capítulo 26

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Christopher percorreu o salão com o olhar enquanto bebericava o vinho caro, importado de Agincourt. Felizmente o tempo melhorara o bastante para permitir que a cerimônia fosse realizada do lado de fora da capela. Assim todos puderam ver o noivo e a noiva selarem o compromisso de amor eterno, embora mal olhassem um para o outro. Christopher mantivera os olhos fixos em padre Reverte que nada percebera quanto à falta de entusiasmo do casal que unia em matrimônio.

Os convidados, pelo menos, pareciam estar apreciando a festa. Pascual conseguira que os cozinheiros se superassem a si mesmos. A carne recebera temperos especiais e molhos diversos. O pão estava delicioso, as frutas, fresquíssimas e o vinho era o que havia de melhor.

A decoração do salão também fora aprimorada, com mais arranjos de flores e toalhas de linho sobre as mesas. Alfonso providenciara inúmeros candelabros, para que o ambiente continuasse claro mesmo quando a noite já estivesse alta.

Infelizmente o prazer de Christopher ao apreciar a cena fora drasticamente reduzido diante da obsessão pela mulher sentada ao seu lado, agora sua esposa.

Desde o início, esperara que sua noiva fosse uma criatura tola e vaidosa, desprovida de uma beleza marcante. Também acreditara que a cerimônia de casamento seria isenta de emoção, como se fosse apenas uma transação comercial. Estivera certo de que iria preferir a companhia do barão a qualquer outra pessoa, inclusive a sua própria noiva.

Em vez disso, descobrira que Dulce Saviñon era muito diferente das outras mulheres. Tudo em que conseguia pensar agora era como aquele vestido verde acentuava a cor dos olhos da esposa, como a pele se tornava ainda mais branca e sedosa sob a luz das velas, como a coroa de ouro enfatizava o brilho dos cabelos incrivelmente vermelhos.
Sua primeira impressão de Dulce não demorara a ser justificada. Uma mulher determinada, de grande força interior, qualidades pouco associadas ao sexo feminino. Christopher de Uckerman finalmente percebera que conquistar o respeito de Dulce Saviñon não seria algo banal, e despertar nela o desejo, uma tarefa merecedora de empenho. Porém não tinha dúvidas de que tarde da noite, quando a acariciasse e a beijasse, seria capaz de levá-la a um êxtase profundo. Sim, ganharia o respeito da esposa e despertaria o desejo nela. Mais do que isso, não precisava.

Sentindo-se tranqüilo e relaxado, Christopher lembrou-se do momento em que colocara o anel no dedo esguio de Dulce e repetira as palavras ditas pelo padre Reverte. Ela não estremecera ou enrubescera. Simplesmente entregara-lhe a mão com uma firmeza que considerara excitante. Para sua satisfação, não se tratava de uma criatura tímida. Só esperava que se entregasse a tudo com o mesmo vigor.

Lançando um olhar disfarçado na direção da noiva, Uckerman notou que ela mal tocara no prato, apesar das iguarias servidas. Bem, talvez fosse compreensível aquela falta de apetite.

— Uma bela festa — o barão, sentado à esquerda do anfitrião, comentou. — Mas você não está comendo nada.

Surpreso, Uckerman olhou para o próprio prato e deu-se conta que, de fato, pouco comera.

— Alfonso me contou que você o convidou para passar algum tempo aqui — Léon continuou, apontando para o rapaz, que já dava mostras de embriaguez. — Fico satisfeito. Um jovem tão inseguro e imaturo realmente só terá a ganhar estando sob a sua influência.

— Convidei-o para permanecer conosco pelo menos até depois do Natal.

— Ótimo. E então ele voltará para a França?

— Creio que sim.

— Tente convencê-lo a ficar na Inglaterra até o final do inverno. Como já disse, tenho planos para Alfonso, que apesar de um tanto tolo é uma pessoa de caráter, muito diferente de seu irmão Herwin, que tem fama de sanguinário e violento.

Imediatamente Christopher pensou nas cicatrizes nas costas de Dulce, perguntando-se se o tal Herwin seria responsável por algumas delas.

Esposa Rebelde - VondyWhere stories live. Discover now