capítulo 47

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Pelo menos ontem à noite, Tomáz pensou, lembrando-se do comportamento do casal durante o jantar. Claro que já vira Christopher ansioso para levar uma mulher para a cama antes, porém nunca o desejo fora tão óbvio, ou urgente. Em certo momento, acreditara que o amigo iria deitar a esposa sobre a mesa e possuí-la ali mesmo, diante de todos.

E o que era mais surpreendente, julgando pelos modos de Dulce, ela não iria se opor ou oferecer a mais leve resistência.

Infelizmente algo devia ter dado errado. Dulce não saíra do quarto desde o amanhecer e Christopher estava tão impaciente e irritado como jamais o vira.

— O relacionamento entre ambos me parece um tanto tenso.

— Oh, é mesmo? Suponho que você tenha razão. — Alfonso respondeu, mordendo outra pêra. — Eles mal disseram uma palavra durante o jantar de ontem... É provável que tenham discutido outra vez. Não dou muita importância a isso. Qualquer homem acabaria brigando com Dulce. Ela é franca em excesso. E que temperamento forte! Combina com a cor dos cabelos. Claro que sir Christopher sabe disso e não dá muita importância.

— Não tenho tanta certeza assim.

— Ela gostou do presente, não é? Já passou horas no estábulo, certificando-se de que a égua, a quem deu o nome de Jeanette, está sendo, bem tratada. Nunca a vi tão satisfeita.

— Sim, creio que lady de Uckermann ficou muito feliz com o presente. Mas por que será que ela ainda não desceu hoje? Será que está preocupada com o mau humor de Christopher?

 

— Em se tratando de Dulce, quem sabe? Talvez ela esteja preocupada porque não tem certeza sobre o que sir Christopher está sentindo. Para mim, por exemplo, é duro adivinhar o que se passa dentro daquele homem. Se ele está apenas irritado, extremamente zangado ou se é seu estado de espírito costumeiro.

— Vi uma veia pulsando na têmpora. Em geral é sinal de agitação.

— É mesmo? Então alguém deve avisar minha irmã. Isto é, ela pode estar irritando-o sem nem sequer saber. Por outro lado, é possível que tenha ficado no quarto hoje devido a uma daquelas misteriosas razões femininas. Uma dor de cabeça, ou algo assim. Talvez não tenha nada a ver com Christopher.

— É possível — Tomáz concedeu sem muito empenho. — Você acha que ela pode estar zangada com ele?

— Quem sabe? Ela fica zangada a troco de tudo e de nada. Talvez Christopher tenha dito que não gostou de seu penteado, ou de seu vestido. Isto pode explicar o fato de estar emburrada.

Tomáz duvidava que Dulce fosse assim tão vaidosa e nem conseguia imaginá-la emburrada.

— Então uma pessoa deveria falar com os dois. Oferecer-lhes conselho.

Imediatamente Alfonso levantou-se.

— Se você pensa assim, sinta-se à vontade para tentar. De minha parte, pretendo ficar de fora. Agora, se me dá licença, preciso ver se encontro alguém para lavar minha roupa nova.

Será que era de sua alçada interferir?, Tomáz perguntou-se, caminhando para o pátio interno. Afinal, quem era ele para oferecer conselhos sobre o amor?

Christopher era uma criatura teimosa e arrogante. Interferir em assuntos íntimos poderia custar-lhe a perda de uma grande amizade. Por outro lado, valeria a pena tentar evitar que o amigo passasse pelos mesmos sofrimentos que o atormentavam todos os dias de sua vida.

— Posso ajudá-lo, sir Tomáz? — Santos indagou, nervoso, as mãos cruzadas atrás das costas.

— Ah, Santos, sim. Você sabe o paradeiro de sir Christopher?

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