{22} OCEANO NEGRO

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O corpo de Kraj doía, a pressão naquela camada tão funda do Mundo Não Físico era excruciante e o esforço para manter-se protegido o debilitava. Além disso, a luta contra o Rei Condenado custou muito caro para a aura do Mestre das Sombras.

Estava caído no chão muito frio. Respirar ali era ainda mais difícil. Sentia o relevo dos desenhos rebuscados no cabo de Mahiban em sua mão. Abriu os olhos a fim de conhecer lugar. Não viu nada. Estou cego!, Foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Mas seus olhos logo captaram o brilho parco dos olhos do touro no pingente em seu pescoço. Não estava cego, só estava... no escuro.

Escuridão era algo que os Espectros conheciam bem, era parte deles como a natureza é parte de um Nahin. As sombras os fortaleciam. Porém aquela escuridão era diferente. Solida como se Kraj estivesse mergulhado em um oceano turvo. Mesmo com sua visão espectral não conseguia ver nada além da fraca luz que seu amplificador emitia.

Gemeu ao ficar de pé, sua voz ecoou. Quando, finalmente, lembrou-se onde estava, apertou mais forte o cabo da espada. Itmar'primo, alertou-se, a primeira cela. Aquela era lendária e mais oculta camada do mundo dos espíritos. Onde o Arcano Dim havia selado uma das três feras abissais na aurora do cosmo. E agora ele caminhava por ela.

Preciso encontrar o túnel para a próxima camada. Kraj concentrou-se para sentir a concentração de energia que indicava a direção da próxima passagem. Para sua surpresa não encontrou nada.

- Isso é uma prisão. O que procuras? Uma saída? - A voz gutural que vinha de todos os lados debochou do yomei. - Sair daqui não é fácil.

- Você deve ser uma das feras abissais - falou Kraj, sem saber para onde dirigir a palavra. - E essa cela foi construída especificamente para você. Não para mim.

- Meu nome é Niharb, e tu me deves respeito. Teu poder vem de mim.

Kraj sentiu uma presença passar pelo alto, como se um gigante se movesse na escuridão. Ele só podia imaginar que tipo de criatura passeava por ali. As feras abissais tinham esse nome por serem retratadas nas pinturas como monstros do tamanho de montanhas. Seres de aura equivalentes a dos Arcanos. Mas, na verdade, ninguém além dos filhos do Véu é tão antigo para lembrar de como eram esses monstros.

- Isso não faz de você meu mestre - Kraj o desafiou.

- Ah, sim. Tu és o meio-espectro que desafia a força dos Arcanos. - A voz poderosa flutuava. - Ouvi muito sobre ti. Não penses que meu cativeiro me deixa alheio aos acontecimentos do Mundo Físico. Mas teu poder agora é fraco, então modere o tom.

Niharb tinha razão quanto ao poder dos Espectros vir dele. As feras abissais foram a fonte que deu origem aos primeiros portadores da aura negra. Os soldados que espalharam o caos no início do mundo. Kraj os odiava por isso, foram eles que deram origem à crença de que os Espectros eram todos seres corrompidos e que deveriam ser caçados e eliminados por toda a eternidade.

- Não tenho assuntos com você, criatura. Apenas me diga onde fica a passagem e eu irei embora.

A fera sem rosto riu, uma risada que aranhava os ouvidos e ecoava longe.

- Tu podes ser um rei em teus domínios, mas aqui, perante mim, és fraco como um verme.

- Posso passar por você como passei pelo guardião.

- Acalma-te. Não quero fazê-lo sofrer. Afinal, é o mais forte dos meus filhos. Derrotou e humilhou Dim, o Arcano da segunda dimensão.

- Não sou teu filho - Kraj irritou-se. - E não venci Dim por ninguém além de mim e meu povo!

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now