4.

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Bruce caminha ao meu lado até sua casa, não falávamos absolutamente nada. O dia estava nublado e frio, minhas mãos estavam dentro dos bolsos do moletom, igual aos de Bruce. Antes de irmos para a casa dele, passamos no Mcdonald e compramos lanches para almoçarmos, ele disse que seus pais não estariam em casa e ele não sabia cozinhar. A última vez que Bruce tentou cozinhar, ele conseguiu destruir a panela, a pia e a comida, então, melhor não arriscar.
Assim que entramos em sua casa, Cherry latiu e começou a abanar o rabo dando a entender que estava surpresa ao me ver, correu até mim e pulou nos meus braços pedindo-me um cafuné. Cherry era a labradora de Bruce, compramos ela quando tínhamos 10 anos, eu quem escolhi o nome, fazia tanto tempo que não a via que achava que ela nem lembrava mais de mim.

- Parece que ela sentiu saudades.- disse Bruce, enquanto observava eu brincando com sua labradora.

- Eu também senti a sua, grandona!- digo afinando a voz e recebendo lambidas no rosto em forma de resposta.

Depois que me recompus e tirei os pelos da minha roupa, subi junto à Bruce para seu quarto. Ele continuava igual a antes, sua cama arrumada graças à sua mãe, mas as roupas estavam jogadas na cadeira giratória do computador, seu violão jogado no chão, perto da cama e seu armário aberto mostrando o quão desorganizado ele era, mas por outro lado, eu amava a decoração, o desenho na parede atrás da sua cama, o tom rústico das portas do armário e escrivaninha, e os portas retratos pelos cantos do quarto, por mais que ele deixasse tudo bagunçado, seu quarto era bonito e aconchegante.
Sentei-me na cama esperando, enquanto Bruce trocava de roupa no banheiro. Olhei para o porta retrato com algumas fotos dele - como aquelas montagens que cabe de 4 à 8 fotos -, tinha uma dele com o time de futebol americano, com alguns amigos, com os pais, dele, com Cherry, e, a que mais me chamou atenção, ele tinha uma foto nossa, a mesma foto que eu tinha no meu armário da escola. Pego-a e encaro, por que ele tinha aquela foto num lugar tão visível?

- Lembra desse dia?- ele diz chamando minha atenção ao sair do banheiro e olhando para minha mão. Levei um leve susto ao ouvir sua voz em meio aquele silêncio do quarto.

- Você precisava mesmo derrubar meu sorvete na cabeça daquela senhora?- perguntei fazendo-o rir. Paramos por um tempo olhando um para o outro.

Ficamos em silêncio por um instante, coloquei a foto no lugar e me endireitei em sua cama, mas logo vi algo pingar na minha calça jeans. Droga, era sangue. Provavelmente estourou alguma coisa nesse nariz e agora eu parecia uma atriz de filme de terror quando descobre que vai morrer. Peço licença e vou para o seu banheiro, Bruce abre caminho com uma cara de desentido, mas se mantém quieto, apenas vindo atrás de mim. Corro e me debruço sob sua pia branca, começo a limpar o nariz com água e papel, posso ver Bruce através do espelho me olhando, com uma cara de preocupação e desentendimento.

- Por que deixa Holly fazer isso com você?- ele pergunta se referindo ao acontecimento de hoje mais cedo.

Sinto meu sangue ferver e vontade de dizer que a culpa era dele, vontade de explodir com ele e jogar tudo o que eu sentia na cara dele, mas eu simplesmente abaixei a cabeça e voltei a limpar o nariz.

Quando Bruce começou a namorar Holly, ela me odiava, o que já era de se esperar vindo de alguém tão paranóica como ela, mas quando ele terminou com ela, ela achou que foi minha culpa, e então começou a fazer isso comigo, como vingança, às vezes ela dizia que arruinaria minha vida, como arruinei a dela, mas o que me dá mais raiva, é que eu acredito no que ela fala, sendo que quem arruinou alguma vida aqui, foi ela, mas, ah qual é! Olhem para mim, eu sou tão estranha, não converso com ninguém, e não sou um ícone da moda ou uma modelo bonita, Holly é, ela é linda, perfeita, e às vezes, é mais fácil me culpar por tudo do que culpa-la.
Olho para Bruce novamente, mas agora virada para ele.

- Eu não sei...- isso foi a única coisa que consegui responder naquela momento.- só... aconteceu.- digo e passo por ele esbarrando um pouco em seu corpo, não intencionalmente.

Eu não tava afim de falar com ele sobre isso, pelo menos não naquela hora, porque sim, ele tinha culpa nisso, e eu não queria ter que jogar em sua cara o quanto ele partiu meu coração quando disse que Holly não queria mais que ele me vê-se.

Sim, eu guardava mágoa dele, ele nunca se esforçou por mim quando Holly estava entre nós, ele simplesmente à escolheu e é isso, eu era a melhor amiga dele e ela a namorada fútil porém adequada aos padrões de uma mãe que queria o melhor para o seu filho, achei que ele me escolheria, não ela, mas ele simplesmente aceitou, ele parou de sair comigo, com um tempo não respondia mais minhas mensagens, e na escola, passava reto quando ru acenava.
Sentamos na cama e começamos a abrir nossos lanches, ele serviu coca para mim em um copo do Jimmy Neutron, e então abriu o seu lanche. Bruce havia comprado três lanches para comer, eu sempre comia um pedaço de cada um dos quais ele comprava, ele costumava comprar de sabores diferentes e eu experimentava todos mesmo sem a permissão dele, apenas puxava sua mão e mordia um pedaço.
Estávamos quieto enquanto mastigavamos aquela invenção magnífica do ser humano, até que ele me olhou e hesitou um pouco antes de falar:

- V-você quer experimentar esse Big Tasty?- ele diz com uma voz incerta, como se não tivesse certeza de que seria o certo a se fazer.

- Não, obrigada.- digo sem muita animação e volto a comer meu lanche como se nada tivesse acontecido, e nada aconteceu de certa forma, ele só, provavelmente, relembrou do nosso passado.

- Tem certeza? Por que com certeza, esse lanche tá muito melhor do que o seu!- ele diz me fazendo segurar a risada. Uma das grandes qualidades de Bruce era, não importa a hora, o lugar, a pessoa ou a situação, Bruce sabia como tirar um sorriso de alguém, e eu amava isso nele.

- Tá, tá bom.- aproximo-me de seu lanche e mordo um pedaço, deliciando-me com aquela maravilha.

Naquele momento, só por alguns minutos, queria esquecer toda aquela briga estúpida com Bruce, na verdade, queria lembrar daquele nosso tempo antes de Holly, porque naquele instante, éramos apenas Bruce e Ely, éramos aquelas crianças de 8 anos.

- Realmente, está maravilhoso.- ele ri de mim que estava toda suja com o molho do lanche. A risada dele era a melhor coisa que eu sempre ouvi, era contagiante. Sorrio tentando me limpar e esquecer aquele constragimento.

Depois de alguns segundos, voltamos a ficar em silêncio e comer nossos lanches, quando ele já estava acabando seu segundo lanche, percebi que ele parecia um pouco agoniado, como se quisesse dizer algo, mas não sabia como, foi então que ele parou de comer e me olhou.

- Ely?- chama minha atenção.- V-você me culpa pelo o que aconteceu?- ele diz sério.

Bruce&Ely Where stories live. Discover now