capítulo 24

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— O que você acha dela? — Hilda perguntou a Anahí, assim que as duas saíram do quarto e fecharam a porta — Lady Saviñon não me pareceu zangada.

— Não — a outra serva respondeu pensativa. — É uma criatura difícil de se entender. Você reparou nas mãos dela?

— São mãos de alguém que já trabalhou tanto quanto nós e não apenas bordando — Hilda declarou solene.

— Acho que vou gostar dela.

— Pelo menos ela ainda não a mandou embora daqui.

— E por que o faria? — Apesar de se esforçar, Anahí não parecia tão segura quanto gostaria de estar.

— Você sabe por quê.

— Mas lady Saviñon não precisa saber. Além do mais, aqueles dias estão terminados.

— Eu não iria querer que ela ficasse irritada comigo — Hilda comentou pensativa.

— Porém não é ela quem dá as ordens aqui. — Anahí abriu a porta dos aposentos de sir Christopher e depositou a colcha sobre a cama, conforme as instruções de lady Saviñon.

Como Hilda nunca havia colocado os pés ali dentro antes, reparava cada detalhe com enorme curiosidade.

Feitas de pedras, as paredes nuas ostentavam apenas ganchos onde tapeçarias deviam ser dependuradas no inverno. Um armário enorme num canto e a lareira noutro. No centro, uma mesa redonda e uma cadeira de madeira trabalhada. Uma cama de dossel, imensa, parecia dominar o quarto, com seu pesado cortinado de veludo.

— Vamos — Anahí falou, dando um toque final na colcha. — Pascual terá uma dúzia de ataques se nos atrasarmos muito.

Ainda assombrada com o tamanho da cama, Hilda concordou com um aceno.
Meia hora depois, Alfonso Saviñon bateu na porta do quarto da irmã e encontrou-a já pronta, com o vestido que lhe dera de presente. Se não tivesse sido assim, provavelmente Dulce não se importaria em casar-se usando uma roupa velha, apesar da importância dos nobres convidados e da presença do barão Léon.

— Onde estão as criadas que deveriam ajudá-la a se vestir?

— Dispensei-as. Está na hora? — ela indagou, não traindo nenhuma emoção.

— Quase. — Alfonso nunca soubera muito bem como tratar a irmã, especialmente depois que voltara da França e encontrara aquela mulher firme e determinada no lugar da criança tristonha de quem se lembrava. — Você está... você está muito bonita.

Ela o fitou sem disfarçar o ceticismo.

— Não estou falando apenas para agradá-la. O elogio é sincero. Este vestido lhe cai muito bem. Você... você está parecida com sua mãe.

 

Dulce sorriu, notando que o irmão estava enfeitado demais, como de costume. Na verdade, não sabia o que lhe parecia mais ridículo: se a pluma enorme no chapéu bordado, se a túnica de um verde incrivelmente brilhante ou a calça bicolor. Entretanto, tudo o que conseguia enxergar era o menino assustado e inseguro, levado à força para viver com o tio na França para não ser contaminado pelo sangue saxão da esposa do pai. Dulce ainda era muito menina na época, mas lembrava-se de que entre todos os seus irmãos, Alfonso sempre fora o único a lhe dizer uma palavra gentil.

— Obrigada pelo vestido.

— Não é a isso que estou me referindo. Você sabe que sempre gostei de sua mãe. A primeira vez que meu pai a trouxe para nossa casa, ela me beijou e disse que esperava que fôssemos amigos. Tinha uma voz que soava feito música. Senti muito quando fui obrigado a morar com meu tio. — Alfonso aproximou-se, brincando desajeitadamente com a ponta do cinto. — Sei que não deve ter sido fácil para você conviver com meus irmãos e irmãs. Desculpe-me não ter sido capaz de ajudá-la. Mas acho que sir Christopher será um bom marido para você. De verdade.

Esposa Rebelde - VondyWhere stories live. Discover now