capítulo 49

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— Ela não está aqui para que eu possa me desculpar, está? — A única coisa que Uckerman queria, era levar Tomáz para casa. Somente assim, o cavaleiro po¬deria dormir e recobrar-se dos efeitos da cerveja.

— Oh, ela não está aqui? — Tomáz olhou para os lados, uma expressão de dignidade no rosto, apesar da aparência desgrenhada. — Muito bem, meu lorde. Vamos embora. — Ao dar um passo, ele caiu de cara na lama.

Christopher ajoelhou-se e examinou as faces sujas do amigo.

— Você se machucou?

— Sabe qual é o problema com vocês dois? São iguaizinhos! Dois tei... tei... — ele inspirou fundo —, dois cabeças-duras, incapazes de enxergar que são perfeitos um para o outro! Como Pilar e eu. — Tomáz gemeu e cobriu o rosto com as mãos imundas. — Oh, Pilar, onde estará você agora? — Soluçando, o cavaleiro deitou-se na lama.

— Vamos. Deixe-me levá-lo para casa.

— Eu não tenho casa — Tomáz gemeu desconsolado.

— Enquanto eu viver, minha casa será sua casa. — Com um cuidado quase paternal, Christopher ajudou o amigo a levantar-sé e percebendo que o outro estava à beira da inconsciência, colocou-o sobre os ombros e carregou-o para ó castelo. Então levou-o para um canto quieto da estrebaria e deitou-o sobre um monte de feno, cobrindo-o com um manto. Certo de que Dulce não iria apreciar sua companhia naquela noite, Christopher deitou-se a uma curta distância de Tomáz e tentou dormir.

 

Seus esforços de nada adiantaram, apesar da dor nas pernas. Estava exausto, depois de passar horas andando pelos campos e pela aldeia, à procura de Tomáz. Ficara irritado quando soubera que o amigo havia saído à sua procura, pois afinal não era nenhuma criança precisando de cuidados e conselhos. Entretanto, quase bendissera a preocupação com o paradeiro de Tomáz, pois assim evitara pensar na esposa.

Porém, agora que o amigo estava ali, seus pensamentos voltavam-se para a deslealdade de Dulce. 

A vergonha que ela o fizera passar diante de si mesmo fora infundada e desnecessária. Ela o fizera sentir-se como um animal selvagem e também como um tolo a quem se pode enganar facilmente. A mentira de que fora vítima era indesculpável.

E apesar das observações de Tomáz sobre suas respectivas personalidades, os dois não eram nem um pouco parecidos. Ele teria sido incapaz de enganar alguém como ela o enganara.

Tomáz jamais entenderia. A experiência do pobre coitado no amor resumia-se a um sentimento casto e puro. Se fora desludido, era por causa do sentimento de honra de uma mulher. Não pela falta dele.

Quando Tomáz acordou, na manhã seguinte, a pricoisa que enxergou, depois do enorme esforço para abrir os olhos, foi Christopher, sentado imóvel sobre um banco, as costas apoiadas na parede de madeira. Tímidos raios de sol iluminavam a estrebaria.

 

— O que foi que eu fiz? — Tomáz gemeu, sentando-se devagar.

— Você ficou bêbado — Christopher respondeu com naturalidade.

— Por Deus do Céu! É verdade?

— Sim.

— Eu estava procurando você e fui até a taberna... Afinal você estava lá?

— Não. — Uckerman levantou-se e passou as mãos pelas roupas, para livrar-se do feno. — Ainda bem que passei por lá, ou teria que tirá-lo da sarjeta outra vez.

Olhando para as próprias roupas, agora cheias de lama endurecida, Tomáz suspirou fundo, conformado.

— Imagino que seja verdade. Que Deus me ajude, minha cabeça dói!

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora