capítulo 4

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— Não podemos entrar no salão assim! — Alfonso lamuriou-se. — Ensopados até a alma! Minhas roupas estão praticamente arruinadas e seu vestido, coberto de lama.

— O que não é de se estranhar, considerando-se o mau tempo — Dulce observou, sarcástica. — Porém faço questão de entrar no salão desse cavaleiro tão cortês.

Oh, céus, aquela não parecia ser o tipo de mulher delicada e de fala mansa, capaz de conquistar o coração de um homem como sir Christopher, Pascual pensou, desanimado.

— Eu sugeriria, Alfonso, que você mandasse nossos soldados levarem os cavalos para os estábulos e depois irem até a cozinha,, comer alguma coisa, antes de se retirarem para dormir, onde este senhor aqui determinar. Qual é seu nome? — ela indagou de repente.

— Pascual — o velho respondeu, surpreso com a delicadeza inesperada daquela voz. — Sou o administrador do castelo.

— Parou de chover — Dulce comentou, atirando o capuz pára trás.

Finalmente Pascual viu a face da mulher, e sua primeira reação foi do mais absoluto pânico. O barão não poderia ter escolhido uma noiva mais imprópria para sir Christopher, nem que fosse essa a intenção. Uma mulher de cabelos vermelhos! Não castanho-avermelhados, nem louro-acobreados, mas de um vermelho vivo, como as irlandesas bárbaras. E o que era pior, sardas! Sir Christopher sempre fizera questão de pele sem nenhum tipo de pinta ou sardas. Além de tudo, era quase tão alta quanto o futuro marido.

— Este lugar é menor do que você me fez crer, Alfonso. Contudo, como é mesmo o ditado? A cavalos dados não se olham os dentes? Sabe, tenho a impressão de que sir Christopher aprecia uma mesa farta e, como estou com fome, vou entrar e comer.

— Você não pode simplesmente entrar no salão de Christopher de Uckerman sem ser anunciada! — Alfonso tentou argumentar, apavorado com a possibilidade.

— Você não acredita que meu noivo possa ficar satisfeito de me ver? — Sem esperar resposta, lady Dulce Sanviñon começou a caminhar na direção da pesada porta de carvalho.
Assombrado, Pascual deixou escapar um assobio, mas logo se conteve ao lembrar-se de que não estava só.

Resignado, Alfonso suspirou fundo e dirigiu-se à comitiva:

— Façam o que ela disse, paspalhos, ou vocês querem ficar aqui parados, morrendo de frio?

— E o que o senhor deseja fazer, meu lorde? — Pascual perguntou, mostrando deferência.

— Ir atrás de minha irmã, claro, antes que ela estrague tudo. — Desolado, Sanviñon tirou a capa que se transformara num trapo. — Isto é, depois que eu trocar de roupa.

Por um instante Dulce permaneceu imóvel, à entrada do salão. O castelo Uckerman não parecia tão grande quanto o de seu pai, porém tudo ao redor estava iTéoulcedo e decorado com flores. Nobres bem-vestidos, ao redor de mesas compridas, deliciavam-se com o que parecia uma refeição impecável. Bastou o cheiro apetitoso da comida para que sua boca se enchesse de água.

Foi então que se deu conta de que o homem bonito, sentado no centro da mesa principal, a fitava fixamente. Julgando pela posição de importância que ele ocupava, só podia tratar-se de sir Christopher de Uckerman, seu noivo.

O olhar que lhe era dirigido, porém, demonstrava apenas frieza, especulação, arrogância. Claro que Uckerman devia saber quem era ela, mas ainda assim não se dera ao trabalho de levantar-se para cumprimentá-la. Apenas continuara sentado, fitando-a com aqueles olhos escuros e ameaçadores.

Será que sir Christopher pensava poder intimidá-la com um simples olhar? Ela não era uma mocinha mimada e criada numa redoma, protegida de tudo e de todos. Tampouco uma aldeã simplória, para se sentir esmagada pela posição e riqueza de um nobre. Era, sim, lady Dulce Sanviñon, uma mulher capaz de mostrar-se tão segura de si e arrogante quanto qualquer homem. Seu pai a havia tornado assim, embora não de maneira intencional.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora