capítulo 41

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Movendo-se como um felino ao redor da presa, Uckerman aproximou-se da cama.

— Com quem você acha que está falando? Com Alfonso? Ou com algum outro idiota? Você não pode falar assim comigo, eu, sir Christopher de Uckerman, seu lorde e marido. — Ele sentou-se na cama e aproximou-se da esposa com uma lentidão exasperante. — Ou, talvez, eu tenha sido enganado. Talvez você não seja lady Dulce de Uckerman, mas uma mulher qualquer, fria e calculista, cujo único objetivo é zombar de mim.

Dulce sentou-se também, subitamente consciente da própria nudez.

— Foi isso o que aconteceu ontem à noite? Você me irritou de propósito? Tratou-me como animal de propósito, forçando-me a espancá-la? — Christopher sorriu, os lábios sensuais transformados numa linha cruel. — É assim que prefere sentir prazer, misturado a um pouco de dor?

 

 

 

Atordoada com a insinuação maldosa e assustada com o brilho frio dos olhos escuros, ela ergueu a mão para esbofeteá-lo. Entretanto, antes de completar o gesto, teve o pulso seguro por dedos que mais pareciam tenazes. 

— Deixe-me sozinha! — ela gritou, retorcendo o braço até conseguir soltar-se.

— Não vou bater em você, Dulce. Se o fiz antes, aceite minhas desculpas e minha palavra de que isto não se repetirá. — Christopher levantou-se e caminhou até a porta. — Já que você considera minha companhia tão desagradável, irei embora, pelo menos durante algum tempo. Tenho uma propriedade menor, ao norte, que pretendia mesmo visitar. Talvez, no final das contas, eu devesse ter deixado que o barão a... Bem, infelizmente o casamento não pode ser desfeito. Assim, seremos obrigados a tentar obter o melhor da situação. Adeus. — Dando-lhe as costas, Christopher saiu sem olhar para trás.

Quando Dulce teve certeza de que Uckerman não tornaria a aparecer, ela inspirou fundo e cobriu-se com o Gastãoom, sem nem sequer apagar as velas. Tremendo descontroladamente, esforçou-se para ignorar o medo que lhe consumia a alma e sufocar as emoções que ameaçavam subjugá-la.

Oh, Deus de bondade, o que faria da própria vida? Devia estar feliz com a partida do 
marido. Ele era tão duro, tão severo, tão impossível de ser compreendido! A acusação que Christopher lhe fizera, de que precisava sentir dor para alcançar prazer, era abominável. Imperdoável. Contrária às leis da natureza.

 

Entretanto, ele agira com delicadeza a princípio. E também se desculpara, embora cheio de raiva. Com que freqüência alguém como Uckerman expressava qualquer tipo de arrependimento? Em relação a um outro homem, raramente. Em relação a uma mulher, com certeza nunca. Porém ele lhe pedira desculpas.

Qual seria o significado das suas palavras sobre o barão? Claro que um homem como o barão Léon jamais iria querê-la. Contudo, fora essa a conclusão de Christopher? Ele a tinha olhado de um modo... Seria... Ciúme? Se fosse assim, os ciúmes do marido e o pedido irritado de desculpas, que sem dúvida demonstrava um pouco de respeito, era o maior cumprimento que já recebera na vida.

Mas Uckerman também afirmara que o casamento não podia ser desfeito. Seria isso o que ele desejava de verdade? Talvez.

E era isso o que ela queria? Dulce obrigou-se a analisar os próprios sentimentos e o que enxergou dentro de si não lhe trouxe muito conforto. Se alguém, algum dia, lhe tivesse perguntado que tipo de homem gostaria de ter para marido, sua resposta certamente descreveria sir Christopher de Uckerman.

Sim, ela queria Christopher... Queria que ele a respeitasse, a tratasse como igual e até mesmo a amasse... se é que esse sentimento existia. Porém, apenas nos seus termos.

Entretanto, enquanto a noite se estendia em horas angustiadas e insones, Dulce começou a perguntar-se se, ao tentar mostrar-se muito inteligente, não acabara cometendo o maior erro de sua vida.

Encostado numa parede áspera do salão deserto, Christopher, amargurado até a alma, finalmente convencera-se de que não era o nobre de caráter que acreditara ser. Durante anos sentira orgulho de seu autocontrole férreo, de sua capacidade de pensar friamente antes de partir para um ataque deliberado. Sempre se orgulhara de ser um amante racional, pondo em prática suas habilidades com as mulheres sem deixar de manter total distanciamento. Dulce fora capaz de abalar sua confiança também nesse aspecto.

Irritado, ele enterrou o punho na palma da mão. Dentre todas as mulheres do mundo, por que tinha que ser Dulce a mostrar-lhe o quanto podia ser brutal?

Aqui, protegido pelo silêncio e pela escuridão, enfrentava a verdade. Ele desejava Dulce mais do que desejara qualquer outra mulher. Bastara observá-la desempenhar aquela simples tarefa de pentear os cabelos, com movimentos lentos e ritmados, para ficar excitado. Quase chegara a desejar que a esposa não se virasse, apenas para poder continuar observando-a...

 

Mas ela se voltara e, quando a tocara nos ombros, obrigando-a a fitá-lo, percebera uma vulnerabilidade encantadora estampada no rosto delicado. Agradara-lhe ao extremo saber que conseguia afetá-la daquela maneira.

E então dissera que esperava ser obedecido. Era verdade, porém não da maneira que Dulce interpretara.

Ele quisera dizer apenas que gostaria de ter seus pedidos atendidos, porém de livre e espontânea vontade. Não queria obediência cega e inquestionável, como se a mulher fosse um cachorro. Por Deus, ela não lhe dera nem sequer a chance de explicar-se e o agredira imediatamente. Depois se oferecera, num gesto de desafio, destituído de paixão ou sentimento. Dulce se atirara sobre a cama cheia de ódio, como alguém que se entrega em sacrifício a uma criatura bestial.

Bem, ele não era um monstro, embora duvidasse de que seria capaz de convencê-la do contrário. Talvez houvesse cometido alguns erros, mas ela também não era nenhuma santa.

Christopher saiu para dentro da noite, o rosto uma máscara impenetrável. Ele não precisava de Dulce, ou de sua aprovação. Era sir Christopher de Uckerman e ela não era nada a não ser sua esposa.

Esposa Rebelde - VondyWhere stories live. Discover now