{17} AS LINHAS DO DESTINO

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O mapa de Dana levou Lia para os subúrbios da cidade, bem longe da movimentação e dos prédios altos. No entanto, até mesmo ali a modernidade se fazia presente, nas casas em formato de cubo, nas ruas pavimentadas e até nas pessoas, que não se vestiam tão luxuosamente quanto as do centro, mas caminhavam com suas telas nas mãos.

Assim que saiu do trem, Lia tirou o casaco do exército e amarrou-o do avesso na cintura, dando um nó nas mangas. Tinha percebido olhares estranhos durante a viajem, enquanto as pessoas assistiam noticias sobre outro protesto fora de controle em algum lugar, ou, talvez, fosse apenas o mesmo que tinha visto antes. Não sabia dizer. Imaginou que o uniforme militar chamaria muita atenção e a essa era a última coisa que ela queria.

Olhou para o mapa mais uma vez, o vento balançando o papel amassado em suas mãos. Estava na rua certa, achava. Casinhas pequenas pintadas com cores vivas se estendiam dos dois lados da rua, com janelinhas estreitas e o teto apinhado de painéis escuros apontando para o céu. Um grupo de crianças brincava na calçada com uma esfera de madeira com luzes. Eles a jogavam um para o outro e ela flutuava como se fosse um balão por alguns segundos, os pequenos gargalhavam quando a bolinha ia mais alto do que o esperado. Uma mulher os vigiava enquanto regava o canteiro salpicado de pequenas flores azul e violeta.

Era um vizinhança comum, com pessoas comuns. Lia enfiou o papel no bolso e começou a procurar pela casa de Anakias. No desenho de Dana era uma residência afastada, no fim daquela rua.

Fora as crianças, a mulher no canteiro e um ou outro transeunte, a rua estava vazia e calma, com o vento sacudindo os galhos das árvores baixas por trás das casas. Ninguém pareceu notá-la, ou notaram e não deram muita importância. Esconder o casaco do foi uma boa ideia.

Quando chegou ao final da rua, soube de cara qual era a casa do Aceta. Não só por que era a única casa separada das outras, em um terreno largo com muita vegetação em volta, um jardim bem cuidado que qualquer Nahin da terra ficaria orgulhoso em ver; mas também por que algo ali a atraia. Lia abriu a portinhola da cerca de madeira e caminhou até a porta enfeitada com desenhos de um pássaro shineniano de quatro asas. Bateu de leve.

As janelas estavam fechadas e o interior da casa silencioso. Ela logo pensou que não havia ninguém ali. Mas Dana garantira que Anakias saberia que ela estava vindo. Passou um tempo e ninguém atendeu. Ela bateu novamente, dessa vez com mais insistência. Nada. Lia franziu o cenho, teria ido tão longe para nada?

Foi então que uma das crianças veio correndo até ela, um garotinho de cabelo emaranhado e shorts acima do joelho ralado em alguma queda que levou recentemente, carregava a esfera flutuante de madeira, passando-a entre as mãos com habilidade.

- Ele disse pra você entrar - disse o menino, esbaforido pela corrida. - Desculpa, não vi você passando.

- Quem disse? - indagou, inclinando-se para olhar o garoto nos olhos.

- Anakias - respondeu, apontando para a porta da casa. - E disse também para não se preocupar com o vaso.

- Vaso? Que vaso? - Lia estava cada vez mais confusa. O menino deu de ombros.

- Não sei. Ele só me disse para dar esse recado quando uma moça de cabelo curto loiro batesse na porta hoje a tarde. Mas ele não me disse que seria uma moça tão bonita. Você é Áurea? - Lia abriu a boca para responder, mas ele completou: - Tenho uma tia que é Áurea e ela é muito bonita também.

Seus amigos o chamaram para continuarem a brincadeira e ele saiu correndo novamente. Lia teve tempo apenas de gritar um obrigado, enquanto ele acenava sorrindo por cima do ombro.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin