{27} AINDA GUARDIÕES

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- Queimem tudo!

Os gritos e a correria enchiam o Capitão Telan de uma sensação de poder sem igual. De cima de seu cavalo ele observava seus soldados monstruosos destruírem os pequenos barracos de madeira da vilazinha. Seguia ordens do Imperador Shans. Ordens para eliminar qualquer possível foco de resistência áurea. E como o Nahin responsável por aquela aldeia recusou-se a cooperar agora seu corpo jazia estirado com uma lança atravessada em seu peito. Guardião imundo, Telan cuspiu no chão poeirento e voltou a apreciar os rostos retorcidos pelo medo antes de terem suas cabeças decepadas por espadas e machados.

Uma casa ruiu com as vigas enfraquecidas pelo fogo bem ao lado de Telan. Seu cavalo assustou-se e relinchou, ele segurou as rédeas com força. A armadura escura fazia com que parecesse maior do que realmente era. Telan estava adorando isso. O sumiço repentino de Kraj deu maior autonomia para os Sete Imperadores, agora faziam as próprias regras, mandavam e desmandavam sem terem que responder a ninguém. Zarem, que fora deixado no comando, não dava muita importância às leis de proteção às vilas humanas. A servidão humana era bem-vinda, mas Telan era dos que defendia a ideia de que há muito tempo não tinham o tratamento que os fazia lembrar quem estava no comando.

Alguns aldeões assustados corriam para a estrada, na esperança de se esconderem na colina. Telan não se moveu, quando terminasse com a vila, ele mesmo os caçaria, um por um. Não teriam uma morte rápida. Telan desceu do cavalo e sacou a espada longa. Dois jovens corriam em sua direção para fugir da matança. Pela semelhança pareciam ser irmãos. Não tinham visto o capitão Espectro ali. Estão fugindo para o lado errado, seus tolos. Abriu um sorriso e levantou a lâmina ao lado do rosto, cortaria os dois ao meio com um único golpe.

Gritos, fumaça, sangue. Os dois já estavam ao alcance da crueldade de Telan e a espada cortou o ar em um semicírculo.

Houve um baque.

A lâmina tiniu chocando-se com aço. O aço da ponta de uma flecha.

O impacto foi forte o suficiente para desviar a espada de seu alvo. Os dois jovens viram a arma passar a poucos centímetros. Caíram no chão com o susto e rastejaram para longe do Espectro. Telan os teria atacado de novo, mas estava surpreso demais para isso. A flecha que parou seu golpe não foi a única, outras dezenas de setas cruzaram o céu, parando precisamente na cabeça de seus soldados, que caíam como sacos de batata. O modo como as flechas voavam, fazendo curvas impossíveis, não deixou dúvidas sobre o que estava acontecendo.

- Tem um Nahin do ar por perto! - berrou. - Achem-no. Quero ele morto!

Não foi necessário nenhuma caçada ao atacante, pois Telan logo ouviu o rugido de uma fera azul que servia de montaria para uma Áurea de cabelos lisos preso em um comprido rabo de cavalo. Carregava nas mãos o arco rebuscado, a corda esticada para impulsionar outra flecha, esta voou alto sobre a cabeça do capitão, fez uma curva por um muro e cravou-se na nuca de um soldado negro que preparava-se para assassinar uma mulher.

Telan irritou-se com a intromissão, mas não surpreendeu-se com técnica. Os arqueiros Nahins do ar eram arduamente treinados para controlar as correntes de ar ao redor das setas que disparavam. Eram capazes de mudar a direção das flechas enquanto ainda voavam para o alvo.

Quando alcançou a vila a Nahin saltou de sua montaria e deixou que a fera seguisse em outra direção, estraçalhando com dentes e garras os Espectros que encontrava no caminho. A criatura era rápida e em questão de segundos desmembrara cinco soldados.
Sua cavaleira continuava sacando flechas da aljava que carregava presa às costas, eliminando alvos que ameaçavam os aldeões. Ela não errava um disparo sequer.
- Você aí! - chamou-a em tom desafiador. - Vai se arrepender de ter se intrometido!

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now