{9} A ARENA

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    À noite, Barton teve que implorar pela permissão de Dana para visitar Lia. Foram necessários muitos "por favores" e várias promessas de que não demoraria mais que dois ou três minutos até que a Aceta liberasse sua entrada. Dana estava mesmo sem muita paciência, nem tempo para perder.

    — Só três minutos e nem um segundo a mais – ela deixou claro. – Aproveite que vai vê-la e faça algo de útil, ela não quis tomar os comprimidos mais cedo. Coloque algum juízo naquela cabeça dura ou terei que tomar uma atitude drástica.

    Barton achou uma postura de Dana um tanto agressiva para alguém que cuidava de pessoas, mas sabia muito bem que Lia poderia ser teimosa a ponto de fazer qualquer um perder a paciência. Essa duas devem ter batido cabeça o dia todo, pensou.

    Quando entrou no quarto, encontrou a loira de frente para a janela, lutando com a máscara de oxigênio no rosto que não parava de incomodá-la. Barton bateu na porta, com o potinho de comprimidos na mão.

    — Boa noite. Como está a paciente mais linda desse hospital? – indagou, com um sorriso bobo no rosto.

    Ela se virou e viu o rapaz encostado no batente da porta, com seu uniforme branco requintado. Barton havia se livrado da jaqueta comprida que lhe apertava o pescoço, mas manteve a camiseta que vestia por baixo.

    — Não adianta tentar me agradar – Lia retrucou com a cara fechada. – Já vi os remédios na sua mão. Ela te mandou aqui pra me convencer a tomar isso? Esquece.

    Ela coçou o queixo. Isso vai demorar bem mais que três minutos. Entrou e fechou a porta atrás de si.

    — Na verdade vim aqui pra falar com você. Os remédios foram uma das condições para te ver fora do rígido horário de visitas. – O pote com os comprimidos acabou sendo esquecido sobre a cama.

    — Gostei da roupa – Lia disse, irônica. – Está parecendo um verdadeiro salvador.

    — Sauly disse que eu não poderia aparecer de qualquer jeito diante do Conselho.

    Ela sorriu, ainda olhando para as luzes da cidade além do vidro da janela. Barton relaxou ao ver seus lábios curvados de novo, mesmo que eles tenham perdido o rubor natural e vívido de antes, mesmo que ofuscados pela máscara embaçada por sua respiração, ainda era lindo.

    — E como foi? – ela quis saber, finalmente mirando seus olhos cor de mel nos dele. – Imagino que tenha dado tudo certo, pra você estar tão alegre.

    Ele se sentou em uma poltrona e puxou-a pelas mãos para que se sentasse ao seu lado. As notícias que tinha para dar poderiam não agradá-la tanto. Além disso,  conhecia aquela Áurea muito bem para saber que ficar trancada naquele quarto o dia todo não lhe deixou de bom humor. Tomou fôlego e disse de uma vez:

    — Sauly quer me dar um amplificador.

    Barton pôde ver claramente a expressão de Lia mudar, estreitou os olhos, mordeu os lábios e cerrou o punho.

    — Um amplificador?! – ela esbravejou, mas sua voz foi abafada pela máscara. – Sauly ficou louca? Você ficou louco, Barton? Não concordou com isso, concordou?

    Ele jogou as mãos para o alto e deu de ombros. Deixaria ela extravasar e dizer o que tinha pra dizer, talvez ela lhe desse um soco na cara ou fosse xingado, mas quem sabe não era aquilo o que ela precisava, colocar um pouco da raiva contida para fora.

    — O conselho aprovou o envio das tropas para Híon, Lia – Barton tentou explicar. – Porém eles não tinham muitas esperanças que eu pudesse ser útil então...

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now