capítulo 36

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Seja lá o que fosse que Dulce pensava a respeito de sir Christopher de Uckermann, precisava admitir que ele era a síntese de um nobre normando. Arrogantemente vaidoso, porém não sem motivo, considerando a beleza do rosto e a perfeição do corpo atlético. Ele era severo e duro, sem no entanto mostrar a tristeza permanente que observara no barão. Com certeza Uckermann também devia ter uma personalidade amigável, ou que outra explicação haveria para o fato de que alguém tão gentil quanto sir Tomáz lhe dedicasse amizade?

Seu marido realmente ficara surpreso e abalado quando ela o acusara de tê-la machucado. Não havia como negar a angústia estampada naqueles olhos e, por um momento, sentira-se tentada a contar-lhe a verdade. Apenas seu instinto de auto preservação a impedira de tomar essa atitude, pois não sabia qual seria a reação de sir Christopher ao descobrir que a esposa lhe mentira.

Ele mencionara dor física. Nunca lhe passara pela cabeça que perder a virgindade causaria alguma dor. Ainda bem que ficara livre disso e também evitara sofrimentos maiores. Já não agüentara o bastante nas mãos dos homens?

Ao ajoelhar-se no chão frio da pequena capela, Dulce procurou se convencer de que se sentia aliviada por continuar virgem e orgulhosa por haver vencido sir Christopher de Uckerman à sua própria maneira
Ao entardecer daquele dia, muitos aldeões observaram, de maneira furtiva, seu lorde tomar o caminho de casa, atravessando a estrada que cortava parte dos campos.

Os homens enxergavam uma figura alta, forte e imponente, cujos olhos penetrantes pareciam os impelir, ainda que silenciosamente, ao trabalho. As moças solteiras suspiravam ao vê-lo passar, corando ante a ousadia dos próprios pensamentos. Oh, Deus, se sir Christopher de Uckerman pudesse adivinhar os desejos que despertava, elas morreriam de vergonha. Porém era impossível não se entregar, apenas por um momento, aos sonhos impossíveis.

Entretanto, Christopher ignorava a curiosidade que despertava. Tinha os pensamentos voltados para a habilidade de Gastão no treinamento de falcões. O pássaro matara uma garça com facilidade, além de perseguir alguns coelhos que os cães de Giovane haviam farejado. No final das contas, fora um dia proveitoso. Todos voltavam para casa levando alguma caça.

Sua cabeça também melhorara muito, sem dúvida devido ao ar puro e ao fato de estar longe da mulher confusa e perturbadora com quem se casara. Outra coisa que contribuía para seu bem-estar era a ausência do barão. No meio da floresta, nas terras que lhe pertenciam, sentia-se livre, dono de si mesmo, no comando do próprio destino e sem obrigação de prestar contas a quem quer que fosse.

Christopher observou os arredores. Os campos bem tratados anunciavam a colheita próxima. Os chalés dos aldeões, em ótimo estado de conservação. O gado pastava, gordo e satisfeito. E o rebanho de ovelhas crescera consideravelmente. Ao longe, era possível ouvir o barulho do martelo vibrado pelo ferreiro cair sobre a bigorna.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora