{18} VIDA COMUM

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Dimensão Yvrim
175 anos antes

Lia encontrou a pequena aldeia que tanto vinha procurando no final da tarde, quando a luz dourada do sol poente se espremia pelos galhos das árvores do bosque em volta. Era uma aldeia madeireira afastada das principais estradas, que vivia praticamente por conta própria, alheia ao que acontecia nos grandes centros do reino. Lia nem se quer fez questão de memorizar o nome do lugar, tudo o que importava era o que tinha levado ela até ali: Kraj.

O Espectro que caçava há dois anos, o Espectro que tinha destruído seu lar ao lado de um exército de Bárbaros. A última pista que tinha levou-a até ali, no meio do nada. Não sabia ao certo por que Kraj se esconderia naquela região, não havia nada além de quilômetros de florestas.

Ela caminhou vagarosamente pela estradinha de pedra que levava até o interior da aldeia. Seus olhos arderam e sua vista tremeu um pouco, culpou o cansaço por isso, tinha viajado os últimos três dias sem descanso e até mesmo o resistente corpo Niffj precisava de uma pausa depois disso.

Nas ruas as pessoas a observavam curiosas em ver uma visitante em um lugar tão esquecido, surpreenderam-se ainda mais ao ver que era uma Áurea. Lia havia se desfeito da maior parte da sua armadura escarlate, mas ainda usava as placas que protegiam suas coxas e a parte dianteira da couraça, de resto usava roupas comuns de andarilha. Mesmo com pedaços de uma armadura desgastada, ela não passava despercebida.

Senhoras curiosas esticavam os pescoços pela janela, os lenhadores paravam o movimento de sues machados e até os cães pararam de latir para ver quem chegava. Os moradores dali só podiam imaginar o motivo da visita de uma guardiã.

Ignorando os olhares curiosos, Lia procurou por uma estalagem ou cortiço para passar os próximos dias, precisaria saber para onde seguir depois caso não encontrasse nenhum sinal de Kraj ali. Ela passou pelas vielas, entres as casas de madeira e pedras, molhou o rosto na beira do riacho que permeava a aldeia. Sentou-se em uma pedra para respirar um pouco. Três crianças correram até ela, deslumbradas em ver uma Áurea tão de perto.

Elas cochichavam trocando pequenos empurrões, tentando criar coragem para falar com ela. Até que uma garotinha de transas compridas se adiantou, chamando seus amigos de medrosos.

- Oi - cumprimentou ela oferecendo a mão. A barra de seu vestido florido estava sujo de terra e grama. - Meu nome é Laysla. E o seu?

- Oi, Laysla - falou Lia, fingindo não saber que eles já estavam ali. - Pode me chamar de Lia.

- Você é Áurea. Sabe fazer a água te obedecer? - indagou a pequena apontando para o rio.

- Não, sua burra. Ela usa vermelho, não tá vendo? - Um garotinho rechonchudo mais atrás reclamou. - Ela forte.

- Aposto que ela derruba uma árvore só com as mãos - seu outro amigo comentou, dando um soco desajeitado no ar.

A garota retrucou, irritada por ter sido insultada e os três começaram uma discussão. Lia assistia a tudo com um sorriso. Apesar da briga ela via que os três eram bons amigos. Até que o garoto rechonchudo cansou-se de medir forças com Laysla e perguntou, dirigindo-se a Lia:

- Você já matou muitos monstros? Como eles são? Algum deles já te mordeu? Posso ver seus olhos mudarem de cor?

Lia não tinha entendido quase nada do que ele disse, de tão rápido que falou. Mas estava cansada demais para responder perguntas. Ela ficou de pé e fez um cafuné no garoto, que ficou com cara de bobo.

- Algum de vocês pode me dizer se aqui tem alguma estalagem? - ela perguntou. - Preciso dormir um pouco.

- Eu sei! Eu sei! - O outro garoto deu pulos erguendo o braço. - Fica perto da roda d'água.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now