7.

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O caminho todo de volta para casa, Brad não calava a boca, eu até pensei na possibilidade de joga-lo em qualquer bueiro próximo. Bruce e ele conversavam animadamente sobre alguns jogos ou algo em comum que tinham, pareciam até amigos. Às vezes eu até ria de algumas coisas que falavam, e isso fazia com que Bruce me olhasse e sorrisse junto.
Quando cheguei em casa, mandei Brad para o banho, enquanto preparava algo para comermos, Bruce sentou na mesa de frente para mim e ficou mexendo em celular. Em menos de meia hora depois, a comida já estava pronta, Bruce me ajudou a por à mesa e então, nós três nos sentamos para almoçar. O almoço todo conversamos sobre várias coisas, rimos e brincamos com a comida - o que não é uma coisa muita legal de se fazer, mas Brad quem começou. Brad subiu para o seu quarto e eu retirei as coisas da mesa, assim que comecei a lavar, Bruce se encostou na pia me olhando. Ele estava com os olhos fixos em mim, o que me assustava e me deixava incomodada, às vezes o olhava e dava risada e percebia que ele também, até que aquilo realmente me irritou um pouco e eu parei de lavar a louça.

- O que foi?- dou risada e o encaro. Ele então ri.

Mas é claro, Bruce sabia que eu odiava que me olhassem, eu ficava perdida e mais atrapalhada do que já era. Quando éramos crianças, Bruce fazia isso e eu o batia ficando irritada, e ele ria igual uma hiena.

- Só estava vendo se isso ainda funcionava.- continua rindo, deixando-me irritada, mas claro, eu ria junto à ele.

Depois de guardarmos tudo, decidimos começar a montar o robô com o que tínhamos achado pelas nossas garagem, pesquisávamos maneiras para movimenta-lo e tudo mais. Eu e Bruce segurávamos pinças e nos concentrávamos na colocação das peças de baixo para que não desabasse tudo e ter que começar desde o começo. Trabalhávamos em silêncio, falando apenas quando necessário, mas então, aquilo pareceu incomodar Bruce e ele disse algo depois de terminar sua parte nas pernas do robô.

- Me desculpa, Ely...- se afasta do robô e tira suas luvas. Me afasto um pouco para poder olha-lo. Eu não estava entendo nada.- Eu fui um idiota.- ele completa.- nunca devia ter escolhido Holly...

Eu congelei, parei na hora o que fazia, mas continuei na minha posição. Meu coração batia muito rápido, me perguntei até se ele podia ouvi-lo, minhas pernas, como sempre, estremeceram, minhas mãos começaram a soar e eu provavelmente estava com uma cara de espanto naquela hora. Bruce simplesmente me olhava, eu não sabia o que fazer, o que dizer, eu nem sabia se tinha ouvido certo todas aquelas coisas. Me endireitei na cadeira e tirei minhas luvas, o encarei, e assim fiquei. Pensei no que falar, apenas tudo bem seria uma mentira, não estava tudo bem, ou então um, tanto faz? não! claro que não, ou então virar e dizer que não aceito suas desculpas? mas isso não seria bom. Eu continuo ali, parada, calada e gritando por dentro.

- Ely, diz alguma coisa...- diz ele nervoso. Sabia que estava nervoso, porque sua perna esquerda balançava em alta velocidade, como se sairia correndo dali em alguma hora.

Olho bem dentro dos seus olhos, como se fossem me dar a resposta para tudo aquilo, mas a única coisa que eu consigo dizer é...

- Tudo bem...- exclamo nervosa e por impulso. Mas que merda foi essa, Ely?, repreendo-me na cabeça.

Bruce apenas ergueu uma de suas como sempre fazia quando estava confuso.

- Tudo bem, só... tudo bem?- ele continua com sua sobrancelha erguida.- nenhum xingamento? ou uma tentativa de me matar?- Bruce me conhecia o suficiente para saber, que eu nunca diria apenas um simples tudo bem para tudo aquilo, provavelmente eu jogaria algo na sua cara ou discutiria com ele até me cansar, mas por algum motivo, quando ele pediu perdão, pareceu que tudo o que aconteceu, foi em vão e que ficou para trás.

- Eu não sei bem o que te dizer...- faço uma careta, forçando-me a responder suas perguntas.- Tudo bem, eu te desculpo...- repito a frase, explicando-a.- mas acho que isso não significa nada.- dou uma risada sem graça apenas para fingir que tudo estava bem comigo. o que era mentira.

- O que quer dizer com "isso não significa nada"?- ele me encara com um pingo de decepção no olhar, ou talvez eu estivesse me deixando levar pelos seus olhos brilhantemente verdes.

- Quero dizer que... Não adianta virar minha dupla por acaso num trabalho estúpido de física, relembrar algumas coisas do nosso passado e me pedir perdão que vamos voltar a ser quem éramos à dois anos atrás, que vamos voltar a ser Bruce e Ely...- explodo, falando rápido e sem olhar para ele, apenas gesticulando e encarando o chão.

Bruce ergue a cabeça olhando para o teto, como se estivesse impaciente, algo que não era de seu feitio. Ele era o ser mais calmo que já conhecera. Ele então volta seus olhos para mim e mordo seu lábio inferior - quando fazia isso sabia que ele estava bem nervoso.

- Eu não esperava que voltássemos a ser Bruce e Ely, eu só esperava voltar a ser seu amigo...- ele diz calmo e devagar como se estivesse sendo massageado por uma mão de anjo em um spa.- mas se nem isso você quiser, tá tudo bem...- agora sua voz muda de tom.- podemos fazer esse trabalho de física estúpido e depois nunca mais nos falar mais, como estávamos fazendo.- concluí com uma certa ironia e nervoso em sua voz.

Bruce realmente parecia estar querendo tentar de novo, voltarmos a nos falar, mas aquilo era difícil para mim, principalmente agora, que o vi de outra maneira, eu não era mais a Ely inocente de 8 anos que virara amiga do sue vizinho e Bruce não era mais o esquisito que começou a conversar comigo, ele estava tão mais bonito e diferente, eu estava, bem, eu estava diferente também, mas não muito fisicamente, mas, agora, quando olho para ele, não consigo nos imaginar deitados na mesma cama, como fazíamos antes, em desejar que me abraçasse, ou que dormisse junto ao meu corpo ou que simplesmente me olhasse, não adiantava, quanto mais imaginava sobre eu e Bruce, mais desejava-o. Mas mesmo assim, eu penso que posso superar isso, toda essa paixonite de adolescente, posso superar e posso voltar a ser amiga dele, posso tentar, porque querendo não, eu sentia falta, e se eu tenho agora uma chance de poder ter pelo menos um dedinho mindinho dele, eu queria ter.
Bruce ainda mantinha seus olhos sobre mim, esperando uma resposta, ou qualquer coisa.

- Sinto sua falta...- apenas isso, só isso que consigo dizer quando finalmente crio coragem. Seus olhos agora não carregavam mais o ar de tristeza, agora brilhavam novamente como se uma chama o reacendesse. Eu sabia que Bruce não sentia nada por mim e nem tinha como, mas naquele momento, eu me senti feliz, feliz porque agora eu tinha meu melhor amigo de volta.

Bruce&Ely Where stories live. Discover now