3. Ele é como Daphne Blake

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JIMIN

A minha mãe me subordinou e eu juro que não deu para resistir.

Eu penteava os cabelos em frente ao espelho do quarto e me perguntava se aquela era, de fato, uma boa oferta.

Vejam bem: eu ganhei roupas novas, mais, seis livros da autora Agatha Christie, mais, uma promessa de que assim que eu completasse um mês inteiro indo para a aula eu ganharia um aparelho de escutar música, mais, outra promessa de que poderia trazer Menino para morar com a gente na semana que vem e, mais, comprar uma caminha para ele. E, ainda por cima, passaria a ganhar mesada. Mesada, tipo, dinheiro.

Eu precisava de dinheiro para comprar mais livros. Por isso não tive escolha a não ser a de aceitar.

Com muito esforço, acordei às seis da manhã naquela segunda-feira. Duas semanas depois do meu primeiro dia de aula, eu estava finalmente me arrumando para ir a escola novamente.

Minha mãe bateu na porta do meu quarto e a falei para entrar. Eu estava amarrando o cadarço do tênis quando ela se aproximou, com minha mochila nova, horário das aulas e livros da escola em mãos. Coisas que com o passar dos últimos dias, o colégio forneceu à nós, como um pedido desesperado de desculpas.

Acontece que aquela baderna na escola fora fruto de uma possível suspensão que eu receberia por causa da cor do meu cabelo. E não, não estou brincando. Foi isso que aconteceu mesmo. Embora eu tenha pensado por um momento que ser ruivo fosse proibido em escolas, minha mãe me explicou que na verdade não era. Proibido era pintar o cabelo. E o diretor pensou que eu tinha pintado o meu e me mandou para a diretoria, como se eu fosse um rebelde ou sei lá o quê.

Leonor disse que poderia processá-lo por isso, pois por um segundo, o diretor sugeriu que eu tingisse o cabelo de preto para, abre aspas, não causar alarde e tirar a atenção dos outros alunos das aulas, fecha aspas. Minha mãe enlouqueceu de raiva por isso e acabamos saindo da escola daquele jeito apressado e furioso.

Após o ocorrido, o Senhor Diretor não parou de ligar para o trabalho da minha mãe, implorando para que ela o perdoasse e não levasse o caso a justiça. Ofereceu aulas extras gratuitas e um cartão ilimitado para o almoço. Minha mãe aceitou tudo e ainda exigiu mais algumas coisas. Acho que no fim, fomos nós quem acabamos ganhando, mesmo que eu estar voltando para aquela escola agora seja, provavelmente, uma derrota.

— Tudo bem? — Ela indagou, deixando meus pertences na cama. Organizei os materiais na mochila, não me esquecendo de, é claro, levar um livro para ler também.

— Sim. — respondi, pegando meu óculos na mesinha de cabeceira.

Coloquei-o em meu rosto, sorrindo para mamãe logo depois, meio trêmulo nos movimentos.

Morrendo de medo de ir para o ônibus, obviamente.

— Quando você chegar, é só ir até a sala da orientadora Lee. É lá que ela vai te conhecer, falar sobre as regras e suspender sua primeira aula para que conheça a escola. — explicou com um sorriso, acariciando meus cabelos. — E é um aluno que vai te mostrar tudo. Ela que vai escolher, então vai ficar tudo bem. Aposto que conhece os bonzinhos.

Ri, sem ânimo.

— Duvido muito que existam bonzinhos lá. — balbuciei. — É que eles são uns chatos, mãe. Sério mesmo.

Mamãe soltou um suspiro cansado. Talvez não estivesse preparada para ouvir tudo aquilo saindo da minha boca tão cedo e tão de repente.

Mas era a verdade e ela precisava saber.

— Você não pode saber, Jimin. Nem foi em todas as aulas.

— Mas eu peguei o ônibus com os alunos e é com eles que vou conviver. — retruquei.

Ele é Como Rheya {jikook}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora