{5} CONHECENDO AS REDONDEZAS

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Shinê

    Lia acordou no meio da madrugada, sem a menor vontade de voltar a dormir. Barton, entretanto, estava com o rosto afundado no travesseiro na cama ao lado da sua. Seu sono não parecia sofrer com qualquer tipo de preocupação, ou talvez, ele seja muito bom em não deixar isso afetá-lo.

    Ela se sentou na cama e ficou encarando-o. Barton agora era fundamental nessa guerra, e pensar que antes disso tudo começar ele era só um rapaz esquecido em uma vila ainda mais esquecida no meio de lugar nenhum. Por um momento, Lia não queria que ele estivesse metido em tudo aquilo. Queria não ter aparecido naquela caverna e feito com que fosse coberto com uma energia poderosa e mortal. Mas nada daquilo dependia do seu querer. Foi Sauly quem guiou todos os fatos daquela maneira.

    Ela suspirou, pensativa. Com boas intenções ou não, os Arcanos ainda manipulavam os mais vulneráveis conforme seus objetivos. Até onde Nayrú a manipulara? Ele a fizera caçar Kraj quando podia simplesmente ter retirado sua aura e a transformado em uma humana. Isso fazia parte de seus planos também?

    Levantou-se e foi até a janela fitar as luzes brilhantes de Alva até onde a vista alcançava. Dali de cima tudo era silêncio, mas a cidade ainda fervilhava com o movimento das pessoas indo e vindo. Tudo tão normal para elas. Talvez nem soubessem o que acontecia nas outras dimensões. Talvez, algumas delas nem soubessem da existência das outras dimensões.

    Inquieta e sentindo-se sufocada naquele quarto, com a cabeça repleta de dúvidas, ela decidiu que seria melhor sair um pouco. Tomar ar fresco lhe faria bem. Foi até o armário e procurou as roupas que Sauly tinha falado; as encontrou impecavelmente penduras em um cabide. Eram bem casuais, roupas comuns, nada de uniformes militares. Era perfeito, não queria mesmo chamar atenção.

    Vestiu-se rápido, sem se preocupar muito se as roupas novas lhe caiam bem: uma calça de tecido maleável, uma blusa de mangas compridas e uma jaqueta grossa para enfrentar o frio lá fora. Olhou para a mão enfaixada, ainda estava parcialmente imobilizada, mas ela não sentia mais dor alguma. Puxou as ataduras, sem o menor cuidado e jogou-as no chão.

    Abriu e fechou o punho, como que para certificar-se de que todas as articulações estavam no lugar. A pele ainda estava um pouco avermelhada, mas sim, estava tudo como deveria, nem mesmo um osso faltando.

    — Não sou de ficar presa, Sauly – sussurrou a Niffj, caminhando até porta.

    Encontrou o corredor completamente vazio, como era de se esperar a essa hora da madrugada. Não importava, não ia se esconder de ninguém. Por que a impediriam de sair? Refez todo o caminho até o elevador e apertou o botão para trazê-lo até seu andar. Não demorou para chegar.

    Quando as portas se abriram, Lia viu que dois Áureos já o ocupavam, seus uniformes indicavam que ainda estavam em treinamento, assim como os rostos jovens, que denunciava que ainda eram novatos.

    — Boa noite – disse o rapaz, Nahin da água.

    — Boa noite – Lia respondeu assim que entrou.

    — Tá subindo ou descendo? – o outro quis saber. – Nós estamos descendo.

    — Estou descendo também. – Ela não tinha o menor clima para conversinhas, no entanto, não queria ser rude. Ela estudou os muitos botões luminosos, procurando qual o levaria até o chão.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora