Capítulo Vinte e Quatro

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— VOCÊ É A FÊMEA MAIS IRRESPONSÁVEL QUE EU CONHEÇO. — Esbravejou na frente de todos. — Você não consegue seguir ordens? Não consegue pensar? Pelos Deuses da Lua. Você é completamente maluca.

Um nó forma-se na minha garganta.

— Eu não poderia deixa-lá.

— É, eu percebi; — ele apontou para os mortos no chão, moveu-se até o macho que recebeu minha adaga no crânio, arrancando-a da sua cabeça. Ele limpa o sangue na lateral da calça. — Quando eu falar que não é necessário atacar, não estou blefando. Eles eram apenas assassinos. Por Artemis.

— Olhe para ela; — mostrei a pobre imortal. — Ele urinou na cabeça da fêmea. Foi grotesco.

— Ela não faz parte do nosso povo. É uma intrusa no Reino. Com certeza estão pagamento uma fortuna por sua cabeça, sabe o que isso significa? — Ele rosnou, chutando um corpo morto no chão.

— Trevor…

— Você acabou de salvar uma fêmea que tem um grande valor para a Guilda dos Ursos do Norte.

— Ela poderia ser um pagamento por um assassinato ou a vítima de sequestro milionário. Com certeza ela é especial; — falou um dos guerreiros, observando os detalhes da fêmea.

— Você é rico. Pode pagar por ela. — Digo, erguendo meu queixo. Trevor meneou a cabeça, desacreditado.

— Não compro escravas. Não compro fêmeas sequestradas. Não compro vidas, Breanne.

Soltei um riso descrente.

— Você não compra uma vida? Então, a deixaria morrer. — O macho rosnou, querendo me esganar. Eu não consigo seguir ordens ou regras. Trevor está certo, mas não poderia abandoná-la aqui neste frio torturante da Ilha Lunne.

— Daric… — Chamou Trevor, mas o lobo não respondeu. Daric estava próximo do cavalo, com os olhos arregalados e as narinas dilatadas. O macho mantinha uma respiração muito descontrolada, também pode-se notar os tremores no corpo. Porém, o que nos deixou totalmente intrigados era seus olhos dourados que estão fixos na fêmea. 
Trevor imediatamente se aproximou do irmão, eles não trocaram uma única palavra. Apenas se encararam por longos minutos como se tivessem se comunicando mentalmente. Meu companheiro mudou a sua postura, ficando mais preocupado. Ele olhou para todos os lados, até seu olhar me encontrar. 
Engulo em seco. O que está acontecendo?

— Mckale! — Gritou Trevor, o macho que assistiu toda a cena de uma distância segura se aproximou com receio, ele passou por cima dos corpos mortos no chão.

— Líder Trevor.

— Precisamos de uma boa estalagem. Vamos dormir no vilarejo, quero que cuidem da fêmea. Encontrem uma boa roupa e também sangue, ela está com sede.

Fiquei completamente boquiaberta. Uma vampira. A fêmea é uma vampira?

*** 

Trevor me passou algumas ordens, para não sair do quarto da estalagem e principalmente não abrir a porta para ninguém. Quando ele disse "ninguém" estava falando de si mesmo? Bom, eu só quero descobrir quem é a fêmea, então… Vesti uma calça de flanela, um roupão de lã e sai do quarto, espreitando nos corredores. Segui o cheiro do meu companheiro, Trevor estava dentro de um quarto no andar de baixo. Havia muita movimentação no corredor, serviçais corriam com baldes com água quente e algumas carregando roupas de inverno. Uma delas trazia consigo uma bandeja grande, com pedaços de carne generosos e também quatro cálices. O cheiro do sangue era forte, com certeza é sangue Imortal. 
A porta estava entreaberta, sem nenhuma vergonha eu comecei espiar para tentar matar minha curiosidade. A fêmea estava dentro de uma banheira. Daric andava de um lado para o outro e meu companheiro estava sentado na cama. Uma serviçal esbarrou o seu corpo no meu, empurrando-me para dentro do quarto. O problema foi minha falta de equilíbrio, eu caí de joelhos no chão, ganhando atenção de todos. Trevor esbravejou um palavrão quando assistiu a cena.

— Perdoe-me Senhora; — Disse a serviçal. — eu não queria empurrá-la.

— É claro que não! — Respondi emburrada.

Trevor levantou-se da cama, estendendo a sua mão para me ajudar.

— Está tudo bem? Se machucou?

— Não, eu estou bem. — Minha voz saiu magoada, os gritos do Trevor ainda estão presos na minha cabeça. O macho assentiu, analisando minha expressão.

— Anne, eu não queria…

— Como você está? — Aproximo-me da banheira, a fêmea arregalou os olhos na minha direção. E depois alterou o olhar para machos impacientes no quarto. — Meu nome é a Breanne Munrou, sou a Princesa da Ilha Lunne e Senhora do Clã Halister. Não vou permitir que a machuquem. Qual é seu nome?

— Anastasia. — Sussurrou.

— Bom, Anastasia. Acredito que esteja com fome; — Daric pegou um cálice da bandeja que a serviçal segurava e entregou para a vampira. Ela sorriu de leve, como se agradece a gentileza do lobo.  — Pode beber, não se preocupe.

Anastasia assentiu, bebendo o cálice. Ela bebeu os quatro cálices de sangue, desesperadamente. Até engasgando com o sangue, dentro da banheira a fêmea devora os porções de carnes e depois… Pelos Deuses da Lua, a sua aparência começa a mudar completamente. A pele pálida, ganha um tom dourado belíssimo. Os olhos topázios cintilam vivacidade, até o corpo da fêmea mudou. Ela tinha uma beleza delicada, fiquei fascinada com a magia da vampira. Foi como se ela renascesse depois de beber os cálices de sangue e se alimentar.

— Uau. — Exclamei, impressionada.

— A fêmea precisa descansar, Breanne. Tenho certeza que uma boa noite de sono, ajudará com a sua recuperação.

— Tudo bem; — concordei, seguindo até a porta. Daric continuava de guarda no quarto. — Você não vem?

O macho sobressaltou com minha pergunta, ele franziu a sobrancelha, olhando a fêmea brincar com as espumas na água.

— Sim, eu-eu… Vou me lavar e me trocar, com licença.

O macho saiu do quarto apressado, com um cheiro estranho. Não era o cheiro habitual dele, era como se…

— Breanne, vamos para cama.

Rosnei, voltando meu quarto. Trevor me seguiu. Não falou nada, apenas caminhou no meu encalço. Quando ele chegou na porta do quarto que estamos hospedados, entrei na sua frente. Impossibilitando a sua entrada. 

— Você não vai dormir comigo.

Trevor abriu a boca, olhando-me pasmado.

— QUÊ?

— Você gritou comigo na frente de todos os Guerreiros. Você esbravejou a sua liderança na frente de todos e me humilhou.

Ele riu, coçando a barba.

— Menina, você passou por cima da minha ordem. Eu não mandei que atacasse. Breanne, você é muito impulsiva. Não pode agir sem pensar, você precisa de disciplina. É arisca e muito teimosa.

— Eu sou corajosa, é diferente.

— Você está confundindo teimosia com coragem. Até mesmo um guerreiro formidável pensa antes de agir, pensa nos riscos, nas perdas e principalmente na força do inimigo. Você não pensou em nada, agora… — Trevor massageou as têmporas. — Esqueça, eu vou procurar outro quarto na estalagem. Boa noite.

— Boa noite. — Digo irritada, fechando a porta com força. Ouço os palavrões pesados que o macho disparou quando bati a porta sem me importar. Bom, eu pensei que não me importava, porque minha noite foi péssima e não consegui parar de pensar no meu companheiro. 

A ESCOLHIDA - Clãs LunaresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora