{2} SHINÊ, A TERRA DA TECNOLOGIA

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    — Então você não se lembra de nada? – Barton perguntou.

    — Muito pouco – Lia respondeu, brincando com o bracelete nas mãos. Seus dedos passeavam pelo revelo das asas do pássaro gravado nele.

    Estavam sentados nas poltronas olhando para nada em especial no céu azul pela janela. Barton, Lia percebeu, estava diferente; não só o cabelo um pouco mais comprido. Seu corpo estava mais forte, os ombros largos estavam alinhados e os bíceps saltavam por baixo das mangas da camisa. Ela sentia a aura branca ainda dentro dele, fortalecendo-o, mudando o corpo humano para algo mais poderoso.

    — Há quanto tempo estou desacorda? – ela perguntou. O fator que a deixava mais confusa era não saber quantos meses, dias ou anos haviam se passado através da fenda. E se fossem séculos, como da última vez?

    — Um mês. 29 dias pra ser mais exato.

    — Nossa – surpreendeu-se. – Eu estava tão ruim assim?

    — Bom... Dana falava sempre que seu estado era crítico e que os riscos eram grandes e um monte de palavras difíceis de médica. Então acho que você estava realmente ruim. – Ele inclinou-se e apoiou os cotovelos nos joelhos. – Você passou a maior parte do tempo mergulhada em um líquido azul. Faz apenas uma semana que te trouxeram para esse quarto.

    Lia não disse nada por um longo tempo. Recostou-se na poltrona confortável e deu-se tempo para absorver a estranheza da situação. Na verdade, a situação não era tão estranha assim, não era a primeira vez que acordava em um mundo novo e estranho. Parecia até um flashback do que aconteceu na Floresta das Almas.

    — E Kraj? – indagou a Áurea.

    — Não sei. Você o feriu antes de ele drenar sua aura. Fiz o que pude para tirar você de lá e abrir a fenda e... – Vendo o olhar perdido de Lia fitando o chão, ele deteve-se e perguntou: – O que foi? Está sentindo dor?

    — Ele me salvou – sua voz era um sussurro. – Ele poderia ter me matado, mas impediu o ciclo infinito.

    Barton não conseguiu decifrar aquele olhar, pela primeira vez ele via Lia falando de Kraj sem ter o habitual tom de raiva e desprezo na voz. Ela está confusa, pensou, não lembra bem o que aconteceu.

    — Lia, você tem que ver esse lugar – Barton exclamou, entusiasmado. – Shinê é incrível. Sauly ainda não me deixou sair do prédio, mas se formos para os andares mais altos você...

    — E quanto a aura branca? – a Niffj o interrompeu. – Você não a perdeu, não foi?

    Ele suspirou e abaixou a cabeça. Ela ainda queria respostas.

    — Ainda está em mim. Eu já passei pelo pior, como Sauly me disse. A aura agora está em um estado de equilíbrio com meu corpo. Sabia que eu sou...

    — Metade humano, metade Áureo – ela o emudeceu. – Um yomei, eu sei. Lembro de Kraj me falando sobre isso. Sobre como Nayrú e Dim fazerem de tudo para impedir que pessoas como você nascessem.

    — Do que mais você lembra? – indagou, chegando mais perto dela.

    — Do seu beijo, na fenda...

    — Fiquei com medo de te perder. – Barton entrelaçou as mãos, sem saber muito bem como ela reagiria. Não queria forçar as coisas agora, Liana estava confusa, meio perdida com aquele lugar novo e com a perda parcial da memória. Mas, para sua surpresa, ela não reagiu de maneira alguma, apenas colocou o bracelete no pulso direito e voltou a estampar o olhar perdido que tinha momentos atrás. No que ela está pensando?

    Batidas na porta interrompem os devaneios de Barton e tiram Lia do lugar distante que sua mente habitava. Sauly e Dana entram. Os cinco minutos de Barton haviam acabado e Lia precisava voltar para a cama para descansar. No entanto, ela tinha outros planos.

    — Não quero ficar mais nenhum um segundo nesse quarto – deixou claro. – Um mês já basta. – Levantou-se com um salto. – Quero minhas roupas. Viemos aqui para reunir um exército!

    Dana revirou os olhos, já ia retrucar a teimosia da Niffj quando Sauly se interpôs:

    — Isso já está sendo arranjado, Liana. No entanto, como já expliquei para Barton, apenas um exército não será suficiente para reaver Híon. – Apontou para Barton. – Ele será necessário.

    Lia virou a cabeça para fitá-lo. Barton deu de ombros como quem diz: também não entendo. Mas Lia entendia, havia visto o poder da aura branca em ação, mesmo nas mãos inexperientes dele, aquela aura se mostrou uma arma poderosa. Se direcionada corretamente, seria de grande ajuda.

    Porém, controlar uma aura levava anos de árduo treinamento, mesmo para um Áureo comum com um poder comum. E Barton estava muito além de ser um áureo qualquer, ele tinha a mesma essência que preenche a alma de um Arcano. Eles não tinham tempo para torná-lo um combatente de verdade, Kraj poderia estar movendo seus exércitos nesse exato momento para caçar os últimos focos da resistência. Depois do que aconteceu naquele vale de pedra, ele pode ter mudado de ideia quanto a deixar Lara e os outros viverem. Ela já não sabia mais o que pensar.

    — O que você tem em mente, Sauly? – Lia indagou em tom sério.

    — Calma, primeiro precisamos cuidar da sua saúde. – A Arcana fez um sinal para Dana, que já estava pronta para levar Lia de volta para a cama e cumprir seus procedimentos médicos. Mas não foi isso que Sauly ordenou. – Traga roupas novas para ela. Vamos apresentar Shinê a nossa convidada.

    — Mas, Sauly, ela precisa...

    — Ela é uma Niffj, Dana. Tudo que precisa para se recuperar é de tempo, e eu não acredito que ficar presa nesse quarto vá ajudar mais que poder dar uma volta pelo prédio.

    Contrariada em não poder cumprir sua função como deveria, Dana obedeceu sem discutir mais. Já estava acostumada com a petulância dos Niffj, que se achavam indestruitiveis e dispensavam cuidados. Bom, o que podia fazer? Ordens são ordens. Ela saiu em busca das roupas.

°°°

    — Está um pouco apertada, mas obrigada assim mesmo – Lia agradeceu. – Qualquer coisa é melhor que aquela camisola.

    As roupas que Dana havia conseguido foram uma jaqueta e calça azul-escuro, com a marca do raio no ombro esquerdo. Peças pegadas emprestadas do armário do centro de treinamento, explicara a médica. Uma camiseta de tecido leve completava o conjunto. As roupas que Lia ganhara como presente dos Bromes, no Pântano dos Perdidos, haviam sido destruídas na luta. No entanto, ela ainda guardava a pedra karisi que Jaf, o líder espiritual dos gigantes cinza, lhe dera como amuleto de proteção; usava no pescoço, como um colar.

    Depois de pronta, ela finalmente foi liberada para sair do quarto. As pernas aos poucos se readaptavam ao andar. Lia não exagerava, sabia que seu corpo tinha sido muito enfraquecido pelo Vermelho Sangue; caminhava devagar e por vezes parava para recuperar o fôlego.

    — Estou perdendo o ar muito rápido – ela reclamou-se com a médica e Barton, que os acompanhavam pelo corredor da ala de leitos do centro médico.

    — Um do seus pulmões entrou em colapso durante a luta – Dana explicou. – Nossa equipe teve muita dificuldade em manter você viva para dar a chance do seu corpo se curar.

    — Obrigada – Lia falou, encostada na parede. – De verdade.

    — Não me agradeça ainda, não está completamente curada. Quando você cair desmaiada por aí e eu tiver que te socorrer de novo, aí sim pode dizer obrigada.

    Lia pôde apenas sorrir. Dana, apesar de um tanto rude, às vezes, parecia ser uma boa pessoa. No entanto, os cabelos brancos e a sensação incomum que sentia quando chegava perto dela, a deixava intrigada. Quis perguntar se ela era Áurea, mas não teve a chance, assim que disse o que tinha para dizer, a médica saiu apressada e sumiu em outra sala.

    — Ela é bem agitada – Lia comentou para Barton.

    — Sauly disse que a maioria dos Aceta é assim. – Eles continuaram a caminhar, cruzaram com algumas pessoas normais e também outras com cabelos brancos como os de Dana.

    — O que é um Aceta? – ela perguntou, confusa.

    — Isso é bem difícil de explicar... – Ele procurou a melhor maneira de repetir o que Sauly lhe dissera semanas atrás. – Os Aceta são como...

    — São como Áureos – a voz de Sauly surgiu atrás deles –, só que com habilidades mais sutis, mas nem por isso menos incríveis.

    Os dois se viraram para a Arcana que os alcançava no corredor. Com o vestido todo branco e cabelo ondulado perfeitamente escovado para por cima de um dos ombros. Barton não parava de se surpreender com a presença poderosa daquela mulher. Agora ele entendia por que os Arcanos eram vistos como deuses por muitas pessoas.

    — Áureos? – Lia retrucou. – Como assim? Não sinto nenhuma aura neles...

    — Tem certeza de que não sente nada?

    Sim, ela sentia algo vindo de Dana e das pessoas com cabelos brancos que passavam por ela, mas não sabia dizer se era uma aura. Era algo novo, muito sutil, mas que estava lá. Sutil. Era essa a palavra que Sauly usou.

    — São outros tipos de Áureos, Lia – Barton completou seu raciocínio.

    — Venham comigo até o centro te treinamento – a Arcana pediu. – Explicarei tudo a vocês e poderei mostrar o lugar onde ficarão nos próximos dias, até preparamos tudo.

   Preparar tudo para quê? Lia já ia perguntar quando Barton a impediu com exaltação na voz:

    — Vamos voar em uma daquelas coisas? – Ele parecia uma criança prestes a experimentar um brinquedo novo.

    — Sim, Barton. Vamos voar em um seleni. – Sauly sorriu e os guiou até o elevador.

    Lia não sabia o que era um seleni e nem para onde estavam indo, mas ficaria grata em deixar o hospital.

    O elevador era quase do tamanho de uma sala inteira, havia até alguns algumas cadeiras embutidas para os passageiros se sentarem. Sentiu a caixa de metal se mover suavemente para cima, enquanto Sauly perguntou:

    — Está bem mesmo? Pode se sentar se quiser.

    — Não estou tão bem quanto gostaria, mas obrigado de qualquer forma – disse ela aceitando o conselho e tomando lugar em um dos assentos. Nunca se sentiu tão vulnerável quanto agora. Sua aura estava ridiculamente pequena ao ponto de seus sentidos apurados de outrora não serem muito melhores que o de um humano qualquer.

    — Não se preocupe. Já provou que seu corpo é muito forte – a Arcana a tranquilizou, sabendo que, para um Niffj, sentir-se fraco é algo humilhante. – Não é qualquer Niffj que chega em Vermelho Sangue e sobrevive para contar como foi. Dê algum tempo para seu organismo e logo estará como antes.

    Ela ficou calada. Não foi meu corpo que resistiu ao ciclo infinito. Eu deveria estar morta agora. Foi ele quem me salvou. Kraj...

    Barton estava sempre ao seu lado, amparando-a para o caso de, como Dana dissera, Lia caísse desmaiada. Viu aquele olhar perdido em seu rosto novamente, talvez buscando os fragmentos de memória sobre a luta no vale de pedra.

    O elevador não levou mais que alguns segundos para subir os trinta e sete andares até o topo do prédio. Saíram em uma ampla sala com uma vista deslumbrante de toda a cidade por uma das paredes que era totalmente de vidro límpido. Os prédios menores pareciam pequenos palitinhos azuis espetados no solo entre ruas asfaltadas cravejadas do verde das árvores e parques quase impossíveis de serem vistos dali.

    — Uau! – Barton impressionou-se. Era a segunda vez que visitava aquela sala e não se cansava de ver aquilo.

    O sol da tarde era parcialmente filtrado pelo vidro e lançava um tom alaranjado sobre as poltronas de couro colocadas no centro e sobre um rapaz de barba rala sentado em uma delas, lendo algo em uma tela maleável nas mãos. Assim que viu os visitantes ele colocou a tela de lado e ficou de pé. Vestia um uniforme militar verde claro, com um brasão costurado no peito do casaco que exibia o desenho de três marcas ondulantes.

    — Ah, olha só! – falou o animado rapaz. – É um grande prazer finalmente conhecer Liana Elenor. – Estendeu a mão enluvada para a loira. – Ramon Pontak, capitão da 65ª divisão de selenis leves de Alva.

    Antes mesmo de segurar a mão do capitão, Lia já pode sentir sua aura e saber que se tratava de um Nahin do ar. Ele não se dava ao trabalho de sequer retrair seu poder.

    — O prazer é meu, Capitão Ramon – disse ela com um sorriso.

    — Nem acredito que vou levar uma princesa de verdade na minha nave. Puxa vida, que honra!

    Lia riu sem saber ao certo se Ramon estava fazendo uma piada ou se falava sério. Duvidava muito que os shinenianos tivessem ouvido falar dela ou dos quatro reinos de Yvrim; era mais provável que ele soubesse de sua descendência real por Sauly ou mesmo Barton. De qualquer forma ela agradeceu o lisonjeio.

      — Vocês não têm medo de altura, certo? – Sauly indagou, fitando Barton sem disfarçar o sorriso.

    — Medo de altura? – Ramon desatou a rir. – Tá brincando, Arcana? Niffjs não tem medo de nada. E Barton aqui é filho de uma Nahin do, não é? Os do ar não tem medo de altura, é nosso habitat natural. Não é isso, Barton?

    Lia ficou impressionada como aquele Nahin se comportava diante da autoridade máxima entre Áureos. Seu modo de falar com Sauly era quase o de bons amigos, um realidade bem diferente de Nayrú no Palácio da Luz, que exigia ser tratado como um verdadeiro rei.

    — Bom, na verdade eu tenho certo problema com lugares altos, sim – Barton respondeu, meio envergonhado.

    Ramon pareceu um tanto surpreso com a revelação – e até ofendido em ver um Nahin do ar com medo de altura. Mas ele deu um desconto ao rapaz, Barton não era um Áureo comum e não teve nenhum treino. Além do mais, esse medo só duraria até ele conhecer Adiya, a Nahin responsável pelo treinamento dos cadetes de primeiro grau.

    — Ok, então vamos indo – ele indicou a escada em espiral que subia até o terraço do prédio. – Nossa carruagem nos espera.

    Os três saíram para o terraço e foram recebidos pelo vento forte do sul do Alva. Poucas nuvens manchavam o firmamento azul. Lia achou o clima um pouco frio para aquela hora do dia, mas não dão muita importância a isso, levaria algum tempo para se adaptar àquele novo ambiente.

    A carruagem a que Ramon se referia era na verdade, uma grande nave triangular com listras laranja e branco. Apesar do formato de triângulo, o veículo tinha curvas suaves que acentuavam sua aerodinâmica e o deixava mais elegante. As duas asas no topo, exibiam enormes hélices embutidas que eram capazes de se mover em várias direções, a fim de dar mais estabilidade no voo.

    — Impressionante – Lia falou, fitando a nave de cima a baixo.

    A porta já estava aberta, aguardando os passageiros. Ramon foi o primeiro a entrar e foi direto para o acento do piloto, pressionando botões e ligando telas. Sauly os convidou para que entrassem também e o interior do seleni deixou a Niffj ainda mais impressionada.

    O chão era coberto por um carpete azul luxuoso e macio. Os assentos eram poltronas ainda mais confortáveis que as do quarto onde estivera e as janelas circulares tinham até cortininhas ricamente enfeitadas. Era tudo muito luxuoso, mas, ao mesmo tempo, o lugar passava uma sensação de naturalidade. Ao contrário do que Lia pensava, a nave não era feita de metal. Era uma espécie de liga orgânica resistente muito parecida com madeira envidraçada.

    Barton estava animado com toda aquela tecnologia, porém, tinha também um pouco de receio em seu olhar. Já estavam a centenas de metros do chão, no topo daquele prédio, e em breve iriam ainda mais alto. Ele tomara lugar perto da janela, mas bastou uma olhada para fora para que pedisse a Lia que trocasse de lugar com ele. Ficou entre Sauly e a Áurea, bem longe da paisagem que o assustava e deslumbrava ao mesmo tempo.

    — Ah, não sou muito fã desse modelos de passeio, sabia? – comentou Ramon da cabine, fazendo os últimos ajustes para a decolagem. – São sempre cheios de protocolos de segurança que me dão nos nervos. Além de serem bem mais lentos que os modelos militares.

    — Não precisamos ir rápido, capitão – retrucou a Arcana. – O centro de treinamento fica a poucos minutos daqui.

    Ramon não fechou a porta que isolava a cabine do piloto do resto da nave, o que permitiu que Lia visse todo o peculiar processo de ativação dos motores. Depois de apertar mais alguns botões, dois anéis ligados a hastes envolveram os antebraços do Nahin, outros dois agarraram-se aos pulsos. Uma fraca luz verde acendeu-se no painel e uma voz robótica soou na cabine:

    Aura Nahin detectada. Aguarde análise de compatibilidade...

    — Viu, não disse? – o piloto queixou-se, olhando por cima do ombro. – Cheia de frescuras.

    A voz surgiu novamente, depois de alguns segundos: Compatibilidade em 100vons. Pronto para decolagem.

    Lia sentiu a aura de Ramon aumentar suavemente, seus olhos emitindo o mesmo brilho verde da luz no painel, e logo em seguida as hélices das asas começaram a girar. O barulho do motor era quase inaudível dali de dentro como o ronronar de um felino dócil. Lia viu tudo com os próprios olhos, entretanto, teve que perguntar:

    — Ele ligou isso com a aura?

    Sauly sorriu com a expressão de incredulidade no rosto da jovem.

    — Sim. Isso é uma das muitas invenções dos Aceta. Eles chamam essa tecnologia de ASAN, ou Ativação de Sistema por Aura Nativa. São detectores de energia que captam a aura e a utilizam como fonte de energia amplificada. – Dava para ver que Lia ainda não estava entendendo nada. – Ramon usa seu poder Nahin associado com os sistema ASAN do seleni e assim é capaz de controlar as correntes de ar em volta da nave que alimentam as hélices.

    — Como um amplificador? – ela arriscou.

    — Quase isso. Um amplificador multiplica o poder da aura, o ASAN apenas o transfere e o distribui através de um sistema.

    O seleni erguia-se no ar, enquanto Lia ficava cada vez mais embasbacada com aquela tecnologia. Ela se impressionava com a magia de Yvrim diversas vezes, mas magia nunca foi capaz de atuar em um conjunto tão harmonioso com uma aura antes, pelo menos não que ela soubesse.

    A decolagem foi perfeita. A nave disparou pelo céus em uma aceleração tranquila. Barton parecia até mais calmo em ver que não iriam despencar tão facilmente.

    Lia encostou a testa no vidro da janela para ver os prédios ficarem para trás, cada vez menores. Conseguiu ver também muitos lagos, mesmo no meio dos centros mais urbanizados. E ao longe, no horizonte, um grande oceano esverdeado se estendia a perder de vista. Ali a tecnologia não confrontava a natureza ou vice-versa.

    — Alva é a maior cidade de Shinê – Sauly explicou para a Niffj. – Aqui fica o centro do poder dos Países Áureos. É onde o conselho se reúne. – Ela apontou para um pomposo edifico em forma de cúpula que brilhava muito longe de onde estavam, refletindo a luz do sol com imponência.

    — Um conselho. – Lia repetiu. Em Yvrim também havia um conselho formado pelos Somas mais sábios e antigos, no entanto, eles pouco interferiam nas decisões de Nayrú.

    — Sim. Cinco representantes – a Arcana continuou. – Um Nahin, um Niffj, um Soma, um humano e um Elenus.
    — Elenus? – ela franziu a sobrancelha. Barton recostou-se desconfortável em seu lugar. Já tinha ouvido aquela explicação de Sauly e temia como Lia ia reagir quando soubesse o que eram os Elenus. A resposta não tardou a vir:

    — São os portadores da aura negra. Você os conhece como Espectros.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now