genuína preocupação com o bem-estar de lady Belinda. A única coisa que ainda não conseguira descobrir era como seu marido se sentia, de fato, em relação à bela hóspede.

Entretanto, ele reservava a ela, sua esposa, apenas frieza e indiferença, como se ela fosse uma convidada, e não muito bem-vinda, por sinal. Não sabia nem sequer onde Christopher passava as noites e tinha medo de tentar descobrir.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora