capítulo 56

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Christopher deitou-se na grama úmida e fitou as estrelas, tentando decifrar as emoções desencontradas que lhe iam na alma.

Alfonso podia ser um bobo, acreditando na existência do amor. E Tomáz, alguém merecedor de pena, por haver permitido que a afeição por uma mulher casada destruísse suas perspectivas para o futuro.

 

E quanto a ele? Ele, que ansiava a proximidade de Dulce o tempo inteiro? Que queria apenas ouvir a voz suave e sentir os braços delgados ao seu redor? Que queria transformá-la na mãe de seus filhos e viver o resto de seus dias ao lado dela? Que queria fazê-la desejá-lo com igual ardor?

 

Entretanto, nem sequer era capaz de tocá-la. Tinha medo de mostrar-se vulnerável, de deixar transparecer os verdadeiros sentimentos de seu coração, porque temia ser rejeitado.

Talvez fosse essa a vingança de Deus por sua arrogância, por sua crença de que se bastava sozinho e não precisava de ninguém.

Arrependia-se dessa arrogância agora. Agora, que estava apaixonado.

Quando a porta do quarto foi fechada, Dulce deixou-se cair sobre a cama. O encontro com o marido havia drenado todas as suas energias, deixando-a frágil, confusa, perdida num turbilhão de emoções contraditórios.

Desde a noite em que haviam consumado o casamento, bastava ver Christopher, ou ouvir o som de sua voz, para ser dominava pelas lembranças das sensações de prazer encontradas entre os braços fortes.

 

 

Durante tanto tempo esperara que ele viesse à sua procura, que lhe dirigisse a palavra, que partilhasse seus sentimentos. Em vez disso, Christopher mostrara-se prepotente, indignado, interessado apenas em falar sobre Alfonso.

O que mais a angustiava, porém, era a indiferença do marido. Como uma mulher desprovida de pudor, sedenta de amor, mostrara-se quase nua, na ânsia de seduzi-lo.

E o que acontecera? Ele a mandara cobrir-se e a acusara de não ter vergonha!

Nunca se sentira tão embaraçada, tão ridícula, tão sem valor. Fora preciso juntar um resto de dignidade para não desabar em prantos.

Oh, Deus, não passava de uma tola. Uma tola frágil e apaixonada.

Três dias depois, Christopher subiu as escadas que conduziam ao seus aposentos na esperança de encontrar... Dulce sozinha, dormindo.

Se a apanhasse na cama com Tomáz, se ambos fossem culpados, seria de seu direito fazer justiça, punindo-os.

Se Dulce estivesse só, pelo menos haveria alívio para a sua ansiedade constante.
Entretanto, apesar da determinação de pôr um fim àquela angústia, sua mão tremia ao abrir a porta.

Droga, por que a aflição, se estava em seu castelo? Se ia à procura de sua esposa? O fato é que não existiam desculpas para o adultério. Ele, que jamais traíra um juramento, não permitiria que sua mulher e seu melhor amigo o apunhalassem pelas costas.

 

Sufocado pela súbita sensação de alívio, Christopher constatou que Dulce dormia, embalada pelo luar. Sozinha.

Quão vulnerável ela lhe parecia agora, frágil, desamparada... E o que ele fizera para aliviar aquela solidão?Para ampará-la? Nada. Porém, a culpa era de Dulce por haver lhe mentido. Não era?

Entretanto, se tivesse nascido mulher e ouvido seus atributos físicos serem discutidos com tamanha rudeza, também não procuraria uma maneira de vingar-se? E se ele a tratava com grosseria, não era natural que ela buscasse consolo nos braços de outro homem?

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora