capítulo 20

86 6 0
                                    

A dor da minha cabeça me deixou um pouco perdida. Olhei em volta e vi macas de hospitais, tudo era da cor branca, e os quartos eram divididos por cortinas. Ao meu lado tinha duas poltronas e um criado mudo, um suporte de soro com um soro. Passei a mão na testa, que estava enfaixada, e então lembrei do que havia acontecido com meu quarto.

Tentei descansar, fechando os olhos e esquecendo de tudo que tinha acontecido.

- Ela ainda está dormindo majestade. - ouvi alguém cochichar.

- Vai ser breve, queria ver se ela estava melhor. Não consegui pregar os olhos a noite inteira. - disse uma voz familiar.

Abre meus olhos e vi uma enfermeira e a rainha Bélgica conversando.

- Olha! Ela acordou.- disse a enfermeira apontando para mim.

Eu via elas ao longe ainda com os olhos um pouco turvos.

- Desculpe se te acordei, Stella.  Queria saber se sente-se melhor?- disse a rainha.

- Um pouco, minha cabeça ainda está doendo e eu estou um pouco tonta.- minha voz saiu rouca.
- Rainha Bélgica, pode me falar o que aconteceu...

Eu ainda estava perdida em relação ao tempo. Não sei quanto tempo fiquei dormindo. Olhei no relógio de parede que marcava 9:00  da manhã, então certamente eu estaria no dia seguinte e havia ficado desmaiada por quase vinte quatro horas.

- Bem, os guardas escutaram um grito e foram ver o que aconteceu, e encontraram você caída na porta do quarto com a cabeça molhada de sangue e pelo que parecia, você tinha sido agredida com a porta, pois ela estava completamente ensanguentada.

- Na verdade, o que aconteceu foi que: quando eu cheguei no meu quarto, a porta estava ensanguentada com um desenho, quando entrei, meu quarto estava completamente destruído. Eu vi duas pernas debaixo da minha cama e pensei que uma das minhas criadas havia sido esquartejadas pelos rebeldes, por isso gritei.

A rainha arregalou os olhos, e levou a mão até a boca aparentemente surpresa. 

- Ninguém me falou sobre isso. Há duas selecionadas desaparecidas, e sua criadas também estão desaparecidas desde ontem.

Senti meu sangue gelar. Será que eles sequestraram elas?

- Alguém já olhou o meu quarto? - perguntei.

- Não. Quando você desmaiou, apenas te trouxeram pra cá. Mas não me falaram nada.

Levantei da maca ainda tonta.

- Não. Para onde pensa que vai? Ainda está doente. Deite-se e deixe que eu resolvo isso.- deitei de volta e fiquei olhando ela conversar com o guarda.

- Bom, eu já providenciei que iniciassem uma busca atrás das desaparecidas.- ela levantou e andou em círculo por um tempo.

-Está tudo bem rai... Bélgica? - corrigi - me rapidamente ao lembrar do que ela falara anteriormente.

- Não. Estou tentando segurar tudo, mas é difícil sabe? - ela sentou novamente. - eu procuro há anos minha filha perdida, agora tem esse negócio de seleção para o príncipe, os rebeldes. Tudo isso me sobrecarga. Ninguém perguntou se eu queria ser rainha aliada. Apenas dizem :" ser rainha aliada é um privilégio, você poderá trazer muitas prosperidades para seu reino". Mas, eu queria ter meu casamento, ter minha família. - era um pouco engraçado o desabafo da rainha,  ela imitava as vozes, fazia expressões faciais que eram hilárias.

- Mas, por que a senhora não tem família ou casamento?

- Ora, o primeiro rei da monarquia do segundo reinado declarou como lei que se uma princesa não casasse até seus 20 anos ela teria que ser rainha solteira e ainda aliada de apenas um reino e essa aliança seria mais séria do que casamento. - ela revirava os olhos, mesmo sendo horrível essa lei era até engraçado o modo como ela contava isso.

- Então... A senhora...

- Eu ia casar com o amor da minha vida. Mais, meu pai nunca apoiou, porque Henry Delcius era filho do seu rival. E isso era extremamente perigoso, mas ao mesmo tempo gostoso de se viver. Henry e eu nos encontrávamos escondidos na floresta, até que um dia meu pai descobriu. Ele mandou matar Henry, mas ele sumiu e até hoje não sei de notícias dele. A  única coisa que me resta dele são lembranças e minha filha. Quando meu pai soube que eu estava grávida, ficou tão irritado que quis que eu abortasse. Mas eu não o fiz. E por alguns motivos eu a perdir até hoje. - no final, Bélgica já estava chorando. Não escandalosamente, mas aquele leve escorrer de lágrimas.

___________________________________

Voltei para meu quarto quando ele já estava limpo. Aquele pequeno trauma de encontrar algo não saia da minha cabeça.
 
Deitei na cama e precionei o colar contra o peito, daí lembrei do papel.

Abri meu medalhão e tirei o papel de dentro da estrela, fui desamassando aos poucos.

"- Como eu nunca percebi isso?"

Uma imagem enorme de um mata surgiu entre as dobras do papel, mas faltava um pedaço. A imagem era parecida com um mapa do tesouro. Fiquei imaginando como nunca percebi esse papel dentro do meu colar por anos.

O papel estava sobre minha cama, então dobrei de volta do mesmo jeito e coloquei em meu colar.

Até alguém bater a porta, a última coisa que eu queria era levantar da cama quando eu tinha acabado de deitar.

- Pode entrar! - gritei.

- Stella, a rainha Bélgica quer todas as selecionadas no salão das mulheres daqui a dez minutos. - Liv parecia um pouco abatida.

- Tá bom. Obrigada Liv.

- O que você disse?

- ...Via. É que você não deixou eu terminar. LIVIA.

- Aham. - ela sorriu de lado. Primeiro e último sorriso que você verá de Liv hoje.

[...]

A filha da rainha (HIATOS)Where stories live. Discover now