1. Ele é como uma Tangerina

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NOTA: esse capítulo foi editado ;)

JUNGKOOK

Era dia vinte e dois de fevereiro. Muita chuva, muito vento e uma vontade inexistente de se levantar e viver.

Está tudo tão triste e gelado e eu, sinceramente, não sei dizer qual é o motivo, se é por estar chovendo ou se é por conta de motivos sentimentais. Tipo, puxa! As férias acabaram. É o segundo mês do ano, o fim da felicidade e o começo de um inferno monótono: colégio.

Ônibus escolar, colegas de classe, comida ruim, professores melancólicos... Sabe, essas coisas. Nada atraente aos olhos dos seres humanos.

Choraminguei de manhã para minha mãe porque não queria ir, inventei que todo mundo iria faltar, o que era mentira, mas o desânimo faz você fazer coisas podres. E ela jogou o famoso "você não é todo mundo", colocou a mochila em minhas costas e me enfiou dentro do carro para ir pra escola. Ah. Que droga. Super faço parte do "todo mundo" quando o assunto é odiar a escola.

Na maioria das vezes, não tem nada para fazer lá. Pelo menos para mim não. Aprendo tão rápido que fico entediado, e não, não estou me vangloriando por ser esperto, longe disso. Talvez se eu fosse um pouquinho burro, as bolinhas de papel parariam de voar em minha nuca sempre que meu melhor amigo saísse do meu lado.

Amém, melhor amigo.

Até o sétimo ano do fundamental, não fiz amigos na escola. Na maior parte do tempo vago, eu ficava com meus livros de ficção adolescente ou as revistas de Rock Internacional que a minha vizinha, Hyuna, me vendia (e ainda vende) por duas notas de cinco. Eu adoro a Hyuna. Ela me empresta seus discos e livros, grava fitas com músicas e artistas que eu peço, e sempre, sempre sabe qual é a música que toca na rádio A Daily. Até se for uma banda de garagem. Embora me chame de pirralhinho às vezes, gosto muito dela.

Mas, enfim. Meu melhor amigo, como foi que nos conhecemos: o sétimo ano.

Ele chegou no meio do ano, o novato gigante que havia repetido, não um ou dois, e sim, quatro anos no ensino fundamental, veio a ser estranhamente meu melhor amigo.

Kim Seokjin, o menino mais esquisito que já conheci.

Quando Jin se matriculou no ano retrasado, um rumor ao seu respeito surgiu e fora espalhado tão rápido quanto uma aeronave X-15 da Força Aérea dos EUA decola. Foi depois que ele contou para uma garota da nossa sala que o motivo dele ser grande, era, obviamente, a sua idade.

E ela, sem se importar, contou isso para todo mundo.

Então, ninguém mais quis se aproximar dele pelo mesmo ser repetente. Há milhares de coisas para inventar sobre um aluno repetente. "Ele deve ter um filho", "Ele vende drogas", "Ele foi expulso de outras escolas" e por aí vai. Isso assusta qualquer morador da nossa cidade, digo, acho que qualquer coisa assusta alguém daqui. É uma das cidades mais simples do país, então tudo fora do comum é motivo de alarde. Mas sabe, eu não liguei ou evitei Jin. Quer dizer, eu sou muito fácil, porque deixei que ele se aproximasse facilmente e não me arrependo disso.

Ainda me lembro de quando ele se sentou ao meu lado, logo depois dos rumores, e pediu um pedaço da minha maçã. O lado bom das amizades é que elas sempre começam de forma constrangedora. Na verdade, isso não é nada bom, esquece.

Bom, então, eu dei a maçã inteira para ele, sem hesitar, porque não gosto de maçã, mas costumo comer contragosto porque minha mãe sempre coloca na minha mochila, e eu sou mole demais para jogar a maçã que ela escolheu pacientemente no mercado, lavou de manhã e colocou na minha mochila, no lixo. Aí, ele comeu e ficou ao meu lado. Em silêncio. No outro dia, ele chegou e comeu de novo. E depois, trocamos nossos lanches. Eu comia a laranja e o sanduíche dele e ele comia minha maçã e os biscoitos de nozes. Ah, e dividíamos a minha caixinha de suco de pêssego, porque a mãe dele não o deixava beber nada enquanto comia, então, ele bebia escondido comigo. Costumávamos lanchar quietos, trocando alguns ois, mas somente isso. Só que, seguidamente, alguns assuntos foram surgindo. Falávamos sobre quadrinhos, bandas, filmes, mas o que deu carga real a nossa amizade, fora nosso ódio mútuo pelo The Doobie Brothers. A raiva une as pessoas e agora eu e ele somos melhores amigos.

Ele é Como Rheya {jikook}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora